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2006-05-23
Do lixo ao luxo, literalmente. O que não tem mais utilidade e, constantemente, é descartado no meio ambiente é bem-vindo para os 23 jovens do projeto Reflorir e para as 30 mamães que integram o Amor-Perfeito, programas desenvolvidos pela Horta Comunitária Joanna de Ângelis, no bairro Rondônia. Em meio à crise no setor, a partir do lixo industrial produzido por quatro empresas do setor coureiro-calçadista de Novo Hamburgo, eles desenvolvem artesanato em couro e produzem modelos exclusivos de bolsas, com predominância do colorido, detalhes em crochê, e, já que o clima é de Copa do Mundo, também não faltam os tons em verde-e-amarelo. Além de preservar a natureza, a iniciativa estimula a autonomia e a possibilidade de geração de renda. O pré-lançamento da grife ocorreu sábado (20/05), no Ginásio dos Cabos e Soldados da Brigada Militar, bairro Rondônia. A partir de agora, as peças podem ser comercializadas.

“O saber não ocupa lugar e ajuda as pessoas a sentirem-se mais úteis”, pontua a aluna Erna Zambelli, 47 anos. Há três anos em atuação da Horta Comunitária, ela participa do curso de artesanato em couro para complementar a renda familiar. “Acho uma bela iniciativa transformar o couro em um produto de valor e ainda ajudar o meio ambiente”, enfatiza. A colega Irai Hélia da Silva Apolo, 65, atua no curso, quando recém foi lançado, em setembro 2005. No início, foi mais uma participação. Atualmente, representa uma chance de geração de renda. “Quem não precisa de dinheiro hoje em dia? Agora, estamos de olho na comercialização dos nossos produtos”, diz. Erna ainda complementa: “Aqui aprendemos umas com as outras, no artesanato e para a vida”.

Desde o surgimento da Horta Comunitária — há 15 anos —, o artesanato da instituição não tinha identidade própria, conforme a presidente da instituição Laura Pruch. Com a contratação da técnica em couro Lorena Celi Rosa Pereira, 49, e uma parceria com o Centro Design do Centro Universitário Feevale, que assessora na criação dos modelos, o artesanato passou a ter como base o reaproveitamento. Apesar dos retalhos serem originários do lixo industrial, há todo um critério de seleção. “Temos que manter a nossa qualidade. Geralmente, utilizamos o material que saiu de linha ou que a produção esgotou”, ressalta Laura.

PEÇAS - Na coleção, são diversos os modelos modernos, desde baguetes até mochilas. Todas as peças são de couro, produzidas manualmente e sem a utilização de cola e de máquinas de costura. Até mesmo o forro é colado com fita dupla-face. Mesmo com a assessoria da Feevale, os modelos são criados pelos próprios alunos da horta. Geralmente, os jovens confeccionam bolsas menores e as mamães trabalham em modelos que exigem mais habilidade e destreza. Além das aulas, todos podem retirar os retalhos, levar para a casa e devolver as peças prontas. A partir de agora, haverá uma divulgação em lojas do Município para a comercialização dos acessórios. Laura reitera que a proposta do projeto não é uma produção em massa. “Buscamos a educação a partir da conscientização, o que mostra que é possível transformar o lixo em luxo com qualidade.” Ela lembra que os recursos obtidos com a venda das bolsas serão revertidos para os programas. A partir das novas produções, a verba será divida entre os alunos.
(Jornal NH, 22/05/06)
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