Agricultura: municípios do Vale do Taquari sinalizam recuperação
2006-05-10
Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Fontoura Xavier, Pouso Novo e Roca Sales são os únicos municípios do Vale do Taquari - de um total de 37 cidades - a decretar situação de emergência por estiagem em 2006. Os dados têm como base o último levantamento realizado ontem pela Defesa Civil do Estado.
A situação se apresenta de forma menos preocupante esse ano. Em 2005 praticamente todos os municípios do Vale se encontravam em situação de emergência. Em nível estadual, dos 496, 447 estavam em alerta.
A distribuição irregular das chuvas predominou em 2006, fazendo com que a falta de água se concentrasse em algumas regiões. O agrônomo do escritório regional da Emater/RS-Ascar (Estrela), Nilo Cortez, diz que no Vale se verificam duas situações opostas em relação à escassez de água. Ele explica que ao mesmo tempo que o cultivo de grãos é beneficiado com a seca - pois o excesso de umidade não favorece o desenvolvimento do grão (milho e soja) - o plantio das pastagens de outono-inverno é prejudicado com a seca do solo. "Em março o índice pluviométrico na região foi de 50 milímetros, ficando bem abaixo do normal, entre 120 e 139 milímetros", ressalta o agrônomo. A preocupação, segundo Cortez, se concentra no comportamento do tempo nos próximos meses. As pancadas de chuva que vêm ocorrendo não são suficientes para a ocorrência de lavouras cheias.
Mesmo a situação sendo menos problemática que a de 2005, a estiagem já levou alguns agricultores a utilizar antecipadamente as reservas de pastagens que alimentam o gado leiteiro.
A situação dos cinco municípios do Vale do Taquari em situação de emergência de um modo geral é menos grave que no ano passado. Entretanto, Cruzeiro do Sul e Fontoura Xavier são os mais prejudicados.
Seca de 2005 pode se refletir no ICMS do próximo ano
O retorno de imposto gerado para os municípios que têm como base econômica a agricultura tende a ser menor em 2007, quando a movimentação financeira de 2005 repercute nos caixas das prefeituras. A afirmação é do assessor da Agricultura da Federação das Associações dos Municípios do RS (Famurs), João Bogorni. As reivindicações das cidades referentes à seca de 2005 ainda não foram atendidas pelos governos estadual e federal. Este ano a Região Sul do Estado foi a mais atingida pela estiagem.
Agricultora está confiante
Os mais de 4,5 hactares de terra cultivada na propriedade da família Etgeton, no Bairro Olarias, estão em fase de recuperação. O processo ocorre de forma lenta, mas é animador para essas pessoas que desde 2005 enfrentam as conseqüências da seca. A agricultora Lusane Ineiva Etgeton (40) está confiante.
"O que está perdido não tem volta. As folhosas estão prejudicadas e os reservatórios de água estão com nível baixo." Entretanto, as culturas estão se recuperando mesmo com as chuvas irregulares. Hoje a família retomou atividades de distribuição de produtos para supermercados, fruteiras, restaurantes e Hortovale. Lusane ainda integra a Feira do Produtor em Lajeado, duas vezes na semana, acompanhada da filha Sharon (8).
Previsão de menos chuvas no inverno preocupa
O mês de abril teve chuvas abaixo da média climatológica - (metade do normal. A técnica do Centro de Informações Hidrometeorológicas (CIH) da Univates, Grasiela Cristina Both, explica que por enquanto as previsões até julho são de poucas chuvas, pois as frentes frias terão uma passagem mais rápida pelo Estado. "Esse sistema gera poucas chuvas para a Região Norte do Estado, e ainda mal distribuídas." Com relação às temperaturas permanece a tendência de frio intenso, com marcas abaixo da média para o inverno.
O déficit hídrico é de 750 milímetros na região. A informação se refere a Lajeado, pois conforme esclarece a técnica, em algumas áreas a situação é mais crítica ou até melhor.
Para recuperar esse déficit, que persiste nos últimos três anos, precisaria chover os mesmos 750 milímetros. "Isso significa que é necessário que a precipitação no Vale permaneça dentro da média climatológica até o final do ano." A média anual é 1,6 mil milímetros. Entretanto Grasiela adianta que é difícil que isso se confirme, pois a há previsão de poucas chuvas para este inverno.
Fontoura Xavier
O município que decretou situação de emergência no dia 25 de abril enfrenta a falta de água inclusive para consumo humano. O secretário de Agricultura João Maciel Pedroso explica que dois fatores tornam a situação difícil: o fato de o município ter uma das maiores extensões territoriais do Vale do Taquari - o que propicia a maior irregularidade de chuvas -, e a atividade rural representar 80% das desenvolvidas em Fontoura Xavier.
"A estiagem este ano se apresenta pior que em 2005, pois estamos com falta de água. O volume dos últimos meses não foi suficiente para recuperar as lavouras", avalia. Ele salienta que o município ainda não recebeu ajuda do governo do Estado. A quebra na produção é maior no cultivo de feijão (60%), seguido por milho (45%) e soja (40%).
No interior de Fontoura Xavier a escassez de água preocupa mais. Para amenizar a situação das famílias, a Administração está providenciando a abertura de bebedouros para animais e de fontes para captação de água em áreas mais críticas. O secretário explica que a construção das fontes é simples, com tubo e pedra-ferro ao redor.
Roca Sales
No interior de Roca Sales as chuvas do último mês não foram suficientes para reverter o quadro da estiagem. O transporte de água para dez ou 15 propriedades não pode ser evitado. O secretário de Agricultura Arli Volken salienta que os agricultores estão bastante desanimados com os preços baixos de compra de seus produtos. Entretanto alguns setores da agricultura estão em fase de recuperação.
"As pastagens para alimentar o gado leiteiro (silagem) estão com maior qualidade agora." As perdas no município são mais significativas nos cultivos da soja e pastagens - ambos 80%. Outros, como milho e feijão, apresentaram queda de 65% e 30%, respectivamente.
Cruzeiro do Sul
Em Cruzeiro do Sul, um dos municípios que mais sofre com a seca no Vale do Taquari, a falta de água é um problema constante. A Secretaria de Obras informou ontem que em visita ao interior foi detectado que a maioria dos poços artesianos, fonte de água para o consumo humano, está muito abaixo do nível normal. O secretário de Agricultura Humberto Persch afirma que a situação no interior é mais grave. Além da estiagem, 70 famílias ainda não dipõem de água encanada, o que está sendo solucionado. Os cultivos de milho, soja e aipim são os mais prejudicados. Algumas comunidades interioranas já receberam socorro pela falta de água.
Arroio do Meio
Em Arroio do Meio a inconstância das chuvas leva a Secretaria de Agricultura a atender a população conforme o comportamento do tempo. O titular da pasta, André Rupenthal, explica que as chuvas estão favorecendo as pastagens. Entretanto, para irrigar as lavouras ainda é necessário, em alguns casos, abastecer propriedades com cargas de água.
Conforme a Emater/RS-Ascar de Arroio do Meio, em reunião semana passada a Comissão Municipal da Estatística de Agropecuária apresentou previsão parcial das perdas da agricultura do município: milho (52,34%) e soja (40%).
Pouso Novo
Pouso Novo, o último município do Vale do Taquari a decretar situação de emergência por estiagem, observa sensível melhora no que se refere ao déficit hídrico. O secretário de Agricultura Jovani Nardino explica que o volume de água no solo ainda está abaixo do normal, porém a recuperação das lavouras é evidente.
(O Informativo do Vale, 10/05/06)