A análise das queimadas feita pelo americano Douglas Morton reforça uma idéia que é cada vez menos polêmica no debate sobre a Amazônia: o avanço da agricultura mecanizada - leia-se soja - para dentro das florestas de Mato Grosso e Rondônia nos últimos cinco anos mudou o perfil da conversão da floresta, reduzindo o tempo entre a derrubada e a instalação de lavouras.
Esse tempo era de seis anos em média antes da mecanização e capitalização intensiva da agricultura que chegou com a soja. Caiu para três, segundo um estudo de 2004 encomendado pelo Fórum Brasileiro das ONGs. Queimou-se também, em muitas regiões, uma etapa usual na fronteira agrícola, que era o plantio de capim para criação de gado após o desmate.
"Podemos ver com o satélite a duração da conversão", diz Morton. "Dá até para ver as leiras", continua, referindo-se às pilhas lineares de vegetação feitas após a derrubada para facilitar a limpeza do terreno.
Essa mudança tem implicações diretas -e desagradáveis- para as emissões brasileiras de gás carbônico (CO2, o maior vilão do efeito estufa). A devastação da Amazônia lança todo ano 200 milhões de toneladas do gás na atmosfera.
Antes da mecanização, a floresta derrubada podia passar até 20 anos se decompondo, liberando lentamente o carbono estocado em forma de matéria vegetal. Parte dessa perda era compensada por rebrota.
Como culturas mecanizadas precisam da terra totalmente limpa, o carbono é emitido todo de uma vez. "Estou falando de quatro anos no máximo de redução completa da biomassa", diz Morton.
Por Claudio Ângelo, Folha Online, 22/05/06.
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