Sobras da produção garantem receitas que são investidas, na maior parte, em ação
social. O princípio da ecoeficiência, ou seja, a combinação entre desempenho
econômico e ambiental, já foi incorporado à vida das indústrias brasileiras.
Algumas têm, inclusive, investido na compra de equipamentos para transformação
de "produtos" que possam ser revendidos com maior valor agregado e assim gerar
receitas cada vez maiores.
A Companhia de Bebidas das Américas (AmBev) é um dos exemplos. Iniciou uma
política corporativa em 1997 para elevar os controles de impacto ao meio
ambiente. De lá para cá, o índice de reaproveitamento só cresceu e no fim do ano
passado as 30 fábricas da empresa já aproveitavam, em média, 96,8% dos resíduos,
ante 93,7% do início da década.
A natureza agradece e a companhia mais ainda. A venda de resíduos, como fermento,
bagaço de malte, vidro e outros, rendeu à empresa no ano passado R$ 50,9
milhões, volume que superou em 23% o registrado em 2004.
A perspectiva dessas receitas para este ano é melhor, embora os executivos se
neguem a falar suas projeções. Muito desse otimismo está ligado ao fato de a
empresa ter investido R$ 1 milhão na compra de dois equipamentos, que foram
instalados na fábrica do Rio de Janeiro, para a secagem de fermento úmido,
resultante da produção. Com estas máquinas será possível processar 600 toneladas
do resíduo anualmente. Essas máquinas se juntam às outras já existentes nas
cidade de Agudos (SP), Juatuba (MG), Cuiabá (MS), Brasília (DF) e Manaus (AM),
que, juntas, podem produzir 4,1 mil toneladas de fermento seco por ano.
"Identificamos mais uma oportunidade de elevar o valor agregado do produto que
vendíamos", disse a gerente corporativa de Meio Ambiente da AmBev, Beatriz
Oliveira.
Outra empresa que também tem se destacado nesta área é a Unilever. Nos últimos
cinco anos, foram reduzidos cerca de 62% de todo o volume de resíduos gerados
nos processos de manufatura. Do volume atual de resíduos do processo industrial,
100% vai para a reciclagem. A receita média com esse processo já chega a R$ 2,5
milhões, recursos que são reinvestidos no custeio da disposição em aterro e
reciclagem de outros resíduos.
Em 2002, a empresa iniciou um trabalho um tanto curioso: transformar bisnagas de
géis e cremes dentais em telhas que, na comparação com as tradicionais,
mostraram-se ótimos isolantes térmico e acústico e 30% mais leve do que a fibra
de cimento. Além disso, são mais baratas do que as telhas de amianto: 2,5% no
varejo, e de 5% a 10% no atacado. O processo foi desenvolvido pela Reciplac e
atualmente esse trabalho é feito também pela Ecotop e pela Ibicunha, que
desenvolvem com o material forro de chão, cadeiras, mesas, móveis de escritório,
bancos de jardim e jogos infantis.
Na fábrica da Unilever onde são produzidos cremes e géis dentais, a reciclagem
foi responsável pela redução em 17 toneladas por ano de resíduos de embalagem de
creme dental (bisnagas e rebarbas geradas no momento da solda de fundo da
bisnaga após seu enchimento).
Ação social
Os destinos das receitas com reciclagem podem ser os mais variados, mas, em
geral, acabam tornando-se ações sociais. O laboratório farmacêutico Organon do
Brasil resolveu destinar os recursos para manter uma creche. Segundo o gerente
de Saúde, Segurança e Meio Ambiente, Luís Hernandez, a empresa conseguiu obter
R$ 9 mil no ano passado com a venda de 50 toneladas de papel, papelão e vidro.
Colocou quantia equivalente e enviou R$ 18 mil para a instituição que se dedica
aos cuidados de nove crianças.
"Temos conseguido evoluir bem na quantidade de resíduos recicláveis. Em 2003
eram 10 toneladas e no ano passado 50 toneladas. A continuar assim, esperamos
elevar as receitas para R$ 15 mil", estimou o executivo, lembrando que a
indústria gera 220 toneladas de resíduos tóxicos e não tóxicos por ano, dos
quais 75% já seguem para a reciclagem.
A unidade da Basf, em Guaratinguetá (SP), conseguiu formar há seis anos uma
cooperativa com 39 ex-catadores de materiais dispostos no lixão regional, que
acabaram se tornando agentes ambientais. Hoje, eles recolhem e separam cerca de
70% dos materiais recicláveis da cidade. Estes resíduos são encaminhados para
as indústrias, que os transformam em novos produtos. Em média, a Basf destina à
cooperativa 250 toneladas por ano de papel e papelão.
Com a venda dos materiais, os cooperados já conseguiram, por exemplo, comprar um
caminhão e uma Kombi.
(GM, 22/05/06)
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