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2006-05-22
Sobras da produção garantem receitas que são investidas, na maior parte, em ação social. O princípio da ecoeficiência, ou seja, a combinação entre desempenho econômico e ambiental, já foi incorporado à vida das indústrias brasileiras. Algumas têm, inclusive, investido na compra de equipamentos para transformação de "produtos" que possam ser revendidos com maior valor agregado e assim gerar receitas cada vez maiores.

A Companhia de Bebidas das Américas (AmBev) é um dos exemplos. Iniciou uma política corporativa em 1997 para elevar os controles de impacto ao meio ambiente. De lá para cá, o índice de reaproveitamento só cresceu e no fim do ano passado as 30 fábricas da empresa já aproveitavam, em média, 96,8% dos resíduos, ante 93,7% do início da década.

A natureza agradece e a companhia mais ainda. A venda de resíduos, como fermento, bagaço de malte, vidro e outros, rendeu à empresa no ano passado R$ 50,9 milhões, volume que superou em 23% o registrado em 2004.

A perspectiva dessas receitas para este ano é melhor, embora os executivos se neguem a falar suas projeções. Muito desse otimismo está ligado ao fato de a empresa ter investido R$ 1 milhão na compra de dois equipamentos, que foram instalados na fábrica do Rio de Janeiro, para a secagem de fermento úmido, resultante da produção. Com estas máquinas será possível processar 600 toneladas do resíduo anualmente. Essas máquinas se juntam às outras já existentes nas cidade de Agudos (SP), Juatuba (MG), Cuiabá (MS), Brasília (DF) e Manaus (AM), que, juntas, podem produzir 4,1 mil toneladas de fermento seco por ano.

"Identificamos mais uma oportunidade de elevar o valor agregado do produto que vendíamos", disse a gerente corporativa de Meio Ambiente da AmBev, Beatriz Oliveira.

Outra empresa que também tem se destacado nesta área é a Unilever. Nos últimos cinco anos, foram reduzidos cerca de 62% de todo o volume de resíduos gerados nos processos de manufatura. Do volume atual de resíduos do processo industrial, 100% vai para a reciclagem. A receita média com esse processo já chega a R$ 2,5 milhões, recursos que são reinvestidos no custeio da disposição em aterro e reciclagem de outros resíduos.

Em 2002, a empresa iniciou um trabalho um tanto curioso: transformar bisnagas de géis e cremes dentais em telhas que, na comparação com as tradicionais, mostraram-se ótimos isolantes térmico e acústico e 30% mais leve do que a fibra de cimento. Além disso, são mais baratas do que as telhas de amianto: 2,5% no varejo, e de 5% a 10% no atacado. O processo foi desenvolvido pela Reciplac e atualmente esse trabalho é feito também pela Ecotop e pela Ibicunha, que desenvolvem com o material forro de chão, cadeiras, mesas, móveis de escritório, bancos de jardim e jogos infantis.

Na fábrica da Unilever onde são produzidos cremes e géis dentais, a reciclagem foi responsável pela redução em 17 toneladas por ano de resíduos de embalagem de creme dental (bisnagas e rebarbas geradas no momento da solda de fundo da bisnaga após seu enchimento).

Ação social
Os destinos das receitas com reciclagem podem ser os mais variados, mas, em geral, acabam tornando-se ações sociais. O laboratório farmacêutico Organon do Brasil resolveu destinar os recursos para manter uma creche. Segundo o gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente, Luís Hernandez, a empresa conseguiu obter R$ 9 mil no ano passado com a venda de 50 toneladas de papel, papelão e vidro. Colocou quantia equivalente e enviou R$ 18 mil para a instituição que se dedica aos cuidados de nove crianças.

"Temos conseguido evoluir bem na quantidade de resíduos recicláveis. Em 2003 eram 10 toneladas e no ano passado 50 toneladas. A continuar assim, esperamos elevar as receitas para R$ 15 mil", estimou o executivo, lembrando que a indústria gera 220 toneladas de resíduos tóxicos e não tóxicos por ano, dos quais 75% já seguem para a reciclagem.

A unidade da Basf, em Guaratinguetá (SP), conseguiu formar há seis anos uma cooperativa com 39 ex-catadores de materiais dispostos no lixão regional, que acabaram se tornando agentes ambientais. Hoje, eles recolhem e separam cerca de 70% dos materiais recicláveis da cidade. Estes resíduos são encaminhados para as indústrias, que os transformam em novos produtos. Em média, a Basf destina à cooperativa 250 toneladas por ano de papel e papelão.

Com a venda dos materiais, os cooperados já conseguiram, por exemplo, comprar um caminhão e uma Kombi.
(GM, 22/05/06)
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