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2006-05-25
O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) prepara o primeiro plano de emergência alimentar na história do Nepal para enfrentar a grave seca que afeta a região montanhosa, no noroeste do país. Este plano de três meses, que seguramente será aprovado esta semana na sede do PMA em Roma, prevê o envio de 3.800 toneladas de arroz e farinha para a região que serão transportados por caminhões, mulas ou outro meio de transporte, informou á IPS o diretor do programa na Nepal, Jean-Pierre de Margerie.

“Estamos tentando tomar alimento emprestado de outros projetos para realizar um primeiro envio em meados de junho”, disse Margerie à IPS em entrevista concedida domingo em Katmandu, pouco antes de o PMA celebrar seu programa de coleta de fundos “Marcha contra a fome” . “Acreditamos que se tivermos dinheiro poderemos atender a todos”, acrescentou, informando que poderia haver uma reunião de doadores na capital nepalesa uma vez aprovado o plano.

Dez dos 75 distritos do Nepal estão afetados pela seca, que ocorre depois do inverno mais seco já registrado até o momento em uma das regiões mais pobres do país. No começo deste mês, o PMA revelou que 47% dos nepaleses não tinham alimento suficiente para levar uma vida ativa e saudável. Aproximadamente a metade da população infantil sofre desnutrição. Enquanto a pobreza nacional é estimada em 31%, na zona de Karnali e seus distritos afetados chega a 45%, segundo Margerie.

Normalmente, existe um “intervalo de fome” em Karnali quando acaba a reserva de alimentos com o pouco dinheiro que conseguem como jornaleiros ou graças às remessas enviadas por parentes que emigraram em busca de trabalho. Mas esta seca significa que este ano o intervalo se prolongará até a colheita de agosto e setembro. Setenta comitês locais de desenvolvimento, pertencentes aos 10 distritos afetados, foram “seriamente atingidos” com perdas entre 75% e 100% de suas colheitas, informou o representante do PMA com base em avaliações de campo feitas pela agência. “As pessoas começam a recorrer a mecanismos de contenção prejudiciais. Estão começando a diminuir o número de refeições diárias ou a quantidade de cada uma”, e vendendo gado, ferramentas ou, inclusive, emigrando.

“Muitas pessoas já esgotaram suas reservas de alimentos e sobrevivem comendo ervas e raízes”, disse ao jornal Nepali Times o legislador do distrito de Mugu, Chandra B. Shahi. Durante os meses de fevereiro e março a organização não-governamental francesa Action contre la Faim (Ação contra a Fome) visitou os distritos de Mugu e o vizinho Humla para avaliar a situação sanitária geral e especialmente a das crianças. “Pode-se concluir que a grave desnutrição registrada nos 10 comitês locais de desenvolvimento analisados é mais alarmante do que o esperado, e é um assunto que deve ser manejado em termos de tratamento e também de prevenção”, diz o informe desta organização francesa.

Esta ONG também revelou que as crianças com menos de 30 meses têm 5,5 vezes mais possibilidades de sofrer desnutrição do que as que estão na faixa entre 30 e 59 meses de idade. Além disso, 20,8% das mulheres sofreram cegueira noturna durante a última gravidez, por causa de uma deficiência de vitamina A. A seca e o prolongamento do intervalo de fome poderiam ter afetado estes resultados, conclui o informe. “Porém as causas da desnutrição obedecem a múltiplos fatores, e a situação alimentar também está ligada à falta de alimentos diversificados, com a escassez de práticas de higiene, falta de educação das mulheres e a pouca disponibilidade de centros de saúde públicos”.

Esta remota região, onde muitos aldeões devem caminhar cinco dias para chegar até à administração do distrito, foi amplamente ignorada por Katmandu. Este abandono se agravou por causa do conflito de uma década entre governo e rebeldes maoístas, o que, entre outras coisas afastou muitos trabalhadores locais da saúde de seus distantes postos de trabalho. Para reverter o impacto desta indiferença, a ONG francesa recomenda quatro grandes ações. Melhorar as condições de salubridade, através de um maior acesso à água potável, construção de sistemas de irrigação e melhorias nas práticas higiênicas.

Em seguida, aumentar a quantidade de alimento disponível e ajudar as pessoas a diversificarem sua dieta. Uma terceira etapa é promover e apoiar o consumo de suplementos de ferro e ácido fólico e a distribuição de medicamentos contra parasitas, para reduzir a anemia, e, por último, promover o uso de sal iodado, recomenda a Action contre la Faim. Margerie informou que o plano de emergência do PMA incluiria farinha de trigo enriquecida para as famílias com crianças menores de 2 anos, mulheres grávidas e amamentando. Além disso, também seria distribuído arroz, do qual se beneficiarão do começo ao final do programa de intercâmbio de alimento por trabalho, de 20 dias de duração.

O PMA não quer distribuir arroz sem que seja dado nada em troca, pois isso prejudicaria os programas existentes através dos quais se fornece alimento em troca de trabalho, como, por exemplo, na construção de caminhos, que é uma forma de contribuir para o desenvolvimento do país, acrescentou Margerie. “Consideramos que este é um investimento de curto prazo. Acreditamos que não afetará as atividades de desenvolvimento a longo prazo”, concluiu.
Por Por Marty Logan
(Envolverde, 24/05/06)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=17696

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