Orla da baía Sul de Florianópolis está degradada
2006-05-25
A orla do aterro da baía Sul entre as cabeceiras das pontes Pedro Ivo Campos e Colombo Salles até a Passarela do Samba Nego Quirido está abandonada e servindo de depósito de lixo. O local apresenta uma série de outros problemas que podem ser constatados numa rápida visita. O abandono atinge também as áreas próximas às cabeceiras continentais das pontes. No trecho ilhéu ainda há pelo menos duas famílias que residem em edificações erguidas com a justificativa de guarda de patrimônios de empresas.
"Gastaram uma fortuna nesse aterro com o projeto de Burle Marx, um dos maiores paisagistas do mundo, e agora deixam a área na situação em que se encontra", lamentou a historiadora Sara Regina Poyares dos Reis. "Tudo isso reflete a falta de planejamento numa cidade turística e que tem na orla marinha a sua parte mais interessante", avaliou a representante da diretoria da seccional de Santa Catarina do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-SC), a arquiteta Cristina Piazza.
A rigor, a cidade sofreu um retrocesso. Oswaldo Rodrigues Cabral, no livro "Nossa Senhora do Desterro", relata as péssimas condições de higiene na região central da cidade, descrevendo em detalhes os lançamentos de esgotos sem tratamento e todo tipo de lixos no mar. Na atual avenida Beira-mar Norte, por exemplo, todas as casas tinhas seus fundos para a baía, facilitando o descarte dos dejetos e objetos indesejáveis.
Mais recentemente, houve uma mudança nesse costume, quando as edificações passaram a ser erguidas de frente para o mar, refletindo uma nova visão da orla. Mas na região do aterro da baía Sul as práticas abandonadas a partir dos anos 1950 estão de volta com muita força: grandes estruturas como a Estação de Tratamento de Esgoto e o Centro Sul estão de costas para a orla, assim como a Passarela Nego Quirido.
Além disso, a antiga Escolinha de Trânsito, mantida pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SC), está abandonada e o mato começa a cobrir os equipamentos instalados no local. O prédio da Federação Catarinense de Remo, junto à cabeceira insular da ponte Pedro Ivo Campos, está repleta de rachaduras, o que inviabiliza a utilização adequada do imóvel.
"A construção da estação de esgotos naquele local foi inadequada, logo na entrada da cidade", salientou a arquiteta Cristina. A unidade é responsável pelo lançamento de odores que em dias de vento sul chegam até o terminal Rita Maria e outras áreas do aterro da baía Sul e do Centro Histórico da Capital. "Antigamente, a Câmara de Vereadores contava com uma vala que ia até o mar levando os esgotos ali produzidos", lembrou a historiadora Sara Regina, costume que foi abandonado no início do século 20.
Ou seja, apesar de todos os avanços nas relações dos moradores com o mar, que passou de local de despejos para área de lazer, transporte e esportes náuticos, algumas práticas não foram abandonadas. Isso dificulta o uso daquela região para qualquer outro fim devido não só às condições de higiene, como às dificuldades de acesso pela presença de cercas e cancelas.
Por Celso Martins, A Notícia, 25/05/06.
http://portal.an.uol.com.br/ancapital/2006/mai/25/1ger.jsp