A soja é a matéria-prima mais viável para a utilização imediata na
produção de biodiesel. Segundo uma pesquisa realizada no Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, a estrutura
da produção, distribuição e esmagamento dos grãos torna seu uso
vantajoso. O estudo permitiu verificar que o preço do biodiesel com essa
matéria-prima comprada no mercado variou entre R$0,902 por litro, na
região Norte, e R$1,424, no Sul do Brasil.
A pesquisa estimou o preço do litro do combustível em cinco regiões do
País com a utilização da oleaginosa e também de girassol, mamona, dendê
e caroço de algodão, para unidades com produção de 34.800 litros por
ano. Segundo o pesquisador Mauro Osaki, da Esalq, no Nordeste a
matéria-prima mais barata para produção do combustível é o caroço de
algodão, que levaria a um custo de R$0,712 por litro.
"A oferta, porém, depende da demanda pela produção de fibras, de onde se
origina o resíduo de algodão usado na elaboração do biodiesel", explica
Osaki. "O preço da soja estava baixo também devido à queda da cotação no
mercado internacional e a desvalorização do dólar".
De acordo com o pesquisador, o óleo de girassol é o que tem mais
potencial para uso em biodiesel. "Comprando a matéria-prima, o litro do
combustível custaria R$0,859 no Sudeste e R$0,889 no Sul do Brasil", Na
região Centro-Oeste, que possui clima mais favorável, se o plantio fosse
incorporado à cadeia produtiva do biodiesel, o preço do litro seria de
R$1,034."
Alternativas
Osaki ressalta, porém, que o girassol precisará de um investimento a
longo prazo em pesquisa de sementes, tecnologia de plantio e logística
de distribuição para ampliar a escala de produção."O governo deve
investir em um plano de oferta de oleaginosas para evitar a dependência
de uma única fonte", explica. "No Centro-Oeste, por exemplo, seria
possível fazer a colheita da soja no verão e, do girassol, na
safrinha, gerando oferta de duas oleaginosas no primeiro semestre."
O pesquisador alerta que a mamona, planejada para ser fornecida por meio
de cultivos familiares no Nordeste, ainda possui um custo de produção
elevado. "A produção é barata, mas o cultivo na região ainda é em
pequena escala e com baixa produtividade, o que elevaria o preço do
litro de biodiesel para R$1,585", calcula.
Nos últimos cinco anos, a média de produção nordestina foi de cerca de
672 quilos de óleo por hectare, enquanto em São Paulo é de 1,7 tonelada
por hectare. "Os óleos de mamona, dendê e amendoim são considerados
nobres e vendidos mais para consumo humano, o que encarece seu valor de
mercado", relata Osaki.
O uso de amendoim no Sudeste do Brasil faria o litro do biodiesel custar
R$1,874 e a compra de mamona fora da cadeia de produção no Nordeste
levaria a um preço estimado de R$2,219 por litro. "Além de melhorar a
produtividade das matérias-primas existentes, é necessário pesquisar o
potencial de outras espécies, como o pinhão-manso nordestino." A
pesquisa, coordenada pelo professor da Esalq, Geraldo SantAna de
Camargo Barros, foi realizada em colaboração com o Pólo Nacional de
Biocombustíveis, sediado em Piracicaba, e a empresa Dedini Indústrias de
Base S/A.
Por Júlio Bernardes,
Agência USP, 24/05/06