A crise com a vizinha Bolívia estimula o debate e o incentivo sobre alternativas brasileiras de suprimento de energia elétrica, dentre elas a eólica, segundo aponta o presidente da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs), o engenheiro Newton Quites. De acordo com ele, embora seja caro obter eletricidade através dos ventos, quando comparado a outras formas, como o próprio gás, "é uma boa solução como alternativa, e o Estado tem capacidade para isso". Além de Osório e Tramandaí, há condições de empreendimentos em Mostardas e Santa Vitória do Palmar, no Litoral Sul do Estado.
Em 2002, o governo do Rio Grande do Sul, através da Secretaria de Minas e Energia concluiu um mapeamento completo dos ventos em todo seu território. Nele constam as regiões e suas respectivas medições de ventos, citando locais favoráveis à obtenção desta energia, como, por exemplo, "a região de Mostardas, que tem índices ideais de patamares de ventos", aponta o engenheiro. Neste mesmo ano, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná, dentre outros Estados, também lançaram estudo sobre a viabilidade eólica de suas regiões.
Quites antecipa que o Estado enfrentará problemas de abastecimento em virtude do aumento do custo do gás decorrente da nacionalização do produto na Bolívia. Ele vê problemas também com o gás argentino importado pelo Brasil. "O abastecimento é apenas para Uruguaiana, cidade próxima à Argentina". Além disso, as obras para implantar o gasoduto estão interrompidas e são aproximadamente 520 km para transportar gás de Buenos Aires até Porto Alegre, o que torna quase que inviável esse recurso.
Alternativa apropriada
O impacto socioambiental causado pelas matrizes enérgicas tradicionais, somado ao aumento da demanda, assim como a escassez dos recursos fósseis levam os brasileiros a seguir uma tendência mundial em fontes alternativas de energia. Segundo o presidente da Sergs, investir em hidrelétricas, por exemplo, não seria apropriado para o Rio Grande do Sul, já que os gaúchos sofrem constantemente com a seca. Hoje, por exemplo, mais de 60 municípios do interior gaúcho já decretaram situação de emergência devido à ausência de chuvas.
A solução, portanto, seria produzir energia através dos ventos. O capital poderia vir da Alemanha, Espanha ou Turquia – países com potencial para investir no Brasil.
A professora Eliane A. F. Amaral Fadigas, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétrica da Escola Politécnica da USP, também defende mais investimentos em energia eólica e afirma que até 2008 o governo federal pretende dispor de uma capacidade instalada de 1.100 MW. "É uma energia renovável e limpa. Por ser um pouco mais cara que as energias convencionais, depende de maiores incentivos para que haja viabilidade econômica". Para a professora, que ministra a cadeira Energia, Meio Ambiente e Sustentabilidade, o problema pode ser resolvido com uma economia de escala, o que diminuiria os custos das implantações.
Sobre a possibilidade de estes futuros projetos eólicos fazerem parte do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas do Governo Federal (Proinfa), Newton Quites comenta haver grandes chances, já que está previsto para 2007 o Proinfa 2, que será mediante licitações e análise técnica. O Proinfa 1, que vigora atualmente e foi lançado pelo Governo Federal em 2002, escolhe aqueles projetos que apresentarem primeiramente o menor preço.
Conforme Eliane Fadigas, o programa federal contempla três modalidades de fontes alternativas: "são investimentos em usinas eólicas, pequenas centrais hidrelétricas e centrais termelétricas movidas à biomassa". Hoje, ressalta a professora da Poli, há um aumento nos incentivos eólicos devido à ausência de outros projetos alternativos.
Quites reconhece um possível fator limitante para a implantação desta alternativa: o fato de o país não ter fabricação própria de turbinas eólicas. "Elas são todas importadas. Temos apenas a Wobben Wind Power, de capital alemão, instalada em Sorocaba, no interior de São Paulo, onde há produção de pás para os geradores", confirma.
Energia em alta no mundo
A Feira Industrial de Hannover, realizada na última semana de abril, projetou que a capacidade instalada da energia obtida através dos ventos deve dobrar em três anos no mundo. Quem está caminhando a passos largos neste campo são os Estados Unidos, que vêm implantando parques eólicos em grande escala, comenta Newton Quites. China e Índia também estão aumentando suas instalações. A Alemanha, por outro lado, começou a reduzir sua participação, principalmente pela falta de capital financeiro das pequenas e médias empresas.
O Brasil, que possui atualmente cerca de 30 MW instalados em turbinas eólicas está entre os 30 primeiros no ranking mundial. Com a entrada em operação da usina de Osório, prevista para 2007, serão acrescentados outros 150 MW. "Com a ajuda do Proinfa podemos ficar entre os 10 primeiros até 2008", diz a professora da Poli.
Energia Offshore
Na Dinamarca, onde o poder do vento cobre aproximadamente 20% do consumo total da eletricidade (segundo dados de novembro de 2004 da Naturlig Energi), as turbinas eólicas estão sendo instaladas dentro do mar, prática conhecida como
offshore. De acordo com a empresa dinamarquesa
Vestas, que produz, vende, e faz a manutenção das turbinas eólicas, embora o poder Onshore (turbinas instaladas na terra) do vento continue crescendo, já há alguns limites que podem ser observados. Dentre eles a dificuldade de se encontrar espaços livres dentro de áreas povoadas. Soma-se a isso outro benefício do mar na aquisição de "energia verde": propiciar ventos mais fortes do que na terra.
Eliane Fadigas afirma que o Brasil ainda não cogita a possibilidade de instalar plantas offshore. "Ainda somos incipientes. Precisamos estudar melhor a capacidade dos ventos no mar". Ela acrescenta outro fator limitante: o preço. "É mais caro investir em energia no mar, quando comparado ao que necessitamos para as plantas Onshore", finaliza.
Por Tatiana Feldens