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2006-05-15
Embora o fenômeno "La Niña" seja apontado como o principal responsável pela estiagem que castiga o Rio Grande do Sul desde dezembro do ano passado, especialistas reconhecem que a falta de estudos e de pesquisas impede uma conclusão definitiva sobre as causas da falta de chuvas.

São 74 os municípios em situação de emergência, e oito os que sofrem racionamento de água. De acordo com o coordenador do Centro de Meteorologia Aplicada da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), Ronaldo Matzenauer, a estiagem desse ano é diferente da que atingiu o Estado entre janeiro de 2004 e março de 2005. "Antes ela foi intensa e abrangente, e nesse ano as chuvas estão mal distribuídas e irregulares. Já é uma característica do Rio Grande do Sul, mas agora ficou mais evidente", destaca. Dados do órgão revelam que, em março, com exceção de regiões como Missões e uma parte da Serra e do Planalto, choveu 60 milímetros a menos do que a média do período. Em abril, o quadro se agravou. De uma parte da Depressão Central até o Litoral Médio e na Fronteira Noroeste, choveu 75 milímetros a menos do que a média, e em municípios da Fronteira Oeste como São Borja, Ijuí e Santa Rosa, 50 milímetros.

Causas do fenômeno
Para o diretor da MetSul Meteorologia, Eugênio Hackbart, uma das causas da estiagem é o ciclo do sol. Como toda estrela, o sol tem movimentos de expansão e contração. Na expansão, ele emite mais radiações, o que torna as águas oceânicas mais quentes e aumenta os níveis de umidade e chuva. No período de contração, quando o sol está em menor atividade, acontece o contrário: as radiações diminuem, e as águas estão mais frias. Com isso, a umidade e as chuvas ficam em níveis mais baixos. De dez em dez anos, esse ciclo afeta o clima no planeta. "Se olharmos os anos de 2004/05/06 no Rio Grande do Sul, perceberemos que são análogos a 1994/95/96", afirma.

Apontada como fator mais relevante, a "La Niña" (resfriamento das águas do Oceano Pacífico na região equatorial) provoca um aumento de pressão na região e maior intensidade de ventos alísios (encontro dos ventos dos dois hemisférios). Como conseqüência, as frentes frias que atingem o Centro-sul do Brasil têm sua passagem mais rápida e mais forte que o normal.

O chefe do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas (CPMet) da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Gilberto Diniz acredita que o fenômeno está atuando desde novembro no clima do estado, mas que somente a partir de abril a atmosfera começou a responder. "Em janeiro, fevereiro e março, a estiagem foi localizada, ficando nas regiões de Bagé e Rio Grande. No Norte e Nordeste, as chuvas foram superiores à média. Se formos ver, só em abril complicou mesmo em todo o Rio Grande do Sul. Complicou ainda mais onde a situação já estava ruim", explica.

Já o professor do Instituto de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Fernando Livi, enfatiza que, se fosse o “El Niño” ou a “La Niña” os responsáveis, a falta de chuva se estenderia por todo o estado, a exemplo do que aconteceu entre 2004 e 2005. "Agora é diferente. As variáveis deveriam influenciar todo o estado. Por que reduzir a chuva só no Sul?", questiona.

"As distribuições de chuva estão irregulares, mas não há trabalhos que consigam detalhar isso", conta Livi. A falta de estudos se explica, em parte, por uma ânsia de apenas prever, e não mais compreender esses acontecimentos. "O passado parece que não mais interessa e o importante é que não aconteça de novo. Não tem havido preocupação de busca por respostas", critica.

Diniz reforça a tese de que há lacunas nas pesquisas. Não existe, por exemplo, uma explicação para a demora da "La Niña" se manifestar. "Não há definição correta sobre quando essa anomalia começa a ocorrer e nem estudo sobre isso, não se fez uma pesquisa ainda". De acordo com ele, falta de pessoal, de infra-estrutura e de tempo são dificuldades para a realização de mais estudos. Profissionais do CPMet, por exemplo, realizam várias atividades e dispõem de pouca disponibilidade para estudos complementares.

Cronologia da estiagem
Janeiro/fevereiro 2004: dez municípios do Vale do Sinos ficam em situação de alerta devido a falta de chuvas. No Centro de São Leopoldo, o rio dos Sinos está dois metros abaixo do nível normal de profundidade para aquela área, e acontece uma grande mortandade de peixes. A cidade sofre risco de racionamento. Quebra na produção de leite e grãos no Alto Uruguai.

Março/abril 2004: A estiagem, aliada à poluição, causa proliferação de algas nas águas do Guaíba. Pela segunda vez no ano, uma grande quantidade de peixes aparece morta no rio dos Sinos. No Médio Uruguai, secam as nascentes de alguns riachos e córregos.

Maio/junho 2004: Porto Alegre está na iminência de um racionamento, já que o Guaíba tem o menor nível em 20 anos. As quebras de safra começam a prejudicar outros setores. Aumenta em todo o Estado o número de incêndios.

Julho a outubro 2004: O número registrado de queimadas assusta até mesmo os órgãos públicos das regiões. Lajeado tem um aumento de 200%, em solos já prejudicados pela incidência de geada.

Novembro/dezembro 2004: o rio dos Sinos fica 1,80 metro abaixo do nível considerado normal para a época. Comunidades no interior de Erechim são abastecidas por caminhões-pipa, e o consumo humano começa a ser ameaçado. O Guaíba apresenta apenas 11 centímetros acima do nível do mar, enquanto a média histórica é de 61 centímetros.

Janeiro/fevereiro 2005: 297 municípios ficam em situação de emergência, e há prejuízos para as culturas de soja, feijão, milho e uva. A Prefeitura de São Leopoldo começa a monitorar o rio dos Sinos. A Lagoa do Peixe seca 70%, e nos 30% restantes está 60 centímetros abaixo do nível normal. É proibida a irrigação de lavouras de arroz com água proveniente do Gravataí.

Março/abril 2005: A estiagem seca lagoas do Parque Itapuã, em Viamão, e seguem os incêndios em campos e matas. A Polícia Ambiental registra aumento no número de desvios de cursos de água em Viamão, Barra do Ribeiro e Guaíba. Pequenas hidrelétricas do interior do Estado passam a produzir 20% menos energia.

Dezembro/2005: municípios começam a enfrentar racionamento de água, e várias barragens apresentam níveis abaixo da média. O rio Gravataí volta a ser motivo de preocupação, e o governo gaúcho já propõe plano para garantir o abastecimento de água em todas as regiões.

Janeiro/fevereiro 2006: A safra de milho começa a sofrer prejuízos, e os incêndios aparecem com maior freqüência. O rio Gravataí e o rio dos Sinos voltam a ter seus níveis reduzidos. O estado passa por fortes ondas de calor. Propriedades rurais do Alto Uruguai ficam sem água, e caminhões-pipa se deslocam até 150 quilômetros para realizar o abastecimento.

Março/abril 2006: Bagé não suporta a diminuição das barragens e entra em situação de emergência. Cidades da Fronteira Oeste como São Borja aguardam verbas estaduais e federais para ativar poços. A localidade de Santa Isabel, em Arroio Grande, decreta situação de calamidade pública. Sessenta e oito municípios estão em emergência.

Maio 2006: mais de 1,3 milhão de pessoas tem problemas com abastecimento e 72 cidades estão em situação de emergência. Já fora do verão, barragens como a de Erechim continuam apresentando queda dos níveis. A secretaria municipal de Agricultura de Santa Maria estima que 45% da produção agrícola esteja perdida.
Por Patrícia Benvenuti

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