Ácido peracético, ozônio e processo combinado mostram-se eficazes no tratamento de esgoto
2006-05-24
Experimentos realizados na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da
USP comprovaram que a utilização de ozônio, ácido peracético, ou um
processo combinado envolvendo ozônio e cloro, podem ser alternativas ao
uso do cloro na desinfecção de água para consumo humano. Segundo as
pesquisas, essas substâncias têm, em maior ou menor escala, poder de
oxidação e inativação de bactérias, protozoários e vírus, e são
apropriadas para tratamentos com essa finalidade.
Segundo a engenheira Jeanette Beber de Souza, o uso de cloro na
desinfecção da água é muito comum no Brasil. "Desde a década de 70,
estudos internacionais mostram que o cloro em contato com águas que
contém certos tipos de matéria orgânica pode produzir subprodutos com
potencial cancerígeno", alerta a pesquisadora, que testou os três
desinfetantes em sua pesquisa de doutorado. "Na Europa o ozônio é muito
utilizado. No Brasil ainda não é viável devido aos altos custos, entre
outros fatores", informa.
Para analisar a eficácia dos diferentes desinfetantes, Jeanette
"preparou" uma água em condições especiais. "Tratamos a água para
retirar previamente todos os possíveis microorganismos. Assim, podíamos
acrescentar na quantidade desejada aqueles que seriam usados para os
testes e termos controle sobre o experimento", explica. Foram usados nos
testes a bactéria Escherichia coli, o vírus colifagos e a bactéria
esporulada, indicadora de protozoários Clostridium perfringens.
Os microrganismos foram cultivados em um meio de cultura (material
nutritivo no qual eles se multiplicam) e adicionados à água ao mesmo
tempo. Esse procedimento permite verificar a atuação de cada produto num
ambiente com microrganismos de diferente natureza.
Resultados eficientes
Jeanette conta que o cloro agiu melhor sobre vírus e bactérias, o ozônio
foi mais eficaz contra os vírus e o processo combinado mostrou maior
eficiência contra protozoários. O ácido peracético foi bastante efetivo
contra os três tipos de organismos.
"Os resultados apresentados pelo ácido peracético são bastante
interessantes, pois ele não é comumente usado no tratamento de água para
consumo humano", informa a pesquisadora. "Até hoje, o produto é
praticamente destinado apenas ao tratamento de efluentes e nas
indústrias farmacêutica, médica e alimentícia." Uma das vantagens que
ela atribuiu ao ácido é que ele não reagiu com a matéria orgânica
presente no meio de cultura, como o cloro. O fato de atuar primeiramente
nos microorganismos propiciou maior potencial de inativação.
O processo combinado, segundo a pesquisadora, além de inovador pode ter
seu uso viável a curto ou médio prazo. "Primeiramente, o ozônio é
adicionado à água porque não produz trihalomethanos (substâncias com
potencial cancerígeno), ao contrário do que acontece com a adição de
cloro", relata Jeanette. Depois de realizada a inativação dos
microorganismos, adiciona-se uma pequena quantidade de cloro para
garantir a segurança no transporte da água desde a Estação de Tratamento
até o consumidor final. Isso é feito porque, ao final da desinfecção,
não restam partículas de ozônio que possam combater eventuais
contaminações. "Apenas o cloro é capaz de deixar os resíduos necessários
para essa segurança", justifica a pesquisadora.(Agencia USP, 23/5)