(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2006-05-16
Por Eduardo Athayde * É assim que o presidente do WWI tem se referido ao Brasil mundo afora. O primeiro-ministro britânico Tony Blair, sintonizado com a emergente ecoeconomia, solicitou do Serviço de Economia do Reino Unido relatório sobre a economia da mudança climática, a ser apresentado na reunião do grupo dos sete países desenvolvidos mais a Rússia (G-8) em julho próximo, em São Petersburgo. Lá, entre ricos investidores, o Brasil, oficialmente convidado, será mais cortejado pelas crescentes safras sucroalcooleiras e pelo destacado potencial em fontes de energias renováveis do que pela auto-suficiência em petróleo comemorada.

Relatório independente do Worldwatch Institute (WWI), "Renewable-Global Status Report", reuniu cerca de 100 pesquisadores em mais de 20 países mostrando que o suporte governamental para energias renováveis cresce rapidamente. Quarenta e oito países, incluindo 14 em desenvolvimento, têm algum tipo de política pública voltada a energias renováveis. A maioria das políticas visa atingir de 5% a 30% de produção de energia de fontes renováveis até 2012.

O relatório destaca o envolvimento de grandes grupos transnacionais como General Electric, Siemens, Sharp, Shell, Grupo Suez e os países líderes de mercados. Brasil, em biocombustíveis; China, em energia solar para aquecimento de água; Alemanha, em eletricidade a partir de energia solar; e Espanha, em energia eólica.

Christopher Flavin, presidente do WWI e especializado em energias renováveis, tem se referido ao Brasil como a "Arábia Saudita das energias renováveis" nas palestras e entrevistas realizadas em todo o mundo.

Numa economia global cada vez mais integrada, onde todas as nações competem pelo mesmo petróleo, o empenho para conquistar a estratégica auto-suficiência brasileira, merecidamente festejada, já não tem isoladamente a mesma importância, ou peso, que tinha há décadas atrás. O apelo mundial por fontes de energias limpas, redutoras de desequilíbrios climáticos, e os crescentes prejuízos causados pelos desastres naturais, que nos últimos dez anos foi de US$ 570 bilhões, atraem a atenção de investidores influenciados por ações como as do premiê Tony Blair, impulsionadas por indicadores como o DJSI-Dow Jones Sustainability Index.

Dados reveladores levam o Brasil a se destacar no cenário internacional. Enquanto o licenciamento de veículos flex-fuel lidera as estatísticas, atingindo 68,2% em dezembro de 2005 e 72,8% em janeiro de 2006, o biodiesel compete com o petróleo na produção de subprodutos como a glicerina, matéria-prima para a produção de adesivos, têxteis, produtos farmacêuticos, tintas "e muitos outros que estão por todos os cantos", como diz a propaganda comemorativa da Petrobras. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a mistura B5 (adição de 5% de biodiesel ao diesel) criaria aproximadamente 185 mil empregos no campo e geraria uma renda superior a US$ 1 bilhão; informação ampliada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), quando mostra que 5% de biodiesel misturado ao óleo diesel representa uma economia de divisas da ordem de US$ 350 milhões/ano.

O Dia da Terra foi coincidentemente comemorado quando o preço do barril de petróleo chegou ao pico histórico de US$ 75. Marcando a data, o presidente americano George W. Bush, em visita à Califórnia, voltou a defender os investimentos em energias renováveis. Bush sabe que hoje, para cada 1% de álcool que a Califórnia adicionar ao combustível automotivo, poderá evitar a emissão de 340 mil toneladas de dióxido de carbono/ano, economizando US$ 22 milhões anuais. Estrategicamente rende-se à visão de Henry Ford no início do século XX, quando afirmou que o álcool derivado de biomassa era o "combustível do futuro". Os americanos, que gastam 43% da gasolina do planeta para movimentar internamente 5% da população global, e estão pagando R$ 2,66, em média, por litro de gasolina, quase o mesmo preço da nacional, especulam sobre os biocombustíveis brasileiros.

No livro "Ecoeconomia" (download gratuito em português no site www.wwiuma.org.br), Lester Brown, fundador do WWI, projeta cenários globais, mostrando, por exemplo, que, se a China focasse no modelo americano de três carros para cada quatro habitantes, alcançaria sozinha o total de 1,1 bilhão de carros (hoje existem no mundo 800 milhões de carros). Para oferecer as vias e espaços de estacionamento teria de pavimentar uma área de 29 milhões de hectares, equivalente à usada hoje para cultivar arroz, seu alimento básico. Realistas, os chineses entendem a impossibilidade de atingir o padrão de consumo americano, para o qual precisariam de 99 milhões de barris de petróleo/dia (o mundo produz atualmente 84 milhões de barris/dia), e no seu décimo planejamento qüinqüenal – que não inclui meta de auto-suficiência em petróleo – prevêem investimentos de US$ 85 bilhões para adaptações a novos critérios ambientais de sustentabilidade.

A comprovada competência que levou a Petrobras – empresa de energia – a alcançar a auto-suficiência em petróleo também pode ser usada para liderar mundialmente a produção de energias limpas, cujo mercado cresce em torno de 20% a 30% ao ano, empreendendo sustentavelmente o hiperdotado patrimônio natural nacional.

Hoje, mais valiosas que o petróleo são as mentalidades dos novos líderes de governos, corporações e sociedade civil organizada e suas decisões "renovadas". O efeito Bolívia reforça as atenções internacionais para o título de "Arábia Saudita das energias renováveis". Será que aproveitaremos essas oportunidades?
* Eduardo Athayde é diretor do Worldwatch Institute (WWI) no Brasil
(GM, 16/05/06)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -