Estimativas atuais para aquecimento global podem ser até 75% mais baixa do que a realidade
emissões de co2
2006-05-24
As temperaturas globais devem aumentar mais no futuro do que mostravam estudos anteriores, segundo uma nova
pesquisa de cientistas europeus e americanos, a ser publicada pela revista especializada Geophysical Research
Letters. Tanto os europeus como os americanos concluíram que as estimativas atuais do aquecimento no futuro podem
ser até 75% mais baixas do que a realidade. Os cientistas dizem que as estimativas correntes não levam em conta o
aumento da emissão de gases causadores do efeito estufa em determinados ecossistemas, por causa do aumento de
temperaturas.
O estudo contesta o consenso adotado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em
inglês), o órgão global que coleta e analisa a ciência do clima. Sensibilidade climática - O IPCC prevê que a
temperatura média global deve aumentar entre 1,5 º C e 4,5 º C, se as atividades humanas duplicarem as emissões de
dióxido de carbono na atmosfera.
Esta previsão, conhecida como da sensibilidade climática, é resultado de uma combinação de dois fatores: o impacto
direto do aumento das emissões de CO2 no efeito estufa, e vários mecanismos de retroalimentação que aumentam o
ritmo do aquecimento, como a parcela da luz do Sol que incide na a Terra e é refletida de volta ao espaço. Esse índice
é afetado pelo derretimento de geleiras, por exemplo.
Essa nova pesquisa acrescenta um terceiro componente, calculando a provável contribuição do dióxido de carbono
liberado de ecossistemas naturais, como o solo, com o aumento das temperaturas. Somada ao CO2 produzido pelas
atividades humanas, esta liberação aumentaria ainda mais a temperatura. Para calcular este "aquecimento extra", os
dois grupos de cientistas analisaram dados históricos do clima da Terra. Regularmente, períodos de temperaturas
relativamente altas produziram aumento de concentração de CO2 na atmosfera, que caiu depois, com a diminuição das
temperaturas.
A teoria é que, com esses momentos de aquecimento, ecossistemas como o solo, as florestas e os oceanos retenham
menos CO2. Como a superfície da Terra está se aquecendo de novo, o processo pode se repetir, com temperaturas
mais altas voltando a causar uma emissão maior de dióxido de carbono na atmosfera pelos ecossistemas, que se
somaria ao gás produzido por atividades humanas, nas casas, fábricas e veículos.
História
Para calcular a relação entre o aumento da temperatura e a emissão dos gases, os cientistas americanos examinaram
um período de 400 mil anos, analisando dados da geleira de Vostok, na Antártida. Os europeus, por sua vez,
analisaram um período bem menor, a "Curta Era do Gelo", em meados do milênio passado, quando o hemisfério norte
passou por temperaturas relativamente baixas. "Um grupo analisou períodos longos, com períodos glaciais e
interglaciais, para entender esta relação entre o clima e o carbono", explicou John Harte, da Universidade da Califórnia,
em Berkeley. "Os europeus analisaram um período muito mais moderno, e também usaram métodos de análise
diferentes", disse ele.
O grupo europeu calcula que o aumento das temperaturas no futuro foram subestimadas e elas podem chegar a ser
entre 15% e 78% mais altas. A equipe americana apresentou o resultado de modo diferente, fornecendo uma
sensibilidade climática entre 1,6 ºC e 6,0 ºC. "Nós não encontramos respostas muito diferentes", disse o professor
Harte. "E o estudo de períodos diferentes ajuda bastante, porque agora sabemos que os resultados são mais
confiáveis."
uestões futuras
As duas equipes de cientistas, no entanto, admitem que o trabalho não é tão preciso quanto eles gostariam e que
ainda há incertezas. Uma questão em particular é se o passado reflete o futuro de modo preciso. Será que, por
exemplo, as florestas e o solo se comportam hoje, em uma era de vasto desflorestamento e amplo uso de fertilizantes,
do mesmo modo que se comportavam há 100 mil anos, ou mesmo há mil anos?
Isso ainda não foi provado; e céticos em relação a mudanças climáticas vão, sem dúvida, usar isso como evidência de
que a nova pesquisa contém falhas, mas eles deverão admitir que ela é baseada em dados reais, e não nos modelos de
computador, normalmente criticados. Os pesquisadores contra-argumentam que ainda não encontraram razões para
acreditar que o processo de retroalimentação dos ecossistemas seja diferente no futuro. E mesmo que haja diferenças,
dizem eles, a retroalimentação pode tanto ser mais fraca quanto mais intensa.
"Na verdade, fomos conservadores em vários pontos", disse Marten Scheffer, da Universidade de Wageningen, da
Holanda, o líder dos pesquisadores europeus. "Por exemplo, não levamos em consideração a influência do metano no
efeito estufa, que também aumenta em períodos mais quentes." Atualmente, o IPCC está revendo seu último grande
estudo, o Quarto Relatório de Avaliação, que será liberado em 2007. O primeiro rascunho, ao qual a BBC teve acesso,
sugere que as projeções de aumento de temperaturas em até 5,8ºC não mudaram muito desde o último relatório, em
2001.
(BBC Brasil, 23/05/06)
http://www.ambientebrasil.com.br/rss/ler.php?id=24804