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2006-05-15
Não muitos anos atrás, a energia nuclear era um fantasma para os ambientalistas, que temiam o potencial de acidentes catastróficos e a contaminação por radiação de longo prazo. Mas estamos numa nova era, dominada pelo medo da escassa oferta de energia e do aquecimento global. De repente, a energia nuclear ganha um aspecto melhor.

A indústria nuclear recentemente revelou dois novos líderes de sua campanha para estimular a construção de novos reatores. Eles são Christie Whitman, ex-administradora da Agência de Proteção Ambiental, e Patrick Moore, co-fundador do Greenpeace. Essa campanha é o mais recente sinal de que a energia nuclear está adquirindo uma recepção mais bem-quista de alguns ambientalistas que acabaram progredindo para preocupações maiores.

Na verdade, a maior parte das organizações ambientais permanece inflexivelmente contrária a qualquer expansão da energia nuclear e enxerga apenas a energia conservada e renovada como forma de nos tirar da era do combustível fóssil. Mas quando o ecologista James Lovelock – criador da teoria Gaia, que mantém que a Terra e todos os seus organismos se comportam como se fossem um sistema único de vida – encoraja seus colegas a abandonarem sua “oposição teimosa” à energia nuclear, fica claro que ramificações deste pensamento estão se desenvolvendo.

Há um bom motivo para conceder um aspecto novo à energia nuclear. Ela pode diversificar nossas fontes de energia com um combustível – o urânio – que é tanto abundante quanto barato. E o mais importante, a energia nuclear pode substituir as usinas de energia de combustível fóssil para a geração de eletricidade, reduzindo as emissões de dióxido de carbono que contribuem fortemente para o aquecimento nuclear. Isso poderia ser importante a grandes economias em desenvolvimento, como a da China e da Índia, que, de outra forma, contariam fortemente com a queima de grandes quantidades de carvão e petróleo.

Mas a energia nuclear não deveria receber passe livre em nossa frenética busca pela energia e segurança ambiental. Realizar qualquer abatimento real nas emissões de carbono poderá exigir a construção de muitas centenas ou até milhares de novas usinas nucleares por todo o mundo nas próximas décadas, uma tarefa bastante ambiciosa e repleta de desafios. Assim como especialidades e tecnologias nucleares se espalham pelo mundo todo, o risco de poderem ser usadas para a fabricação de bombas também é real.

Infelizmente, a administração Bush se enganou gravemente quando assinou um pacto nuclear com a Índia de enfraquecimento do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, a pedra fundamental dos esforços internacionais para a prevenção do alastramento de armas nucleares. Este acordo extraviado precisa ser repudiado pelo Senado dos Estados Unidos. Podemos apenas esperar que isso não enfraqueça um plano mais promissor do governo que é o de manter as tecnologias de produção de combustível mais perigosas fora de circulação, abastecendo nações em desenvolvimento com urânio e pegando as hastes de combustível usadas de volta.

Aí mora o problema irresoluto do que fazer com o lixo radioativo gerado pelas usinas nucleares. Muitas pessoas não querem ver uma ressurreição na energia nuclear sem alguma garantia de que o combustível usado pode ser tratado com segurança. Os empecilhos repetitivos do Departamento de Energia nos esforços de abrir um depósito subterrâneo em Yucca Mountain, em Nevada, não inspiram confiança, mas não há qualquer motivo por que as hastes de combustível usadas não possam ser armazenadas de forma segura em locais da superfície pelos próximos 50 ou 100 anos.

Mais problemática é a solução de longo-prazo do governo para a coleta do lixo. Ele quer reciclar o combustível utilizado em uma nova geração de reatores avançados, que usariam tecnologias ainda não-existentes, seguindo uma agenda que muitos especialistas consideram irreal. Sua atual abordagem deverá ser cara e deixaria o perigoso plutônio mais acessível aos terroristas. A energia nuclear possui um bom registro de segurança nos EUA, e seus custos, apesar de altos no início para a construção das usinas, estão se apresentando mais razoáveis agora que os preços dos combustíveis fósseis estão levantando vôo.

O quanto de impacto ela realmente poderá ter na diminuição das emissões de carbono ainda não se sabe, mas existe uma dúvida de que a energia nuclear poderia servir de uma poderosa e útil ponte a fontes mais saudáveis de energia.
(The New York Times, 13/05/06)
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