Bolívia denuncia devastação florestal causada por estrangeiros
2006-05-22
O governo da Bolívia denunciou nesta sexta-feira (19/05) que mais de 600 mil hectares de áreas florestais foram devastadas nos últimos três anos para a produção de soja, em sua maioria pela ação de empresários agrícolas estrangeiros --muitos deles brasileiros-- com a cumplicidade de fazendeiros bolivianos. A denúncia foi feita pelo ministro de Desenvolvimento Rural, Hugo Salvatierra, em um encontro com a imprensa estrangeira em La Paz, no qual falou sobre os alcances da reforma agrária proposta pelo Executivo do presidente Evo Morales.
Salvatierra disse que a destruição das florestas ocorre sobretudo nos Estados de Beni e de Pando, no norte do país, e no de Santa Cruz, no leste, onde latifundiários bolivianos arrendaram terras a empresários estrangeiros para demonstrar que eram produtivas e evitar que fossem tomadas pelo Estado. O confisco estatal é um dos objetivos da lei do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INRA), de 1996, que, segundo o ministro, fracassou em sua intenção de redistribuir as terras por conta da corrupção no país.
"Para demonstrar um suposto cumprimento da função econômica e social das terras que ficaram improdutivas durante mais de 20 ou 30 anos, os donos das terras imediatamente as arrendaram a estrangeiros, e não somente a brasileiros. Há argentinos, russos e menonitas [membros de uma corrente da seita holandesa anabatista]", disse Salvatierra. "Os arrendatários fizeram, com o aval da Superintendência Florestal, uma devastação de nossas florestas", acusou.
O ministro lembrou que, nos últimos três anos, foram devastados mais de 600 mil hectares, "inclusive de madeiras preciosas e de florestas milenares nesta ação ilegal". Salvatierra acrescentou que "não existem números definitivos" sobre a questão, mas indicou que o governo da Bolívia realiza uma auditoria para conhecer, com exatidão, a situação dos territórios afetados.
Os dados apresentados pelo ministro indicam também que existem fazendas adquiridas de forma ilegal por estrangeiros em uma faixa situada a 50 quilômetros da fronteira com o Brasil, mais precisamente nas regiões de Germán Busch e Ángel Sandoval, no Estado de Santa Cruz, o que é inconstitucional, disse Salvatierra.
O governo boliviano se comprometeu, na última terça-feira, a eliminar os latifúndios ociosos e a entregar um total entre 2 milhões e 4,5 milhões de hectares de terras do Estado a comunidades indígenas e camponesas, ao anunciar seu programa para fazer a segunda reforma agrária do país, após a ocorrida em 1953. A medida foi recebida com preocupação pelos empresários agrícolas de Santa Cruz, Beni e Pando, que acusaram Morales de levar esse plano adiante para garantir votos na Assembléia Constituinte que será realizada em agosto.
(EFE, 19/05/06)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u96087.shtml