Greenpeace protesta contra inauguração de unidade de enriquecimento de urânio
2006-05-12
Uma semana após o 20° aniversário da tragédia da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, o Brasil inaugura unidade de enriquecimento de urânio. O Greenpeace protesta, afirmando que Programa Nuclear brasileiro é um pesadelo militar, herança radioativa e desperdício de dinheiro público. A inauguração da unidade de enriquecimento ocorre justamente no momento em que todo o mundo lamenta um saldo aproximado 200 mil mortes e centenas de milhares de vítimas, que tiveram que abandonar suas casas, perderam sua fonte de renda e ainda vivem em regiões contaminadas pela radiação, devido ao desastre de Chernobyl.
Segundo o Greenpeace, com custo altíssimo e motivação dúbia, o governo federal concretizou um velho sonho dos militares da ditadura da década de 70, desperdiçando recursos públicos para enriquecer urânio em escala industrial na Fábrica de Combustível Nuclear (FCN) das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende, Estado do Rio de Janeiro. Por esse processo, o urânio pode ser utilizado para a fabricação de combustível nuclear para as usinas de Angra, eventualmente para fins de exportação, conforme anunciado na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, em 2004, e deixa uma porta aberta para seu uso militar.
"Essa iniciativa do governo é extremamente preocupante, pois dá um sinal claro das intenções do governo de promover a tecnologia nuclear e levanta suspeitas da comunidade internacional sobre um potencial uso militar, como demonstra hoje a polêmica em relação ao programa iraniano. Além disso, a possibilidade do Brasil exportar urânio enriquecido vai diretamente contra o compromisso assumido pelo governo brasileiro, em 1997, com o Tratado de Não-Proliferação Nuclear", afirmou Guilherme Leonardi, coordenador da campanha antinuclear do Greenpeace Brasil.
Em março, a Câmara dos Deputados divulgou relatório apontando vários problemas graves na área de segurança nuclear no Brasil, como a contraditória duplicidade de funções da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que, ao mesmo tempo, incentiva e fiscaliza o setor. Outros problemas apontados foram falhas no plano de emergência das instalações nucleares; inexistência de fiscais e de normas de fiscalização e punição para irregularidades; tratamento improvisado para o lixo nuclear; e a falta de acesso público à informação.
Além do anúncio do enriquecimento de urânio, o governo ainda insiste na possibilidade de construir a usina nuclear Angra 3. Essa obra representaria um desperdício de dinheiro público de pelo menos mais R$ 7 bilhões. A energia nuclear é cara, suja, perigosa e ultrapassada, e o país deve parar imediatamente a aventura nuclear, utilizando fontes renováveis (como a eólica, a solar e a biomassa), que são limpas e seguras, juntamente com eficiência energética, declara o Greenpeace. "O governo brasileiro mostra sua total falta de compromisso com o desenvolvimento de uma matriz energética limpa e sustentável.", acrecentou Leonardi.
(Amauta, 11/05/06)
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