Chances de termelétricas a carvão no leilão de energia crescem
2006-05-15
Se uma declaração dada pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
Maurício Tolmasquim, afirmando que as termelétricas a carvão têm boas chances
no próximo leilão de energia já animavam o setor carbonífero no mês de março, o
atual impasse quanto ao gás natural boliviano aumenta ainda mais as perspectivas
dos empreendimentos. O leilão do governo federal, que garante a compra de
energia proveniente de novos empreendimentos, será realizado no dia 12 de junho.
“Realmente, a insegurança quanto ao fornecimento do gás favorece aos
empreendimentos a carvão”, afirma o diretor do Centro Brasileiro de
Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires. Apenas dois projetos a carvão, ambos
situados no Rio Grande do Sul, solicitaram habilitação técnica para participarem
do leilão, Seival e CTSUL. A usina de Seival prevê um investimento de US$ 830
milhões e uma capacidade de geração de 500 MW no município de Candiota. A
termelétrica CTSUL necessitará um investimento de cerca de US$ 850 milhões para
poder gerar até 650 MW em Cachoeira do Sul. Operando na capacidade total, os
dois complexos somados poderiam atender em torno de um terço da demanda de
energia do Rio Grande do Sul.
Apesar desse cenário otimista, os investidores das termelétricas a carvão ainda
são cautelosos ao comentar o assunto. “Esse contexto mostra a importância da
diversificação da matriz energética nacional”, argumenta o coordenador do
projeto Seival, Roberto Faria. O projeto Seival ainda tenta se adaptar aos
prazos determinados pelo leilão e talvez não consiga participar da disputa. Já
o empreendimento da CTSUL está mais adiantado e, no dia 21, será realizado um
plebiscito, em Cachoeira do Sul, para observar a opinião da população local
quanto à implantação da usina. “Queremos que o processo seja o mais claro
possível”, diz o presidente da CTSUL, Douglas Machado Carstens.
O dirigente da CTSUL, como Faria, também se contém ao comentar as possíveis
vantagens que a situação do gás natural boliviano pode fornecer ao carvão. “O
momento realmente é propício, mas o que determina o sucesso de um
empreendimento é sua viabilidade econômica”, afirma Carstens. Justamente por
acreditar no potencial econômico do carvão gaúcho, o secretário estadual de
Energia, Minas e Comunicações, José Carlos Brack, realiza até o fim do mês uma
reunião com a diretoria da Companhia Riograndense de Mineração (CRM) para
planejar ações que possam incentivar o uso do insumo. “Em Santa Catarina, devido
ao medo da falta de fornecimento de gás natural, a indústria de cerâmica estuda
o uso do carvão em suas linhas de produção”, destaca Brack. Conforme dados da
secretaria estadual de Energia, Minas e Comunicações as reservas brasileiras de
carvão conhecidas são de cerca de 32,6 bilhões de toneladas, sendo que 89%
delas concentram-se no Rio Grande do Sul.
(JC, 15/05/06)