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2006-05-22
Dezessete ativistas da organização Greenpeace foram detidos pela Polícia Federal sexta-feira (19) em Santarém (PA) após um protesto no porto da multinacional graneleira Cargill, na confluência dos rios Amazonas e Tapajós. Os ambientalistas, que protestam contra o plantio de soja em áreas de floresta, foram presos após um tumulto envolvendo funcionários da empresa e sojicultores contrários à presença da ONG no Pará.

O protesto começou às 8h45, quando o navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, atracou no porto para obstruir a aproximação de uma balsa que descarregaria grãos.

"A Capitania dos Portos falou pelo rádio que não tínhamos autorização e que nossa ação era ilegal", disse Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace. "Respondi que o que era ilegal era o porto da Cargill, questionado pelo Ministério Público, e que iríamos ficar lá."

Antes de a polícia chegar, cinco dos quase 40 tripulantes do navio desembarcaram e tentaram escalar duas colunas que sustentam uma ponte do porto para tentar estender uma faixa com a inscrição "Fora Cargill". Funcionários da empresa impediram a escalada usando jatos d´água. Quando a polícia chegou, os alpinistas foram presos e o restante da tripulação se trancou dentro de compartimentos do navio.

A situação ficou mais tensa quando um grupo de sojicultores conseguiu entrar no porto e tentou invadir a embarcação. A polícia federal conteve a reação e depois arrombou ela própria as portas das cabines para deter outros ativistas do Greenpeace.

O navio foi rebocado depois para longe. Segundo a ONG, uma ativista se feriu após cair da coluna que tentava escalar e outro foi atirado na água. A Cargill nega ter funcionários envolvidos nas agressões. "Infelizmente, contudo, muitos habitantes locais são contrários à campanha do Greenpeace na Amazônia", afirmou a empresa em um comunicado. Paulo Adário, porém, diz que a Cargill "facilitou" o acesso dos sojicultores às suas instalações.

Adário diz ter sofrido ameaças de morte e quer reavaliar a agenda do Greenpeace para os próximos dias em Santarém. "Está marcada uma manifestação na cidade para domingo, juntamente com outras ONGs, mas não sei se vai ser seguro participar." Até o fechamento desta edição os integrantes do Greenpeace continuavam na sede da Polícia Federal, que estava cercada por uma manifestação de sojicultores. Alguns policiais foram encarregados de proteger o navio.

Desmatamento exportado
A multinacional Cargill é apontada em um recente relatório do Greenpeace como a principal "vilã" do desmatamento na Amazônia por fomentar a produção de soja para exportação. As obras do porto da empresa, indutor da recente expansão da soja para a região de Santarém, sofreram contestações por parte do Ministério Público por falta de estudos de impacto ambiental. As instalações recebem e estocam grãos que vêm de outras partes da Amazônia. De lá, a soja vai para a Inglaterra, onde é processada pela Sun Valley, subsidiária da Cargill que faz ração de frango.
(Folha de S.Paulo, 20/05/06)

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