“Galo Missioneiro” pede atenção ao impacto do eucalipto no Pampa
eucalipto no pampa
2006-05-10
Nascido em Bossoroca, município gaúcho da Região das Missões, com menos de oito mil habitantes (dai o apelido Galo Missioneiro), o ex-governador Olívio Dutra, assistia atentamente a palestra do engenheiro agrônomo Paulo Backes sobre o Pampa Gaúcho ontem a noite (9/5), na Livraria Cultura, em Porto Alegre.
Conhecido por cultuar as tradições e hábitos gauchescos, o também ex-ministro das Cidades do governo Lula prestigiou ao lado de sua mulher dona Judite, quase anonimamente, o encontro promovido pela ONG Fundação Gaia. Ao final da palestra, obrigou-se pela reportagem a opinar sobre os mega-projetos florestais em andamento no Rio Grande do Sul.
E não se fez de rogado. Afirmou que, desde quando governava o Rio Grande, mantinha conversas com o falecido ambientalista José Lutzenberger sobre a necessidade de preservar o Pampa enquanto ecossistema valioso e identificador da cultura gaúcha.
Dutra acredita que não se pode atribuir a uma só atividade a salvação econômica da Metade Sul do Estado. Candidato ao Piratini pelo Partido dos Trabalhadores, promete, que se eleito for, as três gigantes do setor de celulose (Aracruz, Votorantim Celulose e Papel e Stora Enso) terão de negociar com a sociedade uma melhor alternativa de desenvolvimento para a região. “Não pode ser oito ou oitenta, esta ou aquela verdade”, decreta.
Um dos fundadores do PT no Rio Grande do Sul, se diz muito preocupado com o avanço do eucalipto no Pampa, mas crê na evolução dos movimentos sociais e das entidades ambientalistas para ajudá-lo num entendimento sobre como conciliar os projetos das empresas, incluindo a possível instalação de fabricas de papel, com a preservação do meio ambiente. “São valores culturais, sociais e ambientais que não podem ser perdidos ou descaracterizados”, disse.
Exposição retrata belezas do Pampa
O engenheiro agrônomo Paulo Backes, discípulo orgulhoso de Lutz, apresentou à platéia sua exposição fotográfica “Paisagem Natural do Pampa”. Nela, Backes, que também é botânico, valoriza e destaca a importância do bioma, com fortes valores de identidades ambiental e cultural.
“O Pampa é meu pago”, disse ao abrir o encontro, se referindo ao fato de ter passado boa parte de sua infância em Santana do Livramento. “Meu objetivo foi o de conciliar o trabalho acadêmico com a fotografia para a população em geral”, destacou. E de fato, as lindíssimas imagens do Pampa no Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai merecem toda a atenção.
Backes concentrou sua palestra na explicação de suas fotos, falando sobre a flora, a formação e a importância histórica, social e cultural do Pampa. Sobre as plantações eucaliptianas, limitou-se a comentar a necessidade de se planejar os tais plantios. “Não se pode plantar eucaliptos em áreas nobres de pastagens”, exemplificou.
“O Pampa, comentou, tem hoje apenas 0,42% de sua área protegida”. Isto, no entanto, não significa que o restante de um total de 15 milhões de hectares esteja degradado. “Há muitos locais onde ele ainda permanece praticamente inalterado”.
Por Carlos Matsubara