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2006-05-16
Com a chegada da primavera européia, os suíços acorrem às lojas de jardinagem em busca de sementes e mudas para cultivar seus jardins e hortas. Ao mesmo tempo levam adubos e pesticidas. Os profissionais consultados pela swissinfo afirmam que o jardineiro amador tem a mão pesada com os produtos químicos. A contaminação dos jardins e hortas prejudica o meio ambiente (água e solo) e saúde humana.

Os especialistas reconhecem o problema mas precisam que é difícil avaliá-lo por tratar-se da esfera privada. Contudo, "os produtos de jardinagem afetam pouco os lençóis freáticos, se comparados à agricultura e à horticultura", afirma Michel Cosandey, do Laboratório Cantonal de Friburgo. Quanto aos solos, as autoridades sanitárias não têm competência para controlar a toxicidade dos jardins e hortas, justamente por serem privados.

Além disso, os produtos vendidos e destinados ao consumo individual não são submetidos aos controles sobre os gêneros alimentícios. "Certos jardins e hortas são verdadeiras descargas químicas mas cada um é livre de se envenenar ou de respeitar as dosagens corretas", conclui Marc Cosandey.

Legislação mais restritiva
"Desde 1° de agosto de 2005, a Suíça tem uma nova lei para os produtos químicos, nos moldes da União Européia", explica Pierre Crettaz, especialista em produtos químicos na Divisão Federal de Saúde Pública (OFSP). Esses restrições referem-se aos produtos químicos mais tóxicos. Pierre Crettaz acrescenta que "em pesticida há cida (que mata) e esses produtos são potencialmente perigosos". Daí a necessidade de uma autorização para comercializá-los e indicar as dosagens.

Para a saúde humana, também é difícil medir o problema. "As plantas não absorvem grandes quantidades de produtos e não podem tornar-se muito tóxicas", afirma Antoine Besson, agrônomo no Centro Horticultor de Lullier, perto de Genebra. "Por exemplo, os metais pesados têm pouca mobilidade e são encontrados em doses mínimas nas plantas comestíveis. No entanto, eles ficam no solo".

As hortas familiares
Os primeiros alvos são as hortas familiares. São pequenos terrenos alugados pelas prefeituras e que surgiram com chegada da população do campo às cidades, no século XIX. A Suíça tem mais de 26 mil áreas desse tipo e os locatários costumam fazer concorrência como ter tomates mais vermelhos ou um repolho maior do que o vizinho!

"Quanto mais antigos, mais essas hortas e jardins acumulam produtos tóxicos. Chegamos a medir resíduos de metais até 60 vezes mais do que a norma", explica Antoine Besson. O agrônomo reconhece que "é muito difícil ser econômico no tratamento de pequenas áreas se há excesso de esterco vegetal ou a pessoa não quer guardar restos dos produtos químicos que utiliza".

A mania do “limpo em ordem”
A botânica Aïda Godel critica duramente a idéia do "limpo em ordem", tão propalada na Suíça. "As pessoas têm medo dos bichinhos, tão necessários à Natureza”, afirma. "Até o século XX, não se tratava as plantas. Agora esse produtos são vendidos em qualquer supermercado e dão muito lucro, o que muda a ordem natural."

Alain Bovard é horticultor e trabalha na fábrica suíça de adubos Hauert SA. Ele lembra que os fabricantes devem indicar nas embalagens a composição e forma de utilizar os produtos. Os amadores também podem mandar analisar a terra de suas hortas e jardins. Não funciona: "Muita gente acha que colocando o dobro de adubo, dobra efeito..." Para Alain Bovard, não há desculpa porque nunca houve tantas campanhas de informação como ultimamente.

Marie Garnier, do Centro Pro Natura de Champ-Pittet (oeste da Suíça), lamenta que as pessoas contaminem os solos de maneira desnecessária. "Se a gente gosta da Natureza, deveríamos observá-la e ser atentos". Para o agrônomo, as comunas têm um papel a desempenhar, notadamente insistindo nas campanhas de informação ao público. Mas há tanta diferença entre as comunas como entre as pessoas.

Algumas tomam medidas como recolher o lixo vegetal ou os produtos químicos. Mas outras, "que têm poucos recursos e pessoal, ao invés de limpar o mato das ruas à mão tendem a fazê-lo com produtos químicos", lamenta Marie Garnier.

Para mudar a maneira de pensar e lutar contra a ignorância, Aïda Godel distribui livros, dá cursos e conferências. "As pessoas geralmente concordam em mudar, basta monstrar-lhes que combinando plantas inimigas não temos necessidade de produtos químicos". Todo ano "22 mil espécies de plantas desaparecem do planeta. Os jardins e hortas, mesmo urbanos, têm um papel a desempenhar na conservação das espécies", conclui a botânica.
(Swiss Info, 15/05/06)
http://www2.swissinfo.org/spt/Swissinfo.html?siteSect=105&sid=6699508&cKey=1147441039000

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