Pesquisa rastreia incêndios no Brasil
2006-05-16
Em 2005, foram registrados 161,374 focos de calor na Amazônia legal brasileira.
O número de queimadas na região foi apenas 3,04% menor do que no ano anterior.
Em estados como Mato Grosso, houve uma redução de 35%, mas em outros, como o
Acre, o número de queimadas quadruplicou (424%). Os dados fazem parte do
levantamento “Queimadas na Amazônia Brasileira em 2005”, realizado pela Embrapa
Monitoramento por Satélite .
Amazonas (168%), Maranhão (36%) e Rondônia (35%) foram outros estados que
apresentaram significativo aumento de incêndios agro-florestais.Segundo o
estudo, os principais motivos foram “frentes de povoamento e colonização”,
ampliação de pastagens e atividade madeireira.
No caso do Acre, os pesquisadores acreditam que o número foi influenciado por
construções de rodovias e por desenvolvimento econômico. Eles citam como
exemplo a conclusão da ponte que liga o sul do estado a Pucalpa, no Peru. E
enfatizam que rodovias estaduais e federais estão sendo reformadas e houve um
surto de crescimento urbano e eletrificação rural. Novas áreas agrícolas também
estariam sendo abertas com o objetivo legitimação de posse. E o Acre teve o
segundo maior crescimento de rebanho bovino da Amazônia entre 1990 e 2003.
No ano passado, o estado enfrentou a pior seca da sua história recente. Em 34
anos de medição pluviométrica , nunca se registrou tão pouca chuva, nem tamanha
falta de umidade no ar, como em 2005. Devido à seca atípica, os fogos iniciados
em chácaras ou pastagens se expandiram mata adentro, multiplicando a superfície
queimada e causando estragos de certa forma imprevisíveis, uma vez que a
floresta amazônica não está acostumada com esse fenômeno, comum no cerrado.
Menos fogo
Entre os estados que diminuíram suas taxas de queimadas está Roraima (menos 42%)
e Amapá (menos 57%). Já o Tocantins, ficou estável. “O estado já foi a maior
fronteira agrícola do país”, diz Adriana Vieira de Moraes, pesquisadora de
Agrometeorologia e uma das autoras do estudo, “Agora, mantém o número de
queimadas praticamente inalterado, com uma ligeira diminuição”. Para Adriana,
uma das razões é o esgotamento do estoque florestal. A maior parte das áreas em
que se poderia exercer algum tipo de atividade agrícola já estão desmatadas.
“Não há mais o que queimar”, afirma, “Ainda há áreas verdes, mas elas não são
tão propícias – em termos de tamanho e localização, por exemplo – para a
agropecuária”.
Para Carlos Eduardo Young, economista e colunista de O Eco, o recuo dos índices
de queimadas nesses estados foi conseqüência do aumento da fiscalização e da
crise econômica referente à carne e à soja brasileira. “Há o fator institucional
– o arrefecimento da fiscalização, principalmente depois do caso Dorothy Stang
– e o fator econômico”, comentou. A sobrevalorização do câmbio tornou pouco
rentável a expansão da produção, já que os preços pagos no mercado externo
ficaram consideravelmente mais baixos. Com isso, a fronteira agrícola, principal
fator de desmatamento na Amazônia, deu uma freada.
Previsões para 2006
O período de chuva deste ano terminou em abril e os satélites do INPE já
detectaram nos primeiros dias de maio um aumento significativo no número de
focos de calor – que não necessariamente indicam a presença de queimadas e
incêndios, mas são indicadores de onde há altas temperaturas concentradas. No
mês de abril, foram detectados 836 focos no país. Só nos dez primeiros dias de
maio, o número já chegou a 575.
Segundo o engenheiro Alberto Setzer, responsável pelo monitoramento de queimadas
realizado pelo Inpe, ainda é cedo para traçar qualquer cenário para este ano.
“É como tentar dizer o resultado do jogo com cinco minutos de partida. Você pode
até fazer um gol no início, mas a situação final é imprevisível”, afirma. As
queimadas que se realizaram até agora, representam apenas cerca de 5% do total.
Mas uma coisa é certa: 2006 está sendo um ano mais úmido, o que ajuda a impedir
o alastramento do fogo.
(Eric Macedo, O Eco, 13/05/06)
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