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2006-05-18
O debate “Problematizando a monocultura de arbóreas” realizado na última terça-feira (16/05) pelo diretório acadêmico da faculdade de agronomia da Ufrgs (Dalc) mostrou que ainda há muita polêmica sobre o real passivo socioambiental que pode ser gerado por monoculturas de árvores no Rio Grande do Sul.

De um lado, representados no evento por Edson Cadore, da Via Campesina, estão as opiniões contrárias às plantações de eucaliptos e pinus. A Via Campesina tem como discurso a hipótese das plantações de monoculturas “concentrarem renda e riquezas nas mãos de poucos”. De outro lado figuram aqueles que acreditam que no Rio Grande do Sul e no Brasil “há condições favoráveis de clima e de solo para o plantio de eucaliptos” e que o país precisa aproveitar suas vastas áreas de terra para plantar árvores e gerar riquezas, como afirma o diretor executivo da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), José Lauro de Quadros.

Entre argumentos contrários e favoráveis à implantação de monoculturas, a avaliação do professor Carlos Nabinger, do Departamento de Plantas Forrageiras da Faculdade de Agronomia da UFRGS. Ele sugere, sobretudo, um olhar apurado sobre a conservação do bioma pampa, na Metade Sul do Estado, que “está cada vez mais fragmentado e impactado”.

Segundo o pesquisador, estima-se que atualmente restam preservados apenas oito milhões dos 17 milhões de hectares originalmente ocupados pelos campos gaúchos. A redução da biodiversidade nessas áreas ocorre em função do avanço das lavouras e em alguns casos pelo mau manejo dos campos naturais. Sua preocupação diz respeito à necessidade de conservação destas áreas. “Cerca de 25% da fauna e da flora estão correndo risco de extinção no Estado. Isso é um suicídio que o homem está cometendo”, avalia.

Para evitar mais danos aos campos gaúchos, o doutorado em Zootecnia pela Ufrgs sugere que o plantio de árvores exóticas para produção de celulose seja rigidamente disciplinado e debatido para que não ocorra o que aconteceu com o avanço da sojicultura no Rio Grande do Sul. Os produtores rurais devastaram milhares de hectares do Estado e depois tiveram que abandonar as lavouras, pois elas estavam em áreas que não eram próprias para estes cultivos.

Situação Limite
Para Edson Cadore, da Via Campesina, o problema não está centrado apenas na monocultura de eucaliptos. O debate é bem mais profundo e diz respeito à vida de milhares de pessoas que vivem no campo e estão sujeitas a esse modelo de desenvolvimento que exclui e concentra rendas.

“Nem sempre os camponeses conseguem manter sua história de conformidade com o curso dos acontecimentos sociais, econômicos e políticos que se sucedem na sociedade na qual fazem parte. Nem sempre mantém a silenciosa resignação perante a exploração e a exclusão social que os latifundiários e grandes empresas capitalistas, madeireiros e grileiros lhes impõem”.

Para Cadore, a situação chegou ao limite, por isso milhares de mulheres camponesas invadiram o horto-florestal “de uma grande empresa capitalista” como forma de manifestar sua contrariedade, se opondo à homogeneização florestal do eucalipto. “Os meios de comunicação de massa, os governos e algumas organizações sindicais de trabalhadores se sentem constrangidas e surpresos pela presença ativa dessas mulheres que desejam afirmar a vida camponesa no seu convívio criativo e harmonioso com a natureza”, comenta.

Ele frisa que as manifestantes da Via Campesina acreditam plenamente “que o deserto verde que vem sendo criado pelas multinacionais de celulose deve ser barrado e superado não somente no Estado, mas em todo o Brasil”. Para o membro da Via Campenisa, “a ação das mulheres camponesas declara que a natureza não é um negócio e a vida não é uma mercadoria”.

Outro dado incorporado ao debate por Cadore diz respeito à população que vive no campo. Hoje, cerca de 20% dos brasileiros, aproximadamente 40 milhões de pessoas, vive no campo. Com a implantação desse modelo de monocultura de árvores, a Via contabiliza que apenas 5% desse total vai continuar no campo. “Tem uma bomba migratória para ser despejada nas grandes cidades e isso deve acontecer nos próximos seis anos”. Ele mostra preocupação também para a unilaterização das informações, que muitas vezes são passadas apenas por aqueles que detêm o capital ou que tiram algum proveito da situação: “está havendo uma monocultura da mente”, analisa.

Brasil como alternativa de produção
Para o representante da Ageflor a oferta de madeira está diminuindo no mundo e o país precisa aproveitar suas vastas áreas de terra para plantar árvores e gerar riquezas. “O mundo é uma aldeia global e nós precisamos estar onde há oportunidades de negócio para gerar empregos e capital”.

Ele sustenta que os grandes exportadores mundiais de celulose, como Canadá, EUA, Finlândia e Suécia estão sofrendo algum tipo de restrição e o país pode aproveitar essas limitações dos países do Hemisfério Norte para ganhar mercado. Para exemplificar, cita o Canadá, onde atualmente há restrições ambientais para o cultivo da área, ou a própria escassez de madeira registrada no sul dos EUA.

O Rio Grande do Sul oferece, além de condições favoráveis de clima e solo, disponibilidade de terras, baixo custo florestal e silvicultura avançada, “por isso que a Ageflor busca atrair novas indústrias para o Estado. Se nós entrarmos com competência neste ramo, poderemos nos tornar um grande pólo florestal mundial”.

Outro fator que propicia o investimento nessa área, segundo Quadros, é o fato de a plantação de eucaliptos não estar sujeita às oscilações do mercado internacional e nem climatológicas, como a soja, por exemplo. “Nesses últimos três anos de seca, os prejuízos nas florestas foram mínimos. O risco é muito menor que num cultivo de soja, ou de milho: se faltar chuva o ciclo pode estar comprometido. A chance de recuperação é só no próximo ano”, afirma, acrescentando que toda atividade humana causa impacto ambiental. “Precisamos utilizar a ciência, visando que o impacto seja o menor possível, que não haja destruição, dando sustentabilidade e segurança à sociedade”.
Por Tatiana Feldens

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