(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2006-05-22
Há dois ingredientes básicos e essenciais para se fazer um bom jornalismo: capacitação e ética. Essa foi a principal conclusão do I Congresso de Jornalismo Ambiental do Rio Grande do Sul (Conjars), realizado no último final de semana (19 e 20/5) em Porto Alegre. O evento, que reuniu cerca de cem pessoas na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) proporcionou o debate sobre a eficiência do jornalismo ambiental no estado. Antecipou, também, as discussões que serão pautadas no segundo Congresso Nacional de Jornalismo Ambiental, que será realizado em Porto Alegre no mês de outubro.

Advertir a sociedade sobre os impactos do consumo desenfreado deve ser um dos papéis da mídia, segundo Elisângela Paim, do Núcleo Amigos da Terra Brasil (NAT/Brasil). A jornalista entende que as discussões a respeito de uma vida sustentável devem passar pelo modelo atual de desenvolvimento econômico. “A mídia sempre apresenta as coisas em momentos episódicos, nunca em uma visão abrangente. Muitas coisas nunca chegam até nós, como o que está atrás de um grande empreendimento como as hidrelétricas”, condena.

O modelo de consumo também é apresentado pelo filósofo Vicente Medaglia, do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Inga), como causa da crise sócio-ambiental. “Os valores da sociedade estão errados, já que as sociedades estão se auto-destruindo”. O ecologista mostrou, por meio de pensamentos de Aristóteles, a crise de valores vivida atualmente. Segundo o raciocínio, toda ação que fazemos visa a um bem, e esse bem, no final das contas, é a felicidade.

O conceito, no entanto, varia de pessoa para pessoa, e o que se percebe, segundo o filósofo do Inga, é que se confunde felicidade com consumo. “O problema é confundir as duas coisas”, afirma. Medaglia destaca ainda que a imprensa deve desenvolver um modelo de felicidade que seja sustentável. Alerta, porém, para o paradigma de que a imprensa é mantida por um sistema insustentável.

Jornalismo e ética
O jornalista Roberto Villar Belmonte, da revista Campo Aberto, afirma que a ética pode ser uma forma de escapar das pressões. Para ele, a ética pressupõe um ato moral que implica liberdade para fazer escolhas. “O ato moral é uma atitude livre, e uma redação quer pessoas conscientes. Apesar dos nossos condicionamentos, como a ideologia, somos livres para escolher notícias e fontes”, esclarece. Villar acredita também que a defesa da vida é o maior objetivo do jornalismo ambiental, e que por isso, não devem ser estabelecidas parcerias com as chamadas “empresas da morte”. Como exemplo, cita as entidades ligadas ao ramo dos agrotóxicos e do fumo.

Como alternativa à mídia tradicional, o ambientalista Tiago Eduardo Genehr, do Movimento Roessler para Defesa Ambiental, defende o fortalecimento das próprias mídias alternativas. “Esse tipo de mídia são pequenas vozes que questionam nosso modo de vida e de consumo. É bem mais reflexivo e engajado”, comenta. O ambientalista critica também a postura da mídia tradicional, que querendo ser neutra, acaba sendo passiva, e por sua vez deixa de relacionar os fatos, sem chegar na “raiz” das questões. “A grande mídia não questiona, e muitas coisas se fazem verdade, como informações do governo e de assessorias de imprensa”, condena.

Experiências no Mato Grosso
Trabalhando há um ano no norte do Mato Grosso, a jornalista da organização não-governamental Estação Vida Gisele Neuls relatou a experiência de viver em um estado abalado pelas questões ambientais. A área do Portal da Amazônia é composta por 16 municípios e 110 mil Km², dos quais 31% já foram depredados. A região é caracterizada por uma forte concentração de terra e de renda, pela pecuária (“onde o trabalho escravo é altamente lucrativo”), extração madeireira (“a ilegalidade é altamente lucrativa”) e assentamentos do Movimento Sem-terra (MST).

“É difícil trabalhar com esse público, que só vê a possibilidade de riqueza na exploração de recursos naturais”, conta Gisele. De acordo com ela, o pequeno agricultor reconhece o impacto da ocupação, mas fica dividido entre um sentimento de culpa e de revolta. “Eles sabem do mal, mas dizem que não tem culpa de terem sido levados para lá. É preciso ter muito cuidado para não afugentar ninguém”, completa.

O trabalho da Ong no local é dificultado por interesses coronelistas e políticos, destaca a jornalista, revelando que a equipe já sofreu ameaças “indiretas”. Gisele ressalta que só estando “lá”, próximo às belezas, para perceber realmente porque se deve lutar pela biodiversidade. “O modelo de desenvolvimento não contempla e nem consegue preservar isso. E é por isso que a Ong luta”, garante.

“A importância do substantivo”
Wilson da Costa Bueno, Doutor em Ciências da Comunicação e membro da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, falou sobre a importância do substantivo (Jornalismo) e a singularidade do adjetivo (Ambiental) na apuração das matérias. Além disso, discursou sobre a necessidade do jornalismo ambiental, o marketing verde e a eco-propaganda freqüentarem “galáxias distintas”. “Não é a mesma coisa, mas há uma tendência no mercado de aproximação, e isso é preocupante”.

O professor da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (ECA/SP) também critica o que chama de “Síndrome de Lattes”, onde o jornalismo tende a ficar refém do saber técnico de pesquisadores que se sentem os donos da verdade. “Restringir o debate de opiniões porque elas (as opiniões) não fazem parte do topo, não vêm de especialistas, é um erro”, avalia, acrescentando que o saber técnico e as monofontes despolitizam o confronto de idéias. “Todos devem opinar e não apenas um círculo restrito de fontes que já se venderam para as grandes corporações”.

Polêmico, Bueno desafia os que consideram que o jornalismo deve ser neutro. “Um jornalista que se diz neutro é no mínimo babaca”, afirma ele. Semelhante avaliação tem o jornalista uruguaio Victor Bacchetta, que palestrou na sexta-feira (19/05), dia de abertura do Congresso, logo depois de Bueno. Segundo o membro-fundador da Rede de Comunicação Ambiental da América Latina e Caribe - Rede Calc, no momento em que o veículo define sua pauta de trabalho já deixa de ser neutro, por que dentre os milhares de assuntos, define apenas alguns.

Após a definição do tema, frisa Bacchetta, “o jornalista deve tratar o escolhido como um especialista ou profissional, sendo objetivo e responsável no tratamento de todas as informações e das fontes relacionadas. Ou seja, o jornalismo que pretende ser gerador de cidadania deve deixar as opiniões pessoais e partidárias de lado. Sua tarefa principal consiste em apresentar a maior quantidade de elementos e da melhor qualidade possível, para que o leitor possa compreender o tema, sua origem e evolução, formando sua própria opinião,” finaliza.
Por Patrícia Benvenuti e Tatiana Feldens

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -