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2006-05-11
Por Altino Machado *
O verão já começou e o cenário começa a ficar pronto para o Acre virar novamente a sucursal do inferno durante a estiagem amazônica. Todos os dados metereológicos indicam que 2006 será igual ou pior do que foi em 2005, quando a população teve que usar máscaras e organizar protestos contra o desabastecimento de água, as queimadas e a fumaça.

- Nós vamos ter uma crise muito séria de queimada e fumaça. O balanço de 2005 indicou que existem 200 mil hectares de florestas nativas que foram afetadas pelo fogo e essa floresta está muito propícia a pegar fogo naturalmente, acidentalmente, ou porque as pessoas que são donas das áreas florestais vão tocar fogo. Creio que o verão vai ser muito duro, tanto do ponto de vista ambiental quanto político. Isso tudo vai gerar muita picuinha.

Esse é o ponto de vista do pesquisador acreano Evandro José Linhares Ferreira, doutor em botânica pela City University of New York e New York Botanical Garden (EUA), que desenvolve estudos nas áreas de sistemática e botânica econômica, com ênfase em palmeiras, para o Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre e Instituto de Pesquisas da Amazônia.

O jornalista Antonio Alves, do blog O Espírito da Coisa, teve a idéia de organizar a publicação de uma espécie de “caderno de questões acreanas” e me convidou para ajudá-lo nas entrevistas. O primeiro caderno envolve o esforço de tentar responder o seguinte: “o que fazer neste verão?”, em que discutimos os problemas da seca, das queimadas, do assoreamento dos rios etc.

Evandro Ferreira disse que a quantidade de focos de calor de 2005 foi quatro vezes maior quando comparada com 2004. Os estudos indicam que, no Acre, são queimadas anualmente 60 mil hectares de florestas nativas.

- Nós temos uma subestimativa de que existem 200 mil hectares de florestas nativas que foram afetadas pelo fogo no ano passado. Elas podem podem ser afetadas pelo fogo, em 2006, muito mais facilmente. Temos potencial para quadruplicar a quantida de área desmatada. São oito vezes mais a quantidade de focos de calor, isto mesmo se o Ibama ou Imac não autorizar um hectare de desmatamento.

O pesquisador assinalou que está se referindo apenas à área de floresta nativa, pois todos sabemos que anualmente, no Acre, o fogo pode afetar 300 mil hectares de pastagens e áreas de roçados, que já estão desmatadas.

- Então nós vamos ter novamente 500 mil hectares de áreas de florestas e de áreas sem florestas afetadas pelo fogo. As perspectivas não são boas. Temos uma situação anormal, causada pela grande seca do ano passado, da qual herdamos 200 mil hectares de florestas afetadas. Por mais que o governo se esforce, por mais que decrete que é proibido queimar e derrubar, mas se os 200 mil hectares de florestas pegar fogo, o governo vai encerrar seu período de poder tendo quadruplicado o desmatamento no Estado. É uma situação muito séria e alguma coisa precisa ser feita para mobilizar a sociedade em torno de uma campanha preventiva, que precisa começar agora - acrescenta Evandro Ferreira.

No post "Quem vir ver, verá", no qual existe uma entrevista em vídeo com Antonio Alves, o próprio Toinho deixou comentário sobre queimadas e fumaça no Acre.

-Fica, então, criada a força-tarefa encarregada de combater o "consentimento organizado".

* Altino Machado é jornalista, acreano, foi repórter dos jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo. Atualmente trabalha para a Secretaria de Comunicação do Governo da Floresta e edita o Blog do Altino, onde é possível assistir em vídeo a entrevista de Evandro Ferreira.

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