Quem vive do comércio de madeira está preocupado com o futuro do mercado. Sem floresta, não há negócio. Com o objetivo de descobrir qual o estado atual das reservas mundiais, a Organização Internacional das Madeiras Tropicais (OIMT) – integrada por 59 países que representam mais de 90% do comércio mundial de madeira tropical – fez um levantamento sobre a prática da silvicultura em 33 dos seus países membros. Constatou um aumento nos últimos 18 anos de manejos sustentáveis, de procura por selos de certificação e de investimentos em plantações de árvores. Mas tudo em proporções muito pequenas para garantir a perpetuação da atividade econômica. Segundo o estudo, 95% das florestas tropicais continuam desprotegidas e o valor da mata em pé ainda é baixo.
“A extração ilegal de madeira, a madeira de plantação de baixo custo e as barreiras comerciais estão subvertendo os esforços para criar mercados legítimos que ofereçam um apoio aos produtores que desejam manejar as florestas naturais de forma responsável”, diz Manoel Sobral Filho, diretor executivo da OIMT. “É por isto que grandes áreas da floresta tropical estão sendo convertidas para o plantio de soja ou dendê”. Cerca de 12 milhões de hectares de matas tropicais são desmatados anualmente para dar lugar a atividades agropecuárias. E uma área ainda maior é destruída por extração ilegal e insustentável de madeira.
Pelo levantamento, a área de florestas tropicais manejadas de forma sustentável cresceu de menos de 1 milhão de hectares em 1988 para, no mínimo, 36 milhões de hectares em 2005. Mas isso representa apenas 5% de dois terços de todas as florestas tropicais naturais na Terra. “Hoje, já sabemos que uma área total de floresta tropical, aproximadamente igual à da Alemanha, se encontra em boas mãos”, declara Filho. “Contudo, está claro que a segurança da maioria das florestas tropicais ainda corre grande risco, o que demonstra uma falta de compreensão coletiva de que as florestas podem gerar um valor econômico considerável sem serem destruídas”.
Da teoria à prática
Este é o segundo estudo realizado pela OIMT para avaliar o uso e a proteção das florestas tropicais. O primeiro foi divulgado em 1988 e analisou uma área menor do que o de 2005, que analisou 814 milhões de hectares de florestas definidos pela organização como “propriedade florestal permanente”. Ou terras com cobertura florestal pertencentes a particulares ou a governos que desejam explorá-las de forma manejada ou transformá-las em áreas protegidas. A forma de exploração pode ser tanto corte de madeira, quanto extração de nozes, frutas ou plantas para fins farmacêuticos. O estudo também levou em consideração plantações de árvores, uma categoria que não foi considerada no primeiro trabalho devido a sua irrelevância na época.
“As florestas plantadas começam a ter um papel importante no suprimento de madeira tropical”, reconhece o estudo de 2005. “ Alguns países estão se tornando cada vez mais dependentes das florestas plantadas para suprir a demanda doméstica”. Segundo dados da FAO de 2001, na Ásia e no Pacífico já existem 38,3 milhões de hectares de matas plantadas. No Caribe e América Latina: 5,6 milhões de hectares.
O estudo da OIMT divide o mundo em blocos. O Brasil está incluído no da América Latina e Caribe que têm apenas 3,5% da sua produção madeireira proveniente de manejo sustentável. Apesar de existirem planos de manejo para 17% da produção regional e selos de certificação para outros 2%. O levantamento constatou que os países avaliados desenvolveram planos de manejo para 27% dos 353 milhões de hectares designados como florestas de produção – o que exclui matas protegidas para fins de conservação. Mas na prática, apenas 7% dessas florestas (cerca de 25 milhões de hectares) estão sendo manejados de forma adequada. Por exemplo, os países latinos dizem ter planos de manejo para 31 milhões de hectares, mas a OIMT comprovou que isso acontece somente em 6,5 milhões de hectares.
O levantamento sobre o estado das florestas tropicais levou quatro anos para ser feito e teve como base entrevistas, relatórios de outras organizações, pesquisas e dados enviados pelos próprios países investigados. Essa última parte chegou quase sempre bastante incompleta. Para a equipe responsável pelo trabalho, ficou nítido que os países sabem muito pouco sobre suas florestas. “Estimativas da área total de florestas – um dado básico – variava em até 230% de uma fonte para a outra” , diz o relatório final. “Aparentemente, também existe grande incerteza sobre as áreas que podem ser consideradas propriedade florestal permanente, quanto de floresta pode ser classificado como área protegida e até que ponto elas estão seguras”. O estudo também critica a falta de recursos para a fiscalização e lista como problemas a falta de funcionários treinados, de veículos, de equipamentos e de sistemas para o controle e a produção de relatórios sobre o manejo florestal. Inclusive no Brasil.
Por Carolina Elia,
O Eco, 25/05/06.