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2006-05-10
A ignorância sobre os problemas da Amazônia brasileira leva a políticas baseadas em visões errôneas, afirma Tarcisio Feitosa da Silva, ganhador do Prêmio Ambiental Goldman 2006, por sua defesa em um conjunto de reservas amazônicas que formam o maior corredor ecológico tropical do mundo. A violência e os crimes ambientais impunes, as populações abandonadas à pobreza, a apropriação fraudulenta de terras públicas e o desmatamento são alguns dos flagelos que afetam essa região. O Prêmio Goldman, de US$ 125 mil, reconhece atuações ambientais destacadas em áreas de risco e é concedido anualmente a ativistas de seis regiões.

Feitosa recebeu o seu pela região da América do Sul e América Central. Com 35 anos, este ativista integra a Comissão Pastoral da Terra, que defende camponeses, e o Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônia e do Xingu, uma rede de 114 organizações não-governamentais. Minutos depois de retornar dos Estados Unidos, onde no dia 24 de abril recebeu o Prêmio, Feitosa conversou por telefone com o Terramérica. Fez isso de Altamira, cidade de 85 mil habitantes às margens do Rio Xingu, no norte da Amazônia, onde se criou e vive com a esposa e dois filhos, apesar das ameaças de morte que recebe.

-- Como surgiu sua vocação pelo ativismo ambiental?

-- Estava ligado às comunidades eclesiásticas de base quando, aos 15 ou 16 anos, fui convidado para trabalhar com indígenas. Isso me despertou o interesse pelos povos das florestas e uma compreensão crítica dos problemas ambientais na área agrícola da Amazônia, que desperta o apetite dos que querem substituir florestas por pecuária, soja e madeira. Meu compromisso com as comunidades se inspira no discurso e na prática do bispo Erwin Krautler (por mais de 30 anos trabalhando no Xingu) e outros ativistas locais defensores dos direitos humanos.

-- Qual o motivo de ganhar o Prêmio Goldman?

-- A história de luta do movimento social na bacia do Xingu. Estamos construindo o maior corredor ecológico do mundo, com um mosaico de 42 áreas de conservação integral, terras indígenas e unidades de desenvolvimento sustentável, somando 282.489 quilômetros quadrados (área equivalente a Costa Rica, Honduras e Nicarágua juntas). Na região enfrentamos várias ameaças: o agronegócio, a grilagem e a violência no Pará. Na última década, nesse Estado houve 722 assassinatos por conflitos agrários, praticamente sem punição para os assassinos.

-- A condenação dos autores do assassinato, no Pará, da freira norte-americana Dorothy Stang, em 12 de fevereiro de 2005, não mudou a situação?

-- Quase nada mudou. Houve medidas espetaculares, com presença do governo e do exército, mas sem continuidade. O caso de Stang foi uma exceção. Muitos assassinatos ocorridos há vários anos ainda continuam sem julgamento e os crimes continuam. O Poder Judiciário teria de dar o exemplo, mas não pune assassinos nem efetiva muitas multas por crimes ambientais. A criminalidade existente no Pará é enorme.

-- Como o Prêmio Goldman pode ajudar?

-- Gera visibilidade para a região, atrai os meios de comunicação e favorece o combate à violência e um melhor conhecimento da realidade local.

-- O mundo conhece a Amazônia pelo desmatamento e pela violência, mas qual é, para você, o maior problema local?

-- É o desconhecimento da diversidade de sua natureza e sua sociedade, que compreende indígenas, povos ribeirinhos, agricultores familiares, pescadores. Não se conhece a Amazônia vendo-a apenas via satélites. O governo, com uma visão do Sul e Sudeste do Brasil, aprova orçamentos com recursos para semear quando nossos agricultores já estão colhendo. É mais fácil obter créditos para a pecuária, a soja e o arroz do que para produtos locais, como castanha, açaí e pescado. Facilita-se o dinheiro para destruir as florestas e não para mantê-las em pé. O Pará é um grande produtor de energia, mas seu povo continua na miséria. Estudei na universidade até à luz de lampião, estando a 400 quilômetros da gigantesca hidrelétrica de Tucuruí, cuja luz chegou às cidades próximas há apenas quatro anos, e ainda falta chegar às comunidades rurais.

-- Há perspectivas de melhoria?

-- Apostamos muito no desenvolvimento local com as florestas em pé. Temos um projeto político de desenvolvimento e, passados 30 anos de abandono, há sinais de alguma atenção governamental. Conseguimos uma linha de transmissão de Tucuruí e a rodovia Transamazônica está transitável há um ano, mantida pelo governo. São avanços.
Por Mario Osava, Terramérica.net.

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