Petrobras vai lançar novo diesel produzido a partir de óleo vegetal
2006-05-22
A Petrobrás vai substituir, a partir de 2007, pelo menos 10% do diesel importado para suprir o mercado nacional com um tipo de óleo vegetal refinado de soja de menor valor. Batizado de H-Bio, o novo diesel será produzido inicialmente apenas nas refinarias da Petrobrás de Minas Gerais e Paraná (Regap e Repar), mas deverá também ser processado em outras três refinarias a partir de 2009. A idéia é utilizar nesta primeira fase do projeto 9,6% do óleo de soja refinado exportado pelo País, porcentual que deve aumentar gradativamente.
Segundo o diretor de Abastecimento e Refino da estatal, Paulo Roberto Costa, a adoção deste tipo de processo ainda depende de estudos referentes à logística de distribuição e construção, nas refinarias, de novos tanques de armazenamento do óleo. Ele não soube dimensionar o volume de investimento necessário nas unidades para adaptação ao processamento do óleo vegetal, mas disse que será "pequeno" perto do ganho obtido com a substituição do diesel mineral.
"Se o processo resultasse num diesel mais caro do que o atual, certamente teríamos arquivado o projeto", comentou. Segundo ele, a localização inicial da produção em Minas Gerais e Paraná foi estratégica por causa da maior proximidade das refinarias com os centros agrícolas produtores de soja.
BIODIESEL - O diretor fez questão de frisar que o H-Bio não vai concorrer com o biodiesel, que hoje vem sendo desenvolvido no País e terá sua adição obrigatória na proporção de 2% a partir de 2008 e de 8% a partir de 2013. "São dois processos complementares", afirmou.
A principal diferença entre ambos é que, no caso do biodiesel, o óleo, originado dos grãos de plantas como mamona, girassol, soja, ou dendê, é adicionado ao diesel nas distribuidoras, após passar por um processo químico em uma planta de transesterificação. Já no caso do H-Bio, o óleo vegetal entra no processo de refino do petróleo, juntamente com hidrogênio. O resultado desta mistura é um diesel equivalente ao comum, mas com quantidade reduzida de enxofre e, por isso, menos poluente.
Segundo o diretor da Petrobrás, os testes realizados até o momento chegaram a uma mistura limite de 18% de óleo vegetal para outra parte derivada do petróleo, mas isso não impede uma ampliação deste porcentual no futuro. "Por enquanto estamos limitados a uma certa produção por causa da falta de contratos a serem firmados com produtores agrícolas, além de nossas questões logísticas, mas nada impede que num futuro bastante próximo possamos dizer que plantamos diesel, da mesma maneira que plantamos álcool hoje."
Costa explicou ainda que o óleo de soja foi escolhido devido à sua elevada produção hoje no País, de cerca de 5,6 milhões de toneladas por ano, ante menos de 200 mil toneladas anuais de óleos derivados de outros grãos. "Precisamos de escala e neste cultivo há espaço para esta demanda", argumentou. Segundo ele, a Petrobrás vai acompanhar o preço da soja no mercado internacional para remunerar os produtores agrícolas nos contratos a serem firmados.
NOVO COMBUSTÍVEL
O que é - O biodiesel é fabricado a partir de grãos ou óleo refinado (de soja, mamona, dendê, girassol ou algodão) e adicionados ao diesel mineral nas distribuidoras.
O H-Bio é o processo no qual o óleo refinado recebe hidrogênio e uma parte de óleo diesel mineral (derivado de petróleo) e dá origem a um tipo de óleo diesel de melhor qualidade, com uma quantidade menor de enxofre. Este produto, então, é enviado para as distribuidoras que ainda adicionam o biodiesel.
Para que serve - Complementa o programa de utilização de fontes alternativas de energia, com benefícios ambientais.
Como será criado - Curto prazo (2007): Uso de 10% de óleo vegetal em duas refinarias, o que equivalente a 256 mil metros cúbicos por ano (9,4% do óleo de soja exportado).
Médio prazo (2008/2009): uso de 5% de óleo vegetal em cinco refinarias, o equivalente a 425 mil metros cúbicos por ano (15,5% do óleo de soja exportado).
Vantagens - Melhora a qualidade do diesel com a redução de poluentes dos veículos a diesel.
Reduz a dependência energética externa do País.
Tem um custo de produção menor, por não utilizar diesel importado, hoje cotado a US$ 90 o barril.
Permite o óleo vegetal de diversas origens.
Cria empregos no campo e na indústria de oleaginosas.
Biodiesel será produzido em unidade experimental
O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, inaugurou ontem no Rio Grande do Norte uma unidade experimental de biodiesel, que vai produzir 16 mil toneladas por ano do produto, a partir de investimentos de R$ 19 milhões. A perspectiva é de que cinco mil famílias sejam empregadas no cultivo de 11.500 hectares de mamona e 1.500 hectares de girassol, oleaginosas que serão utilizadas para a produção do biodiesel.
