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2006-05-22
Ao analisar o tamanho e a composição química do material particulado presente na atmosfera das grandes cidades, é possível saber não apenas o grau de risco para a saúde humana, mas também quais as fontes que mais contribuem para a poluição do ar. Em São Paulo, a assinatura dos metais traço (pesados e eventualmente tóxicos) e íons solúveis em água, por exemplo, pode revelar algumas fontes de emissão até certo ponto inesperadas.

“Os resultados do estudo que fizemos mostram uma aparição importante de sulfatos, nitratos e cloretos no material particulado coletado para São Paulo”, explica Pérola Vasconcellos, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP). Enquanto os dois primeiros estão relacionados com a queima de combustíveis fósseis pelos veículos, o terceiro é mais difícil de ser explicado. Uma das possibilidades é a relação com queimadas de lixo, em muitas áreas da capital.

As surpresas — segundo apresentação feita durante a 29ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), no sábado (20/5), em Águas de Lindóia — também foram detectadas para o interior do Estado. “Na cidade de Piracicaba, por exemplo, os dados mostram que, além da queimada, existe uma importância das chamadas fontes industriais muito maior do que a esperada”, explica Pérola. A pesquisadora baseia-se também em outros estudos, que analisaram componentes orgânicos presentes na atmosfera.

Além dos nitratos e sulfatos, o elemento cálcio esteve presente em concentrações importantes. “Isso é explicado pela alta ressuspensão de material particulado do solo”, diz a professora.

Na cidade de Araraquara, a terceira a fazer parte do estudo, realizado em cooperação com a Universidade Estadual de Campinas e de alguns grupos de pesquisa estrangeiros, outro elemento químico apareceu. Diferente de São Paulo e Piracicaba, Araraquara apresentou mais potássio na atmosfera. “Esse elemento está diretamente relacionado com as queimadas da região”, afirma Pérola.

O resultado apresentado pela pesquisadora também confirma uma antiga suspeita. “Sem dúvida, essas mudanças climáticas interferem na distribuição do material particulado”, afirma. Ou seja, pode ser que as próprias queimadas realizadas por agricultores no interior do Estado estejam colaborando para piorar ainda mais a qualidade do ar na própria cidade de São Paulo. “Já sabíamos disso, mas é a primeira vez que conseguimos mapear essa influência das massas de ar”, diz a professora da USP.

Outro estudo também apresentado na reunião da SBQ reforça a afirmação de que as queimadas podem ser consideradas como um problema importante de poluição do ar. “No período da safra, entre junho e outubro, principalmente, a concentração de material particulado fino é três vezes maior do que entre dezembro e abril, quando não ocorre a queima da cana-de-açúcar”, explica Willian Paterlini, do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O químico, que conclui seu doutorado até dezembro, vai partir agora para a análise química dos dados. “Aí teremos uma idéia ainda mais clara desse importante problema”, explica.
Por Eduardo Geraque, Agência FAPESP

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