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2006-05-11
A água continua sendo um problema para milhares de famílias brasileiras, tanto seu excesso quanto sua escassez. As enchentes e a falta de água afligem inúmeros cidadãos que vivem na esperança de que chova para poder recolher um pouco de água na vasilha; ou apreensivos, prontos para escapar da próxima enchente.

Ambos os problemas podem ser resolvidos com a construção de pequenas barragens, que armazenam as águas das chuvas, levando-as de volta para os lençóis freáticos e permitindo o uso para consumo. Esta solução traz ainda outros benefícios, a comunidade ganha de volta a motivação e as condições para produzir, minizando os riscos de perder toda a produção.

O projeto de Captação de Águas Superficiais de Chuvas em Barraginhas, da Embrapa Milho e Sorgo, acabou com o problema da falta de água nas regiões onde chegaram as “barraginhas” – como são chamados os miniaçudes com cerca de 20 metros de largura e 2 metros de profundidade, que servem como contentores da água da chuva -, segundo o coordenador Luciano Cordoval, agrônomo que desenvolveu o projeto da Embrapa. “Nestas regiões como Cerrado mineiro, Centro e Noroeste, também no semi-árido do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha nos últimos dez anos, a água guardada no lençol freático virou fartura de água e alimentos”, diz. “Trouxe de volta o verde, as frutas, os pássaros, os animais, o ânimo, e a motivação daquela gente”.

Segundo ele, a palavra “caminhão-pipa” foi abolida do vocabulário no local, pois o sistema permite que os produtores tenham água em abundância mesmo nos períodos mais secos. “Ao proporcionar água farta e de boa qualidade, libertamos nosso país da imagem degradante da mulher buscando água com lata na cabeça, indo disputar com animais, uma água suja, que na realidade leva doenças para sua casa”, diz o pesquisador, referindo-se ao ganho social mais evidente da técnica. Com o acesso à água as famílias garantem uma maior segurança alimentar e ainda podem comercializar a produção excedente como forma de renda complementar.

A técnica mudou a relidade em Minas Gerais e agora parte para o Piauí. Desde o ano passado, são realizadas ações para que as barraginhas sejam implantadas no estado trazendo os mesmos benefícios. Em setembro de 2005, foi assinado um convênio em parceria entre o governo do Estado, a Fundação Banco do Brasil e a Embrapa, contando com a presença dos 12 prefeitos dos Municípios a serem contemplados com 3600 barraginhas, 300/município.

São realizados treinamentos com técnicos para que tenham condições de dar continuidade e possam atuar de forma autônoma e indepentente na implantação de novas barraginhas. Até o momento (de março à maio), já foram implantadas 1000 barraginhas no Piauí e até julho espera-se terminar as 3600 previstas.

Além de recuperar a motivação da população, que passa a ter acesso à água, as barraginhas têm papel importante na conservação do meio ambiente. “Recuperam áreas degradadas e interrompem o processo de erosões”, enumera Cordoval. “Elas elevam o lençol freático, umedecendo as baixadas férteis, favorecendo as lavouras e viabilizando a agricultura familiar”. A revitalização dos mananciais, nascentes e córregos também pode ser obsrvada com a implantação da técnica.

A implantação está condicionada às condições do local. Para que seja possível a captação das águas, além das chuvas, que são fundamentais, a topografia deve ser regular, com inclinação máxima de 10 a 12%, esclarece o pesquisador. Segundo ele, os solos porosos são os ideais, mas acima de 10mm/hora de taxa de infiltração já se torna possível. A conscientização da comunidade também é importante, na sua avaliação.

O regime irregular de chuvas está sendo contornado. A grande amplitude do projeto permite sua utilização tanto para a falta quanto para o excesso, podendo ser aplicado desde 500mm de chuvas a 1800mm. “Onde chove apenas 500mm pode acontecer de cair 50% de uma só vez em uma semana e ir tudo embora com as enchentes”, exemplifica Cordoval. “Se não estivermos com as barraginhas prontas, como dizem no Jequitinhonha, com as vasilhas, bacias, baldes, prevenidos para guardar as chuvas, perderemos toda uma riqueza.”
(AmbienteBrasil, 10/05/06)

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