A planta experimental foi instalada no Pólo de Guamaré, situado a 180 quilômetros de Natal, onde a estatal possui uma base industrial. Junto com a unidade de biodiesel, também foram inauguradas a terceira Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) e a Unidade de Querosene de Aviação (QAV). Nos últimos oito anos, a Petrobrás investiu R$ 1,8 bilhão em ampliações no pólo.
Na Planta de Querosene de Aviação foram aplicados R$ 115 milhões para produzir 1,5 mil barris por dia de QAV e duplicar a produção de diesel do Pólo, que passará a ser de 8 mil barris por dia, atendendo à demanda do Estado com excedentes para a Paraíba e o Ceará.
Na UPGN, os investimentos foram de R$ 182 milhões, o que possibilitará a ampliação da capacidade de processamento do gás natural do Pólo de Guamaré em 40%.
”Novo diesel vai mudar a face do agronegócio”
A Petrobrás desenvolveu um novo tipo de diesel, inédito no mundo, que usa óleo de soja e de outros vegetais no processo de refino. O resultado é um combustível mais barato, menos poluente e que vai mudar a face do agronegócio mundial, segundo avaliou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
"É um sinal concreto de mudança na história mundial da energia e dos combustíveis", avaliou. Para ele, a nova tecnologia da Petrobrás significa mais um casamento entre a agricultura e a indústria do petróleo, a exemplo do que foi o Proálcool há 30 anos, e permitirá que as reservas de petróleo durem mais tempo.
O novo diesel, chamado H-Bio, é resultado da adição de até 10% de óleo vegetal - que pode ser de soja, algodão, girassol, mamona, dendê, palma ou qualquer outra semente oleaginosa - durante o processo de refino.
O produto final tem as mesmas características do diesel 100% tirado do petróleo - com a diferença que tem menos enxofre em sua composição. Por isso, é menos poluente e de melhor qualidade. A esse diesel, ainda será possível adicionar o biodiesel.
PRODUÇÃO -O H-Bio será mais barato do que o diesel importado. Hoje, o Brasil importa de 5 bilhões a 6 bilhões de litros de diesel por ano, já que a produção local não é suficiente para suprir toda a demanda. O barril do diesel custa US$ 90, enquanto um barril de óleo de soja sai a US$ 63,00.
Já no primeiro trimestre de 2007, três refinarias da Petrobrás, em Minas, no Rio Grande do Sul e no Paraná, começarão a produzir o H-Bio adicionando óleo de soja. A estimativa é que, com isso, a demanda do grão aumente em 1,2 milhão de toneladas.
"Do ponto de vista do mercado, é uma coisa aparentemente sem expressão, é 2% da produção de soja do País", comentou Rodrigues. "Ano que vem será 4%, e em 2020, o que vai ser... O céu é o limite."
O entusiasmo do ministro se baseia no fato que, há 30 anos, o Proálcool foi recebido com ceticismo e hoje "o mundo inteiro está atrás do etanol". Ele acredita que o mesmo ocorrerá com o H-Bio.
O ministro acredita que os Estados Unidos, por exemplo, que também produzem soja, podem se interessar pela tecnologia. Da mesma forma, a Europa poderá desejar produzir seu próprio H-Bio, utilizando óleo de colza (uma oleaginosa).
"Eu sempre acreditei que o biocombustível seria o novo paradigma da agricultura mundial", disse. "Faltava, para que o discurso se transformasse em realidade, uma articulação real entre a indústria de petróleo e a agricultura." Foi isso o que a Petrobrás encontrou ao desenvolver o H-Bio.
ABASTECIMENTO
Rodrigues acredita que não haverá problemas de abastecimento, caso a demanda por óleo de soja cresça de forma exagerada a partir do H-Bio.
"Não tem perigo, somos exportadores de soja", afirmou. "Exportamos mais de metade de nossa produção."
É uma situação diferente da do álcool, em que 95% da produção é consumida pelo mercado interno.
Atualmente, o cultivo de soja ocupa 23 milhões de hectares no País. Mas, lembra o ministro, ainda há 90 milhões de hectares de terras agricultáveis, hoje ocupadas com pastagens. Portanto, há espaço para ampliar o cultivo do grão, caso a demanda cresça.
Rodrigues lembra que, além disso, não é só o óleo de soja que pode ser utilizado para produzir o H-Bio. Rodrigues acredita que o cultivo de óleo de palma na Amazônia, por exemplo, ganhará forte impulso com a nova tecnologia da Petrobrás.
(O Estado de S. Paulo, FSP, 20/5)