Mananciais de Belém correm perigo com poluição
2006-05-25
A 50 metros do final da rua Euclides da Cunha, no Castanheira, uma trilha na Área de Proteção Ambiental do manancial do Utinga conduz a um dos pontos de poluição dos lagos Bolonha e Água Preta, responsáveis por 65% da água que abastece a Região Metropolitana de Belém: um riacho espumante e fétido despeja dejetos de residências e empresas nos mananciais. A maior parte da poluição é produto de esgotos sanitários dos bairros de Castanheira, Guanabara, Águas Lindas e outros. A solução, segundo os ativistas do Centro de Estudos e Práticas de Educação Popular (Cepepo), é a conclusão do Programa de Ação Social em Saneamento (Prosege), iniciado há 10 anos, interrompido e agora retomado pela Cosanpa, que promete concluí-lo ainda no segundo semestre deste ano.
No Jardim Tropical, quilômetro 3 da BR 316, há um outro ponto de poluição de fácil acesso. Ao final de uma trilha, um canal de água escura escorre para o lago Água Preta, próximo ao qual o riacho se abre e revela uma outra característica bem visível naquela região: a obstrução - por sedimentos ou outros detritos - que reduz a profundidade e a largura dos lagos e compromete a capacidade de armazenamento de água.
Em Águas Lindas, Ananindeua, o entorno do lago Água Preta revela uma paisagem que seria paradisíaca não fosse a poluição que avança freneticamente, apesar da proteção ambiental legal que cerca aquela região. O muro de 17 quilômetros que circunda a Área de Proteção Ambiental não tem sido suficiente para manter a salvaguarda exigida àquela região, isso mesmo depois que a Cosanpa, responsável pelo Prosege, remanejou a maior parte das famílias que ocuparavam a área.
Para assegurar a proteção dos mananciais, a mobilização popular dos que vivem à proximidades dos lagos resultou na criação de Organizações Não-Governamentais (ONGs), cujo objetivo é zelar pela proteção ambiental da região dos lagos. Uma delas é o Cepepo, empenhado na conscientização ambiental e na mobilização social para cobrar do Poder Público pressa na adoção das medidas urgentes à resolução dos problemas que colocam os mananciais de Belém sob risco. José Oeiras, coordenador do Cepepo, lembra que os lagos Bolonha e Água Preta são as principais fontes de abastecimento de água para a Região Metropolitana de Belém, representando, respectivamente, cerca de 2 bilhões e 10 bilhões de litros de água.
Falta de esgoto
Oeiras cita dados do Sistema Nacional de Informação de Saneamento Básico, de 2003, para informar que a Cosanpa gastou R$ 63 milhões no tratamento dos lagos, para que a água ficasse própria ao consumo, recursos que poderiam ser economizados e investidos em outras áreas caso houvesse um cuidado maior em se evitar a poluição dos mananciais. “Este problema não é fruto apenas de o Prosege estar parado, mas é a falta de esgoto sanitário nas áreas que se expandiram em Belém e Ananindeua. As casas e empresas da BR-316 não têm outra opção senão direcionar os detritos para os lagos”, constata, ao ressalvar que muito pouco da poluição dos mananciais pode ser atribuído às famílias do entorno. “As famílias acabam poluindo, mas é muito pouco em relação aos dentritos que chegam de centenas de casas e empresas ao redor. Além disso muitas famílias têm consciência ambiental e se dedicam à preservação da natureza”, garante ele.
O Liberal-PA, 24/05/06.
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