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2006-05-12
A usina nuclear vai permitir a redução de 7 milhões de m³/dia das importações de gás boliviano. Diante da crise deflagrada pela nacionalização das reservas de gás natural da Bolívia, a usina nuclear Angra 3 passou da condição de patinho feio para a de salvação do sistema elétrico nacional. O ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner Moreira, revelou ontem que o governo brasileiro não só já admite a viabilidade econômica da usina nuclear Angra 3, como já estuda as mudanças necessárias na legislação para permitir a comercialização da energia da geradora.

Interrompido desde 1992 por falta de recursos e vontade política de implementá-lo, o projeto, que prevê geração de 1,3 mil megawatts (MW), já demandou um aporte de US$ 750 milhões em recursos públicos. Sua implementação, no entanto, depende do desembolso de outros US$ 1,8 bilhão para sair do papel - basicamente para aquisição de equipamentos e serviços de engenharia.Hubner participou ontem do painel de abertura da Conferência "A energia e o desenvolvimento do Brasil, promovida no Rio pelo Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil e a revista Forbes. Também presente ao evento, o secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio de Janeiro, Wagner Victer, revelou que a entrada de Angra 3 permitirá uma redução de até 7 milhões de metros cúbicos por dia das importações de gás da Bolívia. Esse montante, segundo Victer, equivale a 30% do total atualmente importado.

Hubner não quis adiantar se a construção da usina contará com capital privado, mas revelou que sua viabilidade econômica ficou comprovada na última reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), ocorrida em abril. Segundo um dos presentes à reunião, que não quis se identificar, a própria chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que sempre se posicionou contrária ao projeto, admitiu a capitulação na disputa contra a usina.

O ministro interino informou que técnicos do Ministério de Minas e Energia e do Sistema Eletrobrás estudam apenas uma forma de comercializar a energia de Angra 3. Uma das possibilidade seria a realização de leilões ou o rateio de cotas-partes da carga gerada pela usina, à semelhança do que já ocorre com a energia gerada pela hidrelétrica de Itaipu Binacional. Isso porque Angra 3 gera sua energia de forma contínua, à 80% de sua capacidade. As termelétricas podem ser interrompidas de acordo com a disponibilidade do sistema, enquanto as hidrelétricas têm sua carga modulada de acordo com os reservatórios.

Segundo o diretor-presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, existe a possibilidade muito grande do projeto de Angra 3 ser aprovado na próxima reunião do CNPE). "Se vai decidir ou não, é política de governo, mas nós torcemos a favor". E faz parte do aprendizado saber que ficamos mais tranqüilos com fontes energéticas em nosso território", completou Pinheiro.

O preço da energia nuclear, antes considerado um empecilho ao desenvolvimento da geração de energia a partir da fissão do átomo, hoje joga a favor de Angra 3. Segundo Pinheiro, o aumento médio das tarifas nos recentes leilões vem demonstrando que o valor cobrado pela energia nuclear está em linha com a obtida nas usinas hidrelétricas e termelétricas a gás natural. "As centrais mais depreciadas já tiveram sua energia vendida. Portanto, o preço de mercado para novos empreendimentos tende a subir", avalia Pinheiro.

As tarifas obtidas no último leilão de energia, em dezembro do ano passado, já mostraram equilíbrio em relação à nuclear, diz o diretor-presidente. "A tarifa de Angra 3 já estava abaixo do valor da energia vendida no leilão", afirmou. "No próximo, não há dúvida de que estará muito mais baixa do que as tarifas vendidas", ressaltou.

O consultor Ronaldo Fabrício, ex-presidente da Eletronuclear, afirmou que um estudo identificou que o custo da energia térmica contratada no último leilão de novos empreendimentos energéticos, em dezembro, ficou em R$ 137/MWh, em média, sem levar em consideração a perspectiva de aumento do gás boliviano. A energia de Angra 3, por sua vez, seria comercializada a cerca de R$ 140/MWh, quando ficar pronta em 2012. A diferença, segundo Fabrício, pode ser considerada marginal, levando-se em consideração os benefícios como aumento da confiabilidade do abastecimento.
(Gazeta Mercantil, 11/05/06)

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