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2006-05-22
Do ponto de vista nacional, 1,2 milhão de toneladas de casca de arroz jogadas fora pelos produtores locais do Rio Grande do Sul podem transformar-se em combustível. Na escala mundial, George W. Bush já declarou que os biocombustíveis vão representar 20% da produção de energia nos Estados Unidos até 2020.

Com exemplos como esse de pano de fundo, além de muitos outros ligados ao universo da química, o grupo de pesquisa liderado por Ayrton Martins, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), resolveu desenvolver formas de extrair energia de diferentes tipos de biomassa. Seja da casca de arroz, da serragem do eucalipto ou do caroço do pêssego, os resultados obtidos até agora, apresentados durante a 29ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), em Águas de Lindóia, no sábado (20/5), revelam que o grupo escolheu um caminho promissor.

“Os bioóleos obtidos por meio da pirólise desses tipos de biomassa podem ser usados como combustível e também na geração de vários tipos de produtos químicos. Os balanços econômico, energético, social e ambiental são altamente positivos”, disse Martins. Segundo ele, o óleo derivado da queima da casca de arroz pode até ser usado no lugar do diesel derivado do petróleo. “Ele pode ser usado em veículos, se alguns cuidados forem tomados, como o uso de aditivos”, explica.

Do ponto de vista prático – o uso da energia da casca de arroz como combustível ainda está distante – a primeira experiência deverá começar no Rio Grande do Sul nos próximos meses, explica Martins. “Estamos em negociação com alguns grupos de produtores de arroz. A idéia básica é fazer junto com eles uma espécie de usina elétrica”, informa o pesquisador. Serão cinco nessa primeira fase que vão gerar 1 tonelada de óleo por hora e de 1 a 2 megawatts de potência no mesmo período. Tanto o calor como o bioóleo são frutos da queima da casca de arroz. “É uma produção pequena ainda, mas suficiente para suprir a necessidade energética dos produtores”, explica.

Além de diminuir os resíduos orgânicos – a casca de arroz demora até cinco anos para ser degradada no meio ambiente – o bioóleo gerado na minirrefinaria poderá ter diversas aplicações, que também estão sendo pesquisadas em Santa Maria. “Esse óleo poderá ser usado tanto bruto como refinado. Ele serve como matéria-prima para a indústria petroquímica, para movimentar motores estacionários e até no lugar do querosene. Sem falar na ativação do carvão mineral usado hoje, por exemplo, na purificação das águas do rio Guaíba, em Porto Alegre”, conta Martins.

Segundo o pesquisador gaúcho, existem no mundo hoje apenas biorrefinarias em fase de teste, algumas instaladas em países como Canadá, Estados Unidos, Finlândia e Holanda. “Acredito que, tanto no Brasil como no resto do mundo, teremos refinarias processando biomassa em menos de dez anos, ainda mais com o atual preço do barril de petróleo”, aponta.
Por Eduardo Geraque, Agência FAPESP

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