AIEA supervisiona uma usina brasileira de enriquecimento de urânio
2006-05-10
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou nesta terça-feira a implementação de medidas de controle na usina de enriquecimento de urânio em Resende, sul do Rio de Janeiro. "Foram acertadas medidas de salvaguarda para adequar a atividade da usina aos requerimentos da agência, que exige que se use material nuclear para fins pacíficos", informou, em Viena, o porta-voz da AIEA, Marc Vidricaire.
Na sexta-feira passada, o Brasil inaugurou, em cerimônia oficial, as primeiras instalações de sua usina de enriquecimento de urânio, para utilização em seus reatores civis. O urânio pode ser usado para criar combustível para uma central nuclear ou como material físsil de uma bomba atômica.
Enquanto a AIEA exige que o Irã suspenda as atividades de enriquecimento como garantia de que o país não está desenvolvendo a bomba atômica em segredo, a entidade considera que não existem suspeitas quanto às intenções do Brasil.
Indagado quanto a esta diferença de tratamento, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, comentou em fevereiro passado: "Acho que a diferença no que diz respeito ao Brasil e ao Irã é a confiança".
Tanto Brasil como Irã são signatários do Tratado de Não-Proliferação (TNP) nuclear e ambos enriquecem urânio - o Brasil para seus reatores, dois já existentes e um terceiro em construção, e o Irã para seus futuros instrumentos.
O urânio enriquecido em Resende deve cobrir 60% das necessidades das usinas de Angra I e Angra II, que produzem 40% da energia consumida pelo Rio de Janeiro e que representam 4,3% em todo o país. O Brasil conta com uma das maiores reservas de urânio, mas até agora o importava de países estrangeiros.
Em 2004, o governo brasileiro negou aos inspetores da AIEA o acesso à usina de Resende devido a negócios comerciais secretos que não queria compartilhar por temor de que os competidores se apoderassem de seus avanços tecnológicos em centrífugas. Agora, AIEA se mostra satisfeita ao considerar que goza de acesso suficiente para realizar suas tarefas de vigilância, afirmou Vidricaire.
(Correio Braziliense, 09/05/06)