Diversos agricultores e ativistas havaianos se uniram ontem (25/5) ao Greenpeace para realizar a descontaminação de uma lavoura orgânica de mamão papaia que havia sido contaminada por plantações transgênicas vizinhas. A área foi isolada com placas que diziam “Mamão transgênico – área restrita”, enquanto ativistas com roupas especiais removeram plantas, sementes e frutos do local. A atividade marcou o lançamento do relatório “
O fracasso do mamão transgênico no Havaí”.
De acordo com o relatório, os lucros do papaia transgênico diminuíram substancialmente devido à crescente e forte rejeição de mercados globais importantes. O mercado de exportação para o papaia havaiano estava bastante aquecido até a introdução da variedade transgênica, em 1998. A maior parte dos países que importam mamão papaia, incluindo União Européia, Japão e China, tem grande rejeição a alimentos transgênicos.
Além disso, os produtores orgânicos estão muito preocupados, já que o Havaí é a parte do mundo com mais plantios transgênicos por metro quadrado e é, atualmente, a única região a plantar mamão transgênico comercialmente.
“O preço do papaia orgânico no mercado pode ser até três vezes maior do que o da variedade geneticamente modificada, mas isso só acontece se não houver contaminação”, disse Melanie Bondera, agricultora havaiana. “A indústria transgênica nos prometeu grandes lucros, mas até agora só temos visto a ruína de nossas lavouras e uma diminuição de nossos ganhos”.
No Brasil, um campo experimental de papaia transgênico foi autorizado pelo IBAMA em outubro de 2003, no município de Cruz das Almas, na Bahia. A variedade, desenvolvida pela EMBRAPA, é bastante similar à plantada no Havaí e está gerando preocupação em diversos setores da sociedade. O deputado Edson Duarte (PV-BA) anunciou que vai fazer um requerimento formal à CTNBio sobre o andamento do campo experimental. O Greenpeace vai pedir que a procuradora Maria Soares Cordioli também solicite formalmente informações à CTNBio sobre o campo experimental e outros pedidos relativos ao mamão transgênico. Desde o último dia 18 de maio, o Ministério Público Federal determinou a presença da procuradora em todas as reuniões da CTNBio.
O Greenpeace vem trabalhando em diversas partes do mundo para evitar a disseminação ilegal de papaia transgênico e a contaminação de variedades tradicionais de mamão. Por se tratar de uma espécie que se multiplica muito facilmente, a preocupação é ainda maior, já que é muito difícil evitar a contaminação vinda de lavouras transgênicas vizinhas.
Atualmente, há um caso judicial na Tailândia contra a coordenadora da campanha do Greenpeace no Sudeste Asiático, Patwajee Srisuwan, e o ex-diretor-executivo da organização, Jiragorn Gajaseni, que estão sendo processados por roubo, invasão e dano à propriedade por terem acusado uma agência governamental tailandesa de participação na distribuição ilegal de papaia transgênico no país.
"O governo tailandês tentou suspender a atual moratória aos transgênicos, cedendo à pressão do governo norte-americano e da indústria agroquímica. No entanto, os tailandeses não querem os transgênicos aqui, porque não queremos perder nossos mercados, como aconteceu no Havaí”, afirmou Patwajee Srisuwan.
O papaia vem sendo plantado em regiões tropicais há séculos. O Brasil é o maior produtor mundial de papaia, e o terceiro maior exportador da fruta. A produção anual brasileira é de cerca de 1,7 milhão de toneladas, o que corresponde a cerca de 35% da produção mundial de mamão. Em 2004, as exportações de papaia renderam US$ 22 milhões ao Brasil, e as estimativas para 2005 eram de que esse valor subisse para US$ 28 milhões. Internamente, o mamão também é muito importante: é a terceira fruta mais consumida pelos brasileiros.
As pessoas podem participar da campanha contra o mamão papaia transgênico pela cyberação:
www.greenpeace.org.br/ciberativismo/transgenicos
Leia a íntegra do relatório ”O fracasso do mamão transgênico no Havaí” no endereço:
http://www.greenpeace.org.br/transgenicos/pdf/papaia.pdf
Por Gabriela Michelotti, Greenpeace, 25/05