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2006-05-22
A passagem do navio do Greenpeace (que significa "paz verde", em inglês) por Santarém (PA) não tem sido nada pacífica. Ativistas da ONG sofreram nesta sexta, 19 de maio, o pior ataque contra suas ações desde que começou a expedição do navio MY Artic Sunrise pela costa brasileira, em 31 de março. A viagem – que já passou por outros seis municípios – pretende divulgar os riscos do avanço da soja sobre a floresta amazônica. Antes mesmo de chegar à cidade paraense, no último dia 11/5, a hostilidade em torno da campanha da ONG já estava montada: sojeiros realizavam ações em um movimento que vem sendo chamado de "Fora, Greenpeace! A Amazônia é nossa" e causa controvérsias entre moradores de Santarém.

Ataques, ameaças e coações vêm acontecendo desde então. Ao longo dos últimos dias, ativistas chegaram a ser seguidos e fechados em uma estrada, no momento em que se dirigiam para uma das ações programadas na campanha. Em outra ocasião, tiveram rojões de fogos de artifício disparados contra si (veja em vídeo).

Na confusão desta última sexta (19/5), 18 pessoas do Greenpeace foram detidas – entre elas o coordenador da campanha Amazônia, Paulo Adário – e no mínimo cinco ficaram feridas. A confusão começou quando a equipe da entidade iniciou um protesto em frente ao porto da multinacional Cargill. Os ativistas posicionaram o MY Artic Sunrise no local enquanto soja era transportada para o silo da empresa, exibindo faixas de protesto e tentando parar o carregamento do produto.

A partir daí, pessoas se identificando como plantadoras de soja deram início aos ataques, jogando pedras, coagindo os ativistas e tentando subir no barco. A Polícia Federal interveio. Horas depois, com a confusão já sob controle, o navio da ONG, por segurança, se afastou da costa – levando 30 pessoas, entre membros do Greenpeace e policiais.

A Rets esteve em contato com integrantes da entidade durante todo o processo, para acompanhar o desenrolar dos fatos. Marcelo Furtado, coordenador de Campanhas; Marcelo Marquezine, engenheiro florestal, e Tica Minami, assessora de Comunição, nos deram informações sobre a extensão e gravidade do confronto. Leia a seguir seus depoimentos:

Tica Minami conversou com a Rets por volta das 16h, direto do barco do Greenpeace, que nesse momento já se encontrava a uma milha e meia da costa.

Rets - Como está a situação nesse momento?

Tica Minami - Agora as coisas estão mais calmas. O navio foi obrigado a se afastar da costa para garantir a nossa segurança. Alguns policiais estão aqui conosco. No total, há 30 pessoas. Há também policiais no hotel em que alguns membros estão hospedados.

Rets - E como tudo começou?

Tica Minami - Estávamos realizando um protesto pacífico, com intenção de parar o carregamento da Cargill. E a partir disso houve uma reação violenta dos sojeiros, com agressões verbais, várias embarcações chegando para protestar etc. Alguns agressores tentaram subir no nosso navio. Eles conseguiram destruir algumas portas. A Polícia Federal teve que retirá-los.

A polícia já deteve várias pessoas, entre elas muitos dos nossos ativistas. E tentamos negociar com eles: como não nos sentíamos seguros, pedimos que todo mundo ficasse preso dentro do navio, pois tínhamos medo de que a polícia não conseguisse segurar a multidão que estava lá fora. Esse processo da transferência do navio para a delegacia é que nos causava medo.

O engenheiro florestal Marcelo Marquezine falou com a Rets por volta das 17h30, direto da delegacia, onde acompanhava junto com o advogado da ONG as ações da polícia em relação às pessoas detidas.

Rets - Qual o número de pessoas detidas?

Marcelo Marquezine - Contamos 18 pessoas, entre voluntários nossos, jornalistas, tripulação do navio etc. Foram detidos oito escaladores nossos, que escalaram a esteira do porto da Cargill e conseguiram bloqueá-la, parando assim o fluxo de soja para dentro do silo.

Rets - Sob que alegação?

