Método permite mapear grandes extensões de costões rochosos em tempo reduzido
2006-05-26
Uma costa com mais de 8 mil quilômetros (Km) de biodiversidade e apenas 1,5 km deles mapeados até hoje. A desproporção chamou a atenção do professor Flávio Berchez, do Instituto de Biologia (IB) da USP e o incentivou a criar um novo método que permite analisar áreas extensas num espaço de tempo reduzido. Em apenas dois anos e meio, o grupo coordenado pelo professor mapeou quatro quilômetros da costa do País.
"Pelo método tradicional, o mapeamento dos seres que vivem no costão é feito espécie por espécie, o que demanda muito tempo", conta. O novo método troca as espécies pelos povoamentos, identificando a presença apenas daquelas que são dominantes. Outra novidade é que na nova metodologia a coleta dos seres vivos é substituída por fotografias. "Um programa de computador que analisa as imagens permite a quantificação da área coberta pelas espécies dominantes", explica o pesquisador. Com poucas fotos é possível caracterizar extensões de até centenas de metros. "Essa maneira de identificar as comunidades viventes no costão é inédita mundialmente. Ela só existia para vegetação terrestre e urbana", conta.
O diferencial do método desenvolvido por Berchez vai além dos resultados quantitativos. "A costa litorânea abriga diversos organismos de importância econômica, como aqueles que podem ser usados na fabricação de medicamentos e na alimentação. Mas com o mapeamento por espécies só é possível saber que eles existem", aponta o professor. "A análise por povoamento permite saber não só onde, mas também em que quantidade".
No momento, estão sendo estudados a Enseada das Palmas (que fica em Ubatuba), o Ilhote do Baleeiro no Centro de Biologia Marinha - CEBIMar - da USP (em São Sebastião), a Ilha do Monte Pascoal (em Bertioga), as Ilhas do Guará e da Moela (no Guarujá) e a Ilha do Francês (no Espírito Santo). E o mapeamento trouxe informações novas sobre os seres que vivem nessas regiões. É o caso de um molusco exótico que foi trazido ao Brasil, possivelmente, por meio de navios.
Segundo o pesquisador, ele se instalou inicialmente no Rio Grande do Sul e dali se expandiu. "Os estudos mostraram que esse molusco está dominando quase toda a área de alguns costões do Guarujá e está presente na maioria das regiões analisadas". Berchez aponta o desalojamento de espécies de importância econômica (como os mexilhões) e o desequilíbrio ecossistêmico como complicações que podem surgir desse quadro.
A situação na Enseada das Palmas é mais animadora. Os estudos detectaram uma grande diversidade de povoamentos, o que mostra que o costão dessa região está em boas condições. "A presença de bancos de Sargassum sp, uma alga parda muito sensível à poluição, também é indicadora de uma situação positiva", aponta. "Mas, em Santos, essa alga não existe mais".
O grupo do professor Berchez também realiza o monitoramento de áreas de visitação no Parque Estadual de Ilha Anchieta e a análise dos impactos. Com os resultados, pretende-se propor soluções para a conservação da biodiversidade do local, como a visitação controlada.
O professor comenta que são poucos os grupos existentes no campo da Biologia que fazem esse mapeamento, mesmo usando espécies nas amostragens. "As possibilidades que esse método traz são muito importantes tendo em vista que é preciso conhecer mais a costa brasileira, seu real potencial e as áreas que precisam de maior acompanhamento. Antes que tudo seja destruído sem que sequer saibamos o que existia".
Por Aline Moraes, Agência USP, 25/05/06.
http://www.usp.br/agen/repgs/2006/pags/094.htm