Jaquirana também está em emergência
2006-05-19
Em situação de emergência desde a semana passada, Jaquirana, na Serra, tem
problemas de falta de água no interior, onde algumas localidades são atendidas
por caminhão-pipa. Estão em situação de emergência 74 municípios no Estado e
oito racionam água.
Jaquirana apelou ao decreto, um pedido de ajuda aos governos estadual e federal.
A situação está sendo vistoriada pela Defesa Civil para o cálculo dos prejuízos.
- No ano passado, o problema não foi tão grave nem tão longo. A maior perda está
ocorrendo na pecuária leiteira, que já prevê quebra de 50% - diz o prefeito
Isaias Castilhos Pereira (PDT).
Na zona urbana, onde vive a metade dos 5,2 mil habitantes, os poços artesianos
da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) dão conta do abastecimento. No
interior, todos os dias um caminhão-pipa leva água a moradores que viram seus
poços secarem.
Por falta de chuva, espigas do milho são bem menores
A semente era boa, mas a planta não vinha. Culpa das saracuras e dos perdigões
que deviam estar atacando o milharal, pensaram Nilson Gomes de Oliveira, 68 anos,
e Ilda Souza de Oliveira, 62 anos. Para resolver a questão, o casal providenciou
um espantalho. Não resolveu. O problema vinha do céu, mas não era causado pelas
aves. Era falta de chuva. Hoje, o boneco continua lá, cuidando de uma metade
estéril da plantação. À sua volta, só nasceram ervas daninhas.
Da outra metade, onde a terra é mais úmida, virá uma colheita tímida. As espigas
que brotaram são bem menores do que normal. Nesse um hectare - na localidade de
Barra da Chapada, em Jaquirana -, que já chegou a dar 70 sacas de 20 quilos
cada, eles não esperam mais do que a metade disso.
Maria de Oliveira, 42 anos, não precisa do socorro dos caminhões-tanque que a
prefeitura de Jaquirana está enviando para a localidade de Chapada. Um poço
artesiano abastece sua propriedade.
No entanto, o negócio que sustenta sua família não poderia escapar ileso da
estiagem: um pesque-e-pague. Dois dos nove açudes que mantém estão secos. Foram
esvaziados na Páscoa, mas já deveriam estar cheios de novo, segundo a dona do
pesque-e-pague.
- Pelo menos ainda não morreram peixes, como no ano passado - conta ela.
O movimento de fregueses - que procuram o local também para acampar ou almoçar
sob as árvores - caiu pela metade. A queda se deve principalmente a uma decisão
tomada por Maria. Este ano, ela não encheu a piscina, atração preferida das
crianças.
- Não tem como ver gente passando sede e deixar a piscina cheia - explica ela.
A água que abasteceria a diversão acabou sendo destinada ao consumo, e não se
restringiu à propriedade de Maria. Solidária, ela cedeu água do poço aos
vizinhos. Ironicamente, a região em que Maria vive é cercada por rios. De um
lado, fica o Tainhas. De outro, o Rio das Antas.
(ZH, 19/05/06)