Marcelo Marquezine - Não sabemos ao certo ainda. Várias pessoas foram detidas dentro do navio, ou seja, não estavam fazendo nada no porto da Cargill. Eles trouxeram quem estava no caminho: imediatos, escaladores etc.

Rets - E o Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia, está detido sob que alegação?

Marcelo Marquezine - Ele é uma pessoa conhecida, coordena o programa. Provavelmente foi por isso que o trouxeram.

Rets - Alguém já foi liberado?

Marcelo Marquezine - Duas pessoas: um câmera e o capitão. Ambos argentinos, coincidentemente. Segundo o jargão policial, foram liberados porque estavam envolvidos em ato de menor potencial ofensivo.

Rets - Pelo que você está vendo aí, as pessoas devem ser liberadas ainda hoje?

Marcelo Marquezine - Acredito que sim. Elas não foram presas, mas sim detidas. Estão preenchendo um termo e sendo liberadas.

Rets - Algum sojeiro foi detido?

Marcelo Marquezine - Sim, uma pessoa. Também não sabemos sob que alegação.

Rets - Onde você estava no momento da confusão?

Marcelo Marquezine - Eu estava em terra, acompanhando por binóculo, rádio e celular. Foi uma coisa muito violenta. A intervenção da polícia foi que nos ajudou, e a dificuldade de subirem no barco também. Os sojeiros – pelo menos é o que eles alegam ser, mas não se tem certeza de que são – chegaram em três barcos, revoltados, enfurecidos.

Marcelo Furtado, coordenador de Campanhas do Greenpeace, conversou com a Rets por volta das 18h desta sexta.

Rets - Em alguma outra cidade, na Amazônia ou fora dela, vocês experimentaram esse tipo de situação?

Marcelo Furtado - Não, nunca, em lugar nenhum. Essa violência não tem nenhum paralelo. Neste exato momento, está acontecendo uma manifestação de sojeiros em frente à delegacia. Eles chegaram ao cúmulo de ameaçar o Paulo Adário mais cedo, quando ele estava dentro do carro da Polícia Federal, prestes a ser levado para a delegacia. Vários gritaram: "Paulo Adário, você não vai chegar lá vivo". É uma situação em que você não acredita que está no Brasil.

Rets - E a polícia, o que fez? Tem ajudado vocês?

Marcelo Furtado - Os policiais ficaram preocupados em levar o Paulo com integridade até a delegacia. A polícia, nesse momento, é nossa única garantia de segurança.

Rets - Depois de Santarém vocês seguem para Manaus (AM), certo? Qual a expectativa para essa cidade?

Marcelo Furtado - Sim, seguimos. Estão inclusive marcadas atividades com a Prefeitura de Manaus, que é uma Cidade Amiga da Amazônia [título concedido pelo próprio Greenpeace]. Viemos de Belém, que ainda não é Cidade Amiga da Amazônia, mas tivemos uma ótima reunião com a secretária Municipal de Meio Ambiente de lá, na qual ficou firmado o compromisso de apresentarem o programa no encontro do Pólo Belém, união de 28 cidades do entorno da capital paraense. Isso é particulamente importante, pois são cidades não só consumidoras de soja, mas também produtoras.

Rets - Ou seja, só em Santarém vocês experimentaram esse tipo de hostilidade.

Marcelo Furtado - Só aqui, e são ações de uma minoria. Vimos em várias palestras que fizemos em escolas e comunidades a aceitação que o Greenpeace teve. Muitos nos agradeceram por compartilharmos informações deconhecidas deles, quando falamos sobre o que está acontecendo: o avanço da soja sobre a floresta. O fato aqui, a grande denúncia que estamos fazendo, é o papel de uma multinacional de alimentos que está destruindo a Amazônia.

À apologia que os sojeiros estão fazendo contra a internacionalização da Amazônia, como forma de nos atacar, nós rebatemos informando que, na verdade, eles é que estão internacionalizando, ao venderem para uma empresa familiar americana. O que o Greenpeace demanda é um modelo de desenvolvimento da região que não destrua os recursos naturais. Além disso, queremos que os programas governamentais saiam do papel.
(Por Maria Eduarda Mattar, Rede de Informações para o Terceiro Setor)

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