Plantio orgânico cresce em assentamentos da reforma agrária
2006-05-16
Sob os cuidados de assentados da reforma agrária, a produção agroecológica vem
se destacando em algumas regiões do Brasil. Além de conservar o solo fértil, o
cultivo de alimentos orgânicos garante a sobrevivência do trabalhador rural e
de sua família, fortalecendo o vínculo do homem com a terra. São alimentos
limpos e saudáveis, sem contato com agrotóxicos e adubos químicos. Esses são
alguns dos aprendizados já incorporados à rotina dos assentados que lidam com o
cultivo orgânico.
No extremo oeste do estado de São Paulo, o Instituto de Pesquisas Ecológicas
(IPÊ) promoveu o Projeto Café com Floresta no Pontal do Paranapanema.
Implementado em 2002, o projeto foi criado para gerar suficiência alimentar aos
moradores de assentamentos e diversidade ecológica em uma região cercada pelo
Parque Estadual Morro do Diabo, o maior remanescente da tão ameaçada Mata
Atlântica no interior. O projeto atende hoje mais de 70 famílias distribuídas
em oito assentamentos do Pontal. Com o auxílio de extensionistas rurais, os
agricultores assentados plantam café sem agrotóxicos e reservam um hectare de
espaço do seu lote para o plantio de árvores nativas, contribuindo para a
restauração da biodiversidade local.
No assentamento Tucano, localizado no município de Euclides da Cunha (SP), o
projeto já iniciou há seis anos. O presidente do IPÊ, Jefferson Lima, conta que
a idéia do café sombreado, uma tecnologia utilizada na Costa Rica, na Guatemala
e no México, foi adaptada juntamente com outras culturas produzidas nos lotes
dos assentados - como mandioca, milho e feijão -, o que garante a melhoria do
solo e a sua diversidade. “Hoje eles têm uma diversidade grande de plantio,
numa área pequena, de um hectare, que dá sustento alimentar para toda a família
e alimentos de excelente qualidade, em quantidade farta. Dá até para fazer troca
entre vizinhos também”, avalia Jefferson.
Uma experiência promissora
Jorge Rodrigues de Oliveira e sua família participam do Projeto Café com
Floresta no assentamento Tucano. Ele possui 3 mil pés de café, que plantou há
três anos, e começou a colher este ano. “Esperamos aumentar a área de plantação
para aumentar também a produção e a renda”, planeja ele. Jorge e sua esposa,
Teresinha dos Santos Oliveira, contam que antes do projeto nunca tinham ouvido
falar no cultivo orgânico e, por isso, houve resistência ao mudar a atividade
tradicional. “Ficamos curiosos porque achávamos que não ia dar certo, fizemos
por experiência mesmo”, comenta Teresinha.
Ela explica que os técnicos do IPÊ deram toda a assistência na implantação do
projeto, pois ajudaram na terra, nas mudas e no plantio do café, onde foi usado
esterco de gado e folhas seca do quintal que antes eram queimadas. Na área do
café, a família dele também planta abóbora, milho, feijão e cultiva amora. “O
sabor do café orgânico nem tem comparação ao tradicional. É outro, bem
diferente”, destaca Teresinha.
Agroecologia no Pronera
No município de Cantagalo (PR), o Programa Nacional de Educação na Reforma
Agrária (Pronera), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra), formou recentemente 40 alunos da segunda turma do curso técnico em
Agropecuária com ênfase em Agroecologia, no Centro de Desenvolvimento
Sustentável e Capacitação em Agroecologia (Ceagro). No local, foi criado um
modelo de assentamento sustentável pelo qual as espécies de plantas e animais
nativos são preservados sem utilizar fertilizantes químicos e venenos.
Durante o curso, os alunos de assentamentos aprenderam as técnicas de um sistema
intensivo de manejo do gado, da pastagem e do solo. O sistema procura manter
um equilíbrio dos três elementos, sem beneficiar um em detrimento de outro. Com
duração de dois anos, o curso é realizado em regime de alternância, com 60 dias
passados dentro da escola e 90, na comunidade. Com isso, os alunos adquirem os
conhecimentos na sala de aula e os colocam em prática. Os profissionais saem
capacitados para auxiliar na melhoria das condições de vida dos assentados,
incrementar a produção e proteger o meio ambiente.
Durante o ano de 2005, foi investido R$ 1,3 milhão no estado, beneficiando 362
alunos em oito cursos. Cléia Pawlak é um exemplo de que o curso dá certo. Ela
se formou na primeira turma do curso de Agropecuária com ênfase em Agroecologia.
“O importante nesse sistema é que aproveitamos os nutrientes e irrigamos a
plantação sem custos extras”, ressalta.
Arroz no Rio Grande do Sul
Segundo o técnico do Incra no Rio Grande do Sul, André Luís Oliveira, o
crescimento no número de produtores de arroz orgânico foi acentuado na região
com a agregação dos assentamentos. Oliveira destaca que só na região de Porto
Alegre (RS) a área já ultrapassa 700 hectares plantados em assentamentos rurais.
“Está acabando a lógica de que para se plantar arroz deve haver um grande
capital investido”, esclarece.
O assentamento Filhos de Sepé, em Viamão (RS), além de produzir o arroz
orgânico, também é conhecido no estado por possuir a maior área de assentamento
e o maior número de famílias. São 376 famílias numa área de 9,6 mil hectares.
Hulli Marcos Zang conta que 30 famílias tiveram acesso ao Pronaf B para auxiliar
na produção, que começou há quatro anos. Segundo ele, o fato de o assentamento
estar dentro de uma área de proteção ambiental foi motivação para o cultivo
orgânico.
A saúde foi outra condição importante na escolha. Algumas das famílias que
produzem o arroz orgânico já trabalharam com agrotóxicos e optaram por uma
técnica mais saudável. “Nós somos agricultores familiares e descobrimos que a
produção orgânica seria o caminho mais viável para manter nossa atividade”,
avalia Zang.
Programas de incentivo
Para incentivar o crescimento da agricultura ecológica no Brasil, o Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA) apóia a produção orgânica de agricultores
familiares com uma linha de financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf) específica para o setor. O crédito incentiva
os agricultores que queiram investir em agroecologia.
Além disso, também é desenvolvido o Programa Nacional de Agroecologia. O
objetivo é fortalecer as iniciativas realizadas pela agricultura familiar,
criando condições de estímulo à transição da produção tradicional para modelos
sustentáveis, por meio da implementação de políticas, programas e projetos da
Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do MDA, em parceria com os ministérios
do Meio Ambiente, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Ciência e
Tecnologia.
(MDA, 15/05/06)
http://www.mda.gov.br/index.php?ctuid=9226&sccid=134