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2006-05-12
O navio MY Arctic Sunrise, do Greenpeace, chegou ontem (11) a Santarém, depois de percorrer toda a costa brasileira e visitar a capital paraense, Belém, em campanha pela proteção da Amazônia. A chegada do barco é uma resposta pacífica ao agressivo movimento coordenado por produtores rurais, principalmente sojicultores, da região de Santarém contra a atuação e a presença do Greenpeace na Amazônia.

“A luta contra a destruição da floresta e do meio ambiente provocada pela expansão da cultura da soja não é apenas nossa, mas dos movimentos sociais do oeste do Pará. Estamos aqui para apoiar a luta deles”, disse Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia, do Greenpeace. “Nenhuma tentativa de intimidação nos fará recuar da luta em defesa da Amazônia e dos povos da floresta”.

Segundo Adário, a maciça série de ataques baseados em premissas falsas – como, por exemplo, a idéia de que a defesa do meio ambiente se opõe ao progresso – criou ótima oportunidade para um debate aprofundado sobre as opções de desenvolvimento adequadas ao oeste do Pará e à Amazônia. “Não pretendemos ter a receita para o desenvolvimento, mas contribuir para o debate das alternativas e da vocação da região”, observou.

O movimento contra o Greenpeace, que inclui a distribuição de milhares de adesivos para carros com a mensagem “Fora Greenpeace. A Amazônia é dos brasileiros”, além de camisetas, outdoors e pesados ataques via mídia local, teve início depois da prisão de grileiro que desmatou mais de 1,6 mil hectare em terras públicas na região. O ataque à organização ambientalista se intensificou com o lançamento do relatório “Comendo a Amazônia”, no início de abril, que revela como a floresta está sendo destruída para dar lugar à monocultura de soja, usada para alimentar animais na Europa e atender à demanda internacional por carne e proteína barata.

Nos últimos anos, a produção de soja no bioma Amazônia vem impulsionando o desmatamento ilegal, grilagem de terras e violência contra as comunidades locais. Áreas de comunidades tradicionais estão sendo substituídas por latifúndios altamente mecanizados e que empregam pouquíssimos trabalhadores. O uso de mão-de-obra escrava tem sido identificado pelo governo, principalmente na fase de desmatamento para a instalação de fazendas.

A presença da multinacional norte-americana Cargill em Santarém atraiu plantadores de soja de outras partes do país e intensificou a disputa pela terra e pelos recursos da região. O desmatamento anual nos municípios de Belterra e Santarém pulou de 15 mil para 28 mil hectares entre 2002 e 2004 com a chegada da soja (1). A Cargill comercializa a maioria da soja produzida na região, além de financiar a produção via crédito aos produtores para a compra de sementes, fertilizantes e agrotóxicos.

“São empresas como a Cargill que lucram com a destruição dos recursos naturais da região”, disse Adário. “A destruição provocada pela soja na Amazônia beneficia poucos fazendeiros – muitos deles de fora da região – e grandes empresas multinacionais. A grande maioria da população amazônica está mantida à margem do chamado desenvolvimento e do esperado progresso”.

“O Greenpeace defende um modelo de desenvolvimento responsável para a região do oeste paraense, que garanta a proteção do meio ambiente e da população, o desenvolvimento responsável que assegure qualidade de vida, segurança e justiça social, a regulamentação de áreas públicas, e a criação de áreas protegidas e de uso sustentável pelas comunidades locais. “O futuro da Amazônia está na floresta e no uso responsável de seus produtos e serviços, e não na soja, que gera desmatamento e injustiça social e deve ser banida do bioma Amazônia”, concluiu Adário.

Exposição Fotográfica Uma exposição com cerca de 35 fotos será montada no Mercadão 2000, em Santarém, retratando as belezas, as ameaças, os desafios e o trabalho do Greenpeace na Amazônia. A exposição estará aberta à visitação pública de quinta (11/05) a sábado (13/05), das 7h às 13h.

1. Relatório do Ibama sobre o desmatamento na região de Belterra e Santarém entre 1999 e 2004.
(Greenpeace Brasil, 10/05/06)

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