10% da soja do Mato Grosso já é transgênica
2006-05-12
No relatório recém-lançado pelo Greenpeace sobre o avanço da soja sobre a
floresta amazônica, há uma informação que, aparentemente, passou despercebida
pela maioria dos brasileiros. Dez por cento da soja que hoje cresce em solos
desmatados no Mato Grosso já é transgênica. E dentro da ilegalidade que marca
a produção do grão no Brasil, uma parte deste percentual está sendo plantada
em solo próximo à áreas de preservação permanente ou onde há a possibilidade
de serem criadas Unidades de Conservação, o que pelo menos em tese não é
permitido por lei.
Mas como o Ministério do Meio Ambiente (MMA) ainda não mapeou essas áreas, seu
“primo” de governo, o Ministério da Agricultura, anda distribuindo
autorizações para o plantio de soja transgênica no Mato Grosso, inclusive em
áreas dentro de regiões no estado que fazem parte de ecossistemas de floresta
amazônica. Mas o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, anda fazendo em
prol da soja transgênica bem mais que autorizar que suas sementes sejam
colocadas no solo de fazendas mato-grossenses.
Ele intermediou um acordo entre a Monsanto, o gigante agroquímico que é um dos
principais produtores de sementes transgênicas do mundo, para desenvolver uma
semente geneticamente modificada específica para brotar na região amazônica. O
trabalho está sendo levado à cabo num laboratório de pesquisa aberto no início
de 2003 pela Monsanto no município de Sorriso, Norte do Mato Grosso, que tem
servido de ponta de lança para a penetração do grão na região Norte do país.
Soja geneticamente modificada vem sendo plantada no estado desde antes da
inauguração do laboratório da Monsanto. Mas ela se expandiu depois de sua
instalação. Entre 2003 e 2004, diz o relatório do Greenpeace, 1 mil e 800
hectares de terra espalhados por 19 municípios do Mato Grosso foram plantados
com sementes de soja trasngênica. Nove deles se encontravam total ou
parcialmente dentro de áreas que pertencem ao ecossistema amazônico. Nos dois
anos seguintes, a presença da soja transgênica se estendia por 500 mil hectares
no estado.
Passivos futuros
Talvez ainda seja cedo para se dar um veredito definitivo sobre a presença de
plantas geneticamente modificadas no meio ambiente. Há evidências, entretanto,
que o seu plantio descontrolado pode gerar passivos ambientais graves. Na
Argentina, onde o plantio de soja trasngênica se faz sem quase nenhum tipo de
monitoramento pelas autoridades, segundo o relatório do Greenpeace, há
evidências de que o uso intensivo de agroquímicos que acompanha a plantação de
sementes modificadas está causando danos aos micro-organismos naturais do solo,
tornando-o improdutivo, e incentivando o surgimento de pragas resistentes aos
herbicidas.
Diante de fatos como esse, era de se supor que o governo brasileiro adotasse
comportamento mais cauteloso em relação à expansão no uso de transgênicos. Mas,
como mostra o avanço da soja transgênica no Mato Grosso, tudo indica que o país
resolveu mandar o princípio universal de precaução na introdução de novos
componentes no meio ambiente às favas.
(Manoel Francisco Brito, O Eco,
11/05/06)
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