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2006-05-23
Na fachada ou na parte interna, tudo parece bastante convencional na casa da família Sobanski, localizada em Sorocaba, no interior de São Paulo. Há um amplo gramado, paredes de tijolos e um telhado sustentado por grandes vigas de madeira. Um observador mais atento notaria que o projeto arquitetônico é extremamente caprichado - nada além disso. Mas, como diz o velho ditado, as aparências enganam.

O imóvel foi construído para ser ecologicamente correto. Vários dos materiais empregados na obra foram fabricados sem causar devastação ou sem utilizar produtos químicos tóxicos. Protegida por uma resina de mamona, a madeira da estrutura, por exemplo, conta com certificação de origem. Já os tijolos, de solo-cimento, passaram por uma compactação com 12 mil quilos de pressão. O processo dispensa o uso de calor e, conseqüentemente, evita a queima de árvores. Alguns móveis são de material reciclado.

E não é só isso. Paredes inteiras de vidro aproveitam a iluminação natural e janelas estratégicas deixam o vento passar. Garante-se, assim, menor consumo de energia e o chamado conforto-térmico - o interior do lugar não esquenta demais no verão, nem esfria muito no inverno. "Quando uma pessoa constrói uma casa, não pensa nesses aspectos", observa a moradora Maria Cecília Bugan Sobanski. "Depois, reclama que a casa é úmida, que é muito quente..."

No telhado, um sistema de calhas recolhe água da chuva e abastece uma cisterna, reservatório que fica enterrado na parte dos fundos. Em vez de ir para uma fossa séptica, todo o esgoto passa por uma mini-estação de tratamento, também subterrânea. Um processo químico retira até 95% dos resíduos da água, mandada também para a cisterna. O líquido acumulado ali serve para molhar a vegetação em torno da residência e para a descarga do vaso sanitário. Já o sistema de aquecimento solar garante banhos quentes.

Boa parte dessas idéias também está presente na casa da arquiteta Alexandra Lichtenberg, no Rio, batizada como Ecohouse Urca. "Já que ninguém me contratava para isso, resolvi fazer para mim", brinca. Ela comprou um imóvel de 1930 e o modificou para ser ecologicamente correto. A adaptação virou seu projeto de mestrado. Parte dos gastos foi bancada por patrocinadores. "A repercussão é muito positiva", diz. "Ainda é só curiosidade, mas eu espero que vire ação."

Ao longo de 2005, 20% de toda a água usada na casa veio do sistema de coleta da chuva. Ao mesmo tempo, Alexandra optou por sistemas hidráulicos econômicos, como torneiras fotoelétricas (aquelas que só funcionam quando você põe a mão embaixo), que gastam 6 litros por minuto - metade do volume das tradicionais. A maior novidade da Ecohouse, contudo, é o telhado verde. Depois de reforçar a estrutura e garantir a impermeabilização, ela cobriu o topo do imóvel com um jardim. "Deu uma diferença de 10 graus na temperatura da casa."

A maior prova de que o interesse nesse tipo de construção vem aumentando está no surgimento de lojas especializadas na venda do chamados ecoprodutos, como a Primamatéria (www.primamateria.com.br) e a Supergreen (www.supergreen.com.br). Mas encher o carrinho desses itens não basta para que uma residência se torne ecológica. "O planejamento da obra é o mais importante", destaca o consultor Márcio Augusto Araújo, de 43 anos, do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (Idhea). "Se você usar inteligentemente a vegetação, resolve 30% dos problemas térmicos e acústicos."

Para a arquiteta Roberta Kronka Mülfarth, da FAU-USP, há muito modismo nessa área e é preciso cuidado para não trocar gato por lebre. "Só o fato de o material vir de longe do local da obra já não é ecologicamente correto, porque se gasta muita energia para isso", explica. Imagine quanto combustível é queimado para trazer madeira certificada da Amazônia e você verá que é melhor procurar materiais extraídos de locais próximos, por exemplo.

Segundo Roberta, é preciso sempre analisar se um produto adquirido não está agredindo o meio ambiente, esgotando uma fonte de matéria-prima ou se vai gastar energia ou água demais. Mais do que isso, o morador deve comprar a idéia e incorporar hábitos ambientalmente responsáveis no seu dia-a-dia. Já reciclou o lixo?
Por Maurício Moraes e Silva, O Estado de S. Paulo, 22/05/06.
http://www.estado.com.br/suplementos/info/2006/05/22/info124278.xml

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