EBX traz risco ambiental, aponta parecer
2006-05-15
O Eia-Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) do projeto para a
instalação da siderúrgica EBX em Corumbá (400 km de Campo Grande, MS)
não especifica qual será a fonte do carvão vegetal a ser usado nos
fornos que processam a purificação do minério de ferro. Isso deverá
acelerar o processo de desmatamento no Pantanal.
A opinião é de Sônia Hess, pós-doutora em química e pesquisadora da
UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), após análise do
relatório. Ela emitiu parecer que auxilia as investigações dos Ministérios
Públicos Estadual e Federal. A pesquisadora afirma que a oferta de
carvão vegetal de áreas de reflorestamento em Mato Grosso do Sul não dá
conta do volume a ser consumido pela EBX, estimado pela empresa em cerca de
225 mil toneladas por ano.
Atualmente, a maior parte da produção de carvão é comercializada com
siderúrgicas no Estado e de Minas Gerais. Em novembro passado, a Folha
publicou reportagem em que revelou que carvoarias ilegais avançam para
dentro do Pantanal, derrubando a mata para transformá-la em carvão.
Segundo a ONG Conservation International, a vegetação de cerca de 16
mil km2 do Pantanal sul-mato-grossense havia sido desmatada até o ano
retrasado (dado mais atualizado). Pelo ritmo, a organização concluiu que
em 45 anos a cobertura florestal original da região terá desaparecido.
Outro problema no relatório apontado pela pesquisadora diz respeito à
poluição atmosférica e seus efeitos sobre a saúde humana, da fauna e
flora, numa área dentro do Pantanal. Ela afirma que a EBX não especificou
a quantidade de lançamento de óxidos de nitrogênio.
Falhas graves
Por último, Hess viu contradição em trechos que tratam do fornecimento
de água para a usina.
Um dos tópicos registra que sairá da perfuração de poços artesianos,
apesar de outro concluir que, "devido à pouca permeabilidade do solo
argiloso, não foi encontrado lençol freático único".
"Minha análise demonstra que o Rima contém falhas graves, que
inviabilizam uma real avaliação dos impactos ambientais e sociais associados à
implantação do empreendimento", concluiu a pesquisadora no seu parecer.
No início de abril, o governo boliviano proibiu uma outra siderúrgica
do grupo EBX, do empresário Eike Batista, de funcionar em Puerto
Quijarro (a 15 km de Corumbá).
O governo Evo Morales alegou que a empresa não tinha licença ambiental
e estava em território boliviano na faixa de 50 km da fronteira
-infringindo o artigo 25 da Constituição do país.
Isso desencadeou uma greve que paralisou parcial ou totalmente 16
cidades na fronteira entre Bolívia e Brasil contra a expulsão da siderúrgica
do vizinho e confronto entre favoráveis e contrários à decisão de
Morales.
A instalação de uma siderúrgica no lado brasileiro conta com o apoio do
governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, e do correligionário e
prefeito de Corumbá, Ruiter de Oliveira. Corumbá é a principal cidade
dentro do Pantanal sul-mato-grossense.
Há duas semanas houve a primeira audiência pública na cidade sobre o
processo para a concessão da licença de instalação da usina. Na ocasião,
ambientalistas disseram que foram hostilizados e que sofreram ameaças
de simpatizantes e defensores do projeto.
Empresa diz que plantará eucalipto para obter carvão
O diretor de administração da EBX, Adriano Vaz, rebateu as afirmações
de Sônia Hess e disse que as respostas para as questões que ela suscitou
foram apresentadas na audiência ocorrida há cerca de dez dias.
Declarou ainda que a versão do relatório analisada pela pesquisadora não é a
atualizada.
A respeito do carvão, ele disse que a empresa irá comprar de
fornecedores certificados no Estado. Ele declarou que a EBX terá condições de
fechar contratos de longo prazo com carvoeiros, o que deverá fazer com
que a produção que hoje é revertida para Minas Gerais fique em Mato
Grosso do Sul.
Ele afirmou também que o governo já sinalizou com a possibilidade de
forçar os carvoeiros a manter sua produção no Estado aumentando, por
exemplo, a alíquota do ICMS àqueles que optarem por continuar vendendo para
Minas Gerais. Vaz declarou que o plano da empresa é plantar eucalipto
na região dos municípios de Dois Irmãos do Buriti e Ribas do Rio Pardo
para conseguir, num prazo de 15 anos, produzir todo o carvão utilizado
pela siderúrgica.
Sobre a água, ele disse que foi encontrado um lençol freático a 150 m
de profundidade que é capaz de prover 40 m3 por hora, "mais do que
suficientes" para a empresa.
(Folha de S.Paulo, 14/05/06)