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2006-05-10
Por Laércio Bruno Filho * Os mecanismos do protocolo de Quioto para mitigação das emissões de gases do efeito estufa são uma resposta tímida ao enfrentamento da questão, mas constituem uma oportunidade de negócio que tem sido utilizada de maneira ainda pouco proveitosa: trata-se da possibilidade de comercializar créditos de carbono, mediante a elaboração de projetos que possibilitem reduzir as emissões daqueles gases.

Um dos segmentos no Brasil com grande potencial para o desenvolvimento de negócios relativos aos créditos de carbono é a pecuária, que se constitui em significativa fonte de emissão de gás metano, que contribui para o efeito estufa. Embora a sua ocorrência na atmosfera seja menor do que a de dióxido de carbono, seu poder de aquecimento é cerca de 21 vezes maior. O gado emite metano naturalmente pela respiração, como subproduto da cadeia de seu processo digestivo. “Considerando-se que o Brasil possui um rebanho de cerca 195 milhões de bovinos (dados de 2004, fonte ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), as oportunidades de projetos são grandes. É esta peculiaridade que torna o mercado de crédito carbono uma opção interessante para os produtores rurais que trabalham com o gado em sistema de confino.

Assim, os projetos relativos ao setor encaixam-se perfeitamente no perfil dos que têm sido validados pelas Entidades Operacionais Designadas (DOE). O importante é que esses projetos sejam realizados da maneira correta, para que não esbarrem em um dos problemas que têm limitado a evolução do mercado de créditos de carbono: o volume de novas metodologias aprovadas representa menos de 20% do total submetido (mais de 130 apresentadas e pouco mais de 23 aprovadas). As elevadas taxas de insucesso estão levando a uma pausa para reflexão por parte dos proponentes de novos projetos, sobre como superar as principais limitações identificadas.

Tornou-se necessário aprofundar o mecanismo “learning by doing” (aprender fazendo), porque todas as partes envolvidas participam deste aprendizado pela ação e deveriam encarar seus próprios erros e, principalmente, os alheios como um processo natural de melhoria contínua. A exacerbação de espíritos no mercado nacional do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) respinga nas instituições internacionais e prejudica principalmente as empresas, consultores e membros do governo brasileiro.

O que se faz necessário é democratizar o acesso à informação – é impressionante que alguns dos proponentes de projetos ainda desconheça as informações disponíveis no portal das Nações Unidas (www.unfccc.int) -, promovendo de maneira isenta o debate entre as partes, para que nossos projetos tenham mais qualidade em vista da evolução lenta, porém contínua experimentada neste processo por países e empresas. Projetos MDL não deveriam ser um fim em si mesmos. A gestão integrada de emissões atmosféricas de gases do efeito estufa e poluentes regulados é um tema de maior alcance do que os mecanismos de Quioto (CDM e JI) e constitui um caminho natural para grandes empresas preocupadas com a governança corporativa.

Esta gestão é composta por um conjunto de ações que pode ser sistematizado em três blocos de trabalho: diagnóstico corporativo, composto pela elaboração do inventário de emissões e atribuição de responsabilidades internas (accountability); comunicação das emissões de acordo com padrões internacionais, para obtenção do reconhecimento dos valores informados por organismos oficiais nacionais e internacionais; gerenciamento das emissões com identificação de oportunidades de redução, implantação de metas de redução e participação dos mercados em que reduções de emissão significam valor (MDL - ONU, CCx – Chicago Climate Exchange, Sistema de Compensação de emissões de poluentes do Estado de São Paulo).

A gestão integrada das emissões atmosféricas pode transformar-se em muito mais do que um bom negócio para o setor da pecuária e muitos outros segmentos. Receitas advindas de ações de eficiência energética, mitigação das emissões de poluentes regulados e projetos MDL podem multiplicar ganhos e agregar benefícios intangíveis, como maior reconhecimento/preferência da marca, redução de riscos sociais, a satisfação dos chamados “stakeholders” e engordar, além dos bois, também o lucro.
*Laércio Bruno Filho é especialista em Mudanças Climáticas da ERM Brasil (Environmental Resources Management).

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