Sobre uma camada espessa de lixo, alguns urubus repousam em bando. A poucos
metros, outro sobrevoa o corpo de uma ovelha morta. A cena vergonhosa não foi
flagrada em algum lixão remoto, mas às margens do Guaíba, nas proximidades do
centro da Capital, e à vista da população.
O acúmulo de detritos como sapatos, chinelos, garrafas e material plástico à
beira do Guaíba - uma cena que se repete com freqüência em Porto Alegre - foi
registrada ontem (24/05) com contornos ainda mais sombrios. Favorecidas pela
irresponsabilidade da população que lança seus restos às águas e pela
incapacidade do poder público em remover o lixo rapidamente, as aves
encontraram no local um ambiente propício para a procura de carcaças perto do
Anfiteatro Pôr-do-Sol.
Nos últimos anos, a região próxima ao encontro com o Arroio Dilúvio vem se
caracterizando pela presença de tapetes de lixo. Em setembro passado, por
exemplo, um mutirão retirou seis toneladas de material sólido das margens.
Parte dos resíduos é jogada pelos porto-alegrenses no Dilúvio e escoa através
dele. Outra parcela fica dispersa pelo Guaíba e, quando o vento sul acompanha a
chegada do frio, acaba empurrada com mais facilidade para as margens.
Contraponto
O que diz Geraldo Felippe, supervisor operacional do Departamento Municipal de
Limpeza Urbana (DMLU)
Diariamente, temos 12 trabalhadores contratados para limpar a orla de toda a
cidade. Às quintas-feiras, temos 15 funcionários para essa área. O que ocorre é
que, no inverno, há mais chuva e vento sul, o que ajuda a represar o Guaíba e
faz com que ele encha mais e leve mais sujeira para a orla. Muita coisa vem
pelo Dilúvio. Há um programa da Secretaria Municipal do Meio Ambiente buscando
tratar o arroio. Esse acúmulo é ruim porque o lixo fica exposto, mas, pelo
menos, nos permite limpar o excesso de sujeira do Guaíba. Não temos previsão de
tornar a limpeza mais freqüente.
ZH, 25/05/06