A discussão sobre antenas de celular está de volta a Porto Alegre. O assunto esteve na pauta da cidade até 2002, quando foi aprovada a lei municipal, e em abril de 2005, quando expirou o prazo para que as operadoras se adequassem à legislação. Como algumas empresas não aceitaram a determinação do Município, a Prefeitura teve que autuá-las e recorrer à Justiça – 85 ERBs ainda estão irregulares.
A disputa entre poder público e operadoras corria sem grande alarde até que a Justiça determinou o desligamento de sete Estações de Rádio-Base, que estavam irregulares. O fato trouxe mais uma vez o assunto à opinião pública. A Associação Nacional das Operadoras de Celular (ACEL) publicou anúncio na imprensa alertando para possíveis prejuízos ao funcionamento dos aparelhos. A Secretaria do Meio Ambiente (Smam), que fiscaliza as ERBs, reagiu, justificando que estava apenas cumprindo a lei. O assunto também chegou à Câmara de Vereadores, que, em audiência, ouviu queixas de moradores que suspeitam de males à saúde causados por antenas de celular irregulares.
Nesta terça-feira 23 de maio, houve mais um evento. A ACEL reuniu jornalistas para o encontro "Antenas: mitos e verdades". A instituição trouxe a Porto Alegre os professores Gláucio Lima Siqueira (PUCRJ) e Renato Sabattini (Unicamp), que palestraram no Hotel Sheraton. Os dois classificaram de mito urbano a tese de que a irradiação eletromagnética emitida pelas ERBs causa danos à saúde da população. Ambos também criticaram a lei de Porto Alegre que estabelece distância mínima de 500 metros entre duas antenas e de 50 metros entre ERBs e escolas, hospitais.
Palestra reuniu jornalistas no Hotel Sheraton
Doutor em Telecomunicações, o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da PUCRJ, Gláucio Lima Siqueira afirmou que as antenas têm que transmitir com pouca energia para poder funcionar e que se a irradiação das ondas eletromagnéticas emitida pelas ERBs fizesse mesmo mal à saúde, “estaríamos todos mortos“. O especialista falou ainda de interpretações maldosas para provocar pânico e alarme na população. E classificou a lei de Porto Alegre de ilógica. “Tenho que combater esse tipo de ignorância, que está prejudicando a população”, disse o cientista.
O diretor do Núcleo de Informática Biomédica da Unicamp, professor Renato Sabattini, que tem pós-doutorado em Neurofisiologia de Comportamento, concordou que a lei municipal “é baseada na ignorância”. Ele argumenta que “98% dos trabalhos mostra que não existe efeito na saúde”, lembrando que não há um caso de morte relacionado à antena de celular. O médico atribuiu o temor da população ao desconhecimento, observando que o celular não gera tanta preocupação, apesar de emitir uma irradiação maior, pela proximidade com o corpo. “Ainda assim, é mínima, está muito abaixo do que é exigido pelas normas internacionais”.
Sabattini afirmou também que nenhum dos 1.700 estudos da Organização Mundial de Saúde evidenciou que o celular ou antenas causam doenças. Mas observou que, por precaução, a OMS sugere que o nível de exposição de idosos, crianças seja menor, recomendando ainda o uso de equipamentos de viva-voz e fones de ouvido.
Por Guilherme Kolling,
Jornal Já, 24/05
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