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2006-05-19
O Brasil poderá trocar o gás natural por álcool nas usinas térmicas. A alternativa, que reduzirá a dependência do País em relação ao gás boliviano, já vem sendo testada pela Petrobrás há alguns meses, com resultado positivo. É uma solução que pode ser acionada no "curtíssimo prazo", segundo fontes que acompanham os testes. Os estudos serão apresentados hoje aopresidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

Segundo técnicos, a troca do gás pelo etanol exigiria uma adaptação dos equipamentos das usinas térmicas mas, explicam, são alterações tecnologicamente simples. Outra possibilidade, também de curto prazo, é trocar o gás natural pelo óleo combustível nas usinas térmicas.

Ao desenvolver essas alternativas, o governo quer demonstrar que o Brasil não depende totalmente do gás boliviano. Mais do que soluções a serem realmente adotadas, esses são trunfos a serem usados nas negociações com a Bolívia em torno dos novos preços do gás. Caso a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) insista em aumentos exorbitantes, a Petrobrás deixará claro que não precisa aceitá-los, pois tem como garantir o abastecimento de outras formas.

A solução para atingir a independência no gás, porém, vem de outras medidas. Lula será informado sobre o plano de acelerar a produção de gás no País. Terça-feira, o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, disse em audiência no Senado que é possível "inclinar a curva" de fornecimento de gás a partir de fontes no País. Ou seja, é possível antecipar planos e aumentar o suprimento internamente. Ontem, rumores diziam de que a exploração de gás na Bacia de Santos (SP) poderia ser antecipada de 2008 para 2007.

Independentemente do imbróglio com a Bolívia, já estavam em estudos medidas para permitir o abastecimento do País com gás importado de outras regiões.

Nesse caso, o produto é resfriado, transformado em líquido e transportado em navios. Chegando ao Brasil, o gás liquefeito precisa ser convertido novamente em gás e injetado nos gasodutos. Essa conversão é feita de duas formas: ou o próprio navio tem um equipamento para transformar líquido em gás (há sete embarcações do tipo em operação no mundo), ou esse trabalho é feito nas chamadas unidades regaseificadoras.

Há estudos para instalar usinas desse tipo em Suape (PE), Pecém (CE), no Rio de Janeiro e na Região Sul. São todos pontos onde já há gasodutos. Cada uma custa perto de US$ 250 milhões e leva de um ano e meio a dois anos para ser construída. Elas serão construídas porque fazem parte de uma estratégia para aumentar a segurança do sistema de abastecimento de gás no País.

MATRIZ ENERGÉTICA
O ponto central da pauta do CNPE não é a crise com a Bolívia, mas a discussão de um plano de 30 anos para a energia no País. O gás, porém, é um ponto crítico porque é o único produto da matriz energética em que o Brasil não é auto-suficiente. As medidas mais imediatas em estudos visam à independência no gás. A auto-suficiência será um próximo passo.

No plano de 30 anos está incluído o Gasoduto do Sul, que trará gás da Venezuela até a Argentina, passando pelo Brasil. O plano é formar uma rede ligando países fornecedores como a Venezuela, a Bolívia e o Peru, a fontes consumidoras como o Brasil e o Chile.

A diversificação das fontes fornecedoras garantirá uma maior estabilidade nos preços e a segurança no abastecimento.

Serão discutidos ainda novos investimentos em usinas hidrelétricas, como as Usinas de Madeira e de Belo Monte, que quando concluídas agregarão 17 mil megawatts ao sistema brasileiro. É o dobro da energia hoje fornecida pela Bolívia.
(O Estado de S. Paulo, 18/05/06)

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