Consumidor desconhece carne orgânica
2006-05-16
Estudo realizado pelo WWF-Brasil em São Paulo e Rio de Janeiro sobre o mercado
de produtos orgânicos revela que a carne orgânica ainda é um produto
desconhecido e pouco consumido no Brasil, ao contrário do que ocorre em países
europeus onde este mercado está em amplo crescimento.
Segundo o estudo, a falta de informações sobre o que é carne orgânica e sobre
os benefícios sociais e ambientais decorrentes do modo de produção orgânico são
as principais razões para esse baixo consumo no país. Atualmente, o mercado de
orgânicos (vegetais e animais) experimenta uma expansão de 15% ao ano no
Brasil, mas a carne orgânica tem uma participação em torno de 1%.
Com esse panorama identificado, a ONG ambiental pretende incentivar o consumo
responsável. O WWF-Brasil apóia a pecuária orgânica nos estados do Mato Grosso
e Mato Grosso do Sul por acreditar que o sistema produtivo orgânico contribui
para a sustentabilidade ambiental e para o desenvolvimento econômico.
Atualmente, apenas pecuaristas desses dois estados produzem carne orgânica
certificada no país. São 13 fazendas e aproximadamente 70 mil hectares em
pastagens e cerca de 55 mil cabeças de gado. Os projetos são certificados e
acompanhados pelo Instituto Biodinâmico (IBD).
A certificação exige a recuperação das áreas degradadas e a preservação das
nascentes e das matas nas margens dos rios, no entorno de nascentes e nas
encostas de morros. Além disso, o WWF-Brasil está incentivando os proprietários
a criarem Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNS), unidades de
conservação privadas e perpétuas, para aumentar o volume de áreas naturais
conservadas nas propriedades.
Nas propriedades certificadas, a atenção aos empregados também é monitorada.
Cumprimento da legislação trabalhista, moradia digna para os trabalhadores,
escolas e capacitação quanto às normas de certificação e produção orgânica são
algumas das exigências.
A pesquisa
Realizada no período de novembro de 2005 a março de 2006, a pesquisa de análise
de mercado para a carne orgânica teve o objetivo de identificar potenciais
nichos de mercado para a Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO), no
Mato Grosso do Sul, e para a Associação Brasileira de Produtores de Animais
Orgânicos (Aspranor), no Mato Grosso.
No Rio de Janeiro e São Paulo (capitais), foram entrevistados 763 consumidores
e 107 estabelecimentos comerciais com venda direta (churrascarias, restaurantes,
açougues ou butiques de carne), além de pesquisados 79 canais de
comercialização do mercado de varejo (supermercados e hipermercados).
Do universo de 763 consumidores entrevistados – homens e mulheres na faixa entre
31 e 60 anos –, 70% desconheciam o que é carne orgânica e as características
do sistema produtivo. De acordo com o estudo, o desconhecimento sobre carne
orgânica está relacionado à carência de informações sobre alimentos orgânicos
de origem animal em geral, ao contrário do que ocorre com os alimentos orgânicos
de origem vegetal, melhor difundidos e com consumo consolidado.
Outros dados apurados são que 28% dos consumidores entrevistados já viram carne
orgânica nos mercados e 31,8% pagariam a mais pelo produto por acreditarem que
a carne orgânica é de melhor qualidade. Os resultados do levantamento mostram a
preferência pelo consumo de carne bovina e a exigência quanto à qualidade,
fator que influencia na decisão de compra. Há uma disposição do consumidor em
pagar entre 5% e 30% a mais desde que o produto atenda às expectativas de melhor
qualidade.
Em relação aos mercados distribuidores foi constatado que o ambiente do mercado
interno é favorável ao desenvolvimento comercial da carne orgânica. Apesar de
se configurar como um campo aberto de possibilidades, os gerentes de compra
apontam como fatores necessários para aumentar a oferta ao consumidor, a
regularidade no fornecimento e a definição de padrão de qualidade para o produto
relacionada ao padrão tecnológico utilizado em todas as etapas da cadeia
produtiva. Isso permitirá a oferta de cortes de carnes com peso e espessura
padronizados, por exemplo.
Para definição do padrão tecnológico para o sistema de produção orgânica animal,
no entanto, ainda faltam pesquisas acadêmicas relacionadas ao controle genético
e sanitário e à nutrição. Vale ressaltar, que a Lei da Agricultura Orgânica
(Lei 10.831, de dezembro de 2003), que estabelece as normas desde a produção
até distribuição de orgânicos, ainda está sendo regulamentada.
Quanto ao mercado externo, a média de crescimento anual de consumo é de 10% na
Alemanha, Itália, Holanda, França e Reino Unido. Segundo a pesquisa
internacional "Organic Marketing Initiatives and Rural Development 2004",
alguns países do Mercado Comum Europeu tiveram um déficit de até 62% entre a produção e demanda de consumo. Os países com mercado em crescimento são Bélgica, Finlândia, França, Itália, Holanda e Reino Unido, entre outros.
O que é a pecuária orgânica?
O manejo orgânico visa o desenvolvimento econômico e produtivo que não polua,
não destrua o meio ambiente e que valorize o homem. A pecuária de corte orgânica
tem como objetivo uma produção que mantenha o equilíbrio ecológico englobando
os componentes produtivos, ambiental e social, a partir de normas estabelecidas
pelas instituições certificadoras.
Na criação, o gado orgânico é rastreado desde seu nascimento até o abate, com
registro de peso, alimentação, vacinas, entre outras informações, em fichas
individuais. A alimentação dos animais é observada com especial atenção. Além
da pastagem, outros ingredientes compõem o cardápio do gado orgânico como casca
de soja não transgênica e farelo de algodão. Esses alimentos têm procedência
garantida ou são produzidos pelos próprios pecuaristas de acordo com as normas
da certificação. Outra preocupação é quanto ao bem-estar dos animais. As
fazendas trabalham com sombreamento das pastagens e currais em formato circular
para que o gado não se machuque.
Uma das prioridades das certificadoras é garantir a segurança alimentar. Por
isso, é exigida e monitorada a vacinação, inclusive contra febre aftosa. Em
caso de alguma enfermidade, o gado orgânico é tratado com produtos fitoterápicos
e homeopáticos. Também é proibido o uso de uréia na alimentação e de hormônios
para engorda. Com relação ao meio ambiente, também é proibido o uso de fogo para
manejar as pastagens.
(Assessoria de comunicação social da WWF Brasil, 14/05/06)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1608&Itemid=2