Os caminhos são vários. Combustíveis fósseis, biomassa, água, sol e vento, além da sempre polêmica energia nuclear. Se existe certeza de que a civilização do petróleo está com os dias contados, a dúvida é como atravessar as próximas e complexas décadas de transição?
“A solução mais inteligente é a combinação de todas as fontes”, afirma Gilberto Jannuzzi. O professor associado em sistemas energéticos da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) participou de discussão sobre a questão energética no último domingo (21/5), em Águas de Lindóia (SP), durante a 29a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ). “Trata-se de um debate difícil e complexo. As decisões tomadas pelos países serão cruciais para o futuro”, afirma.
Se demorou 30 anos para que o Proálcool fosse reconhecido como um grande avanço científico e tecnológico, a expectativa dos cientistas reunidos no interior de São Paulo é que daqui para a frente a geração de energia a partir da biomassa seja motivo de atenção de todas as esferas governamentais – e também de toda a sociedade.
“Temos feito projetos de cooperação científica tanto com os Estados Unidos como com a Europa. É impressionante como eles respeitam o Brasil quando o assunto é combustível a partir de biomassa, principalmente por causa do álcool”, diz Miguel Dabdoub Paz, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, outro debatedor presente no encontro da SBQ.
Grande entusiasta do biodiesel, feito principalmente a partir da soja, Dabdoub Paz tem vários projetos com o setor industrial, nos quais os combustíveis desenvolvidos nos laboratórios das universidades são testados em tratores ou em veículos de passeio. “Estamos conseguindo resolver o problema do consumo nos dois casos”, afirma.
Como o biodiesel apresenta potência menor que o combustível derivado de petróleo, o consumo dos motores acaba sendo maior. Isso tem sido considerado um dos calcanhares-de-aquiles da nova alternativa. Os testes feitos por enquanto utilizaram compostos com 20% a 30% de biodiesel.
Além de achar que o biodiesel é apenas parte da solução e não a resolução de todos os problemas no Brasil e no mundo, Jannuzzi também tem certeza de que o problema energético não será resolvido apenas pelos governos. Segundo ele, é preciso criar uma nova cultura.
“A questão, caso seja analisada do ponto de vista ambiental, também precisa passar pela sociedade. Além disso, é preciso evitar o desperdício e reduzir a demanda de energia em todos os níveis”, afirma o pesquisador da Unicamp.
Por Eduardo Geraque,
Agência FAPESP