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2006-05-09
Os agricultores da região vivem um momento de apreensão em relação ao clima. Se não chover nos próximos dias, as lavouras serão seriamente afetadas. A estiagem já começa a apresentar resultados negativos e atinge, principalmente, os cítricos que tiveram uma queda de 25% na qualidade. A produção de leite, com a redução de pastagens, de hortifruti-granjeiros e da acácia negra também sofrem. A situação se agrava com a chegada do frio e os produtores rezam para que não ocorram geadas.

O chefe do escritório da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) em Montenegro, João Carlos Kuhn, afirma que a situação já pode ser considerada estiagem. Segundo o órgão, em abril choveu apenas 11 milímetros na região, muito abaixo dos 135 que costumam cair nesta época. Kuhn revela que a situação é recorrente, pois o solo ainda não se recuperou do impacto das estiagens de 2004 e 2005.

Apesar do frio ser decisivo para a cultura de cítricos, pois é no inverno que essas frutas ganham cor e amadurecem, a combinação com a seca pode ser fatal. O técnico agrícola diz que uma geada agora queimaria os brotos. Ele não sabe precisar em quanto, mas dá certeza que se continuar assim haverá quebra na safra. "Com certeza vai cair, mas não se sabe ainda o quanto", lamenta.

Em busca de ajuda

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Montenegro, Pedro Alfredo Vogt, reitera que os prejuízos já começam a ser sentidos e a citricultura e a produção de leite são as mais atingidas. Ele explica que o frio caindo sobre as pastagens secas deverá queimar as ervas que serviriam de alimento ao gado. Outra cultura atingida, segundo ele, é a acácia. O frio e a seca soltam as cascas das árvores.

A queda na qualidade dos citrus é sentida na hora da comercialização. Vogt revelou que a venda na Central e Abastecimentos (Ceasa) não passa de 30 caixas por agricultor em um dia, quando o normal é 150. "Tive contato com agricultores que estão muito desanimados", afirma, dizendo que se não chover agora a safra da bergamota pareci será muito comprometida.

A mobilização agora é pela renegociação das dívidas com os bancos e governos estadual e federal. No dia 14, acontecerá uma marcha a Brasília com mais de mais de 100 agricultores gaúchos que irão até o Ministério da Agricultura. Eles pedirão aumento no prazo de carência dos empréstimos de custeio. No entanto, Vogt lembra que, para haver alteração nos contratos do Pronaf, é preciso que a prefeitura decrete "estado de emergência".

Martírio no campo

A Emater recebe diariamente queixas referentes os efeitos do terceiro ano consecutivo de poucas chuvas. O casal Carlos e Gessi Kauer estiveram no órgão ontem e encaminharam os papéis para mais um empréstimo do Pronaf. Seus planos são de comprar três vacas e diversificar as culturas, apesar da esposa dizer que a produção de leite também já começou a cair. Porém, a bergamota plantada em suas terras parou de crescer e, com o frio, amadurecerá pequena. Ele teme pelos prejuízos. Por isso, torce por uma única chuva continua e demorada para recuperar a plantação, mas tem de ser agora. "Tem que esperar a chuva, se não estamos com os pomares com o pé na cova", lamenta o agricultor.

Orgânicos estão tranqüilos

Quem ainda não sentiu os efeitos da estiagem são os agricultores da Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus). Conforme o engenheiro agrônomo Eduardo Abib, ainda não houve manifestos de preocupação. No entanto, revela a incidência da mosca-das-frutas, inseto que aparece quando há pouca chuva. Essas disfunções, segundo ele, são reflexos claros da ação do homem e aponta, inclusive, o desmatamento da floresta amazônica como uma causa. O fato das lavouras orgânicas ainda não terem sucumbido, segundo Abib, tem haver com o manejo orgânico dos solos, com uso de adubos naturais, que aumenta a capacidade de retenção de água no solo.

Não é caso de Emergência

A prefeitura de Montene-gro não vê motivos para decretar estado de emergência. A informação foi dada pelo secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Renato Antônio Kranz. Ele afirma não haver elementos suficientes para caracterizar uma seca. Para fazer a declaração, segundo ele, é preciso ser visível um prejuízo nas culturas típicas da região. Ainda, lembrou a situação vivida nos outros anos, no verão. Ele admite que há prejuízos, mas são menores e garante que não tem recebido muitas queixas de produtores.

Kranz concorda, no entanto, que a situação possa mudar a partir da próxima segunda-feira, quando ocorre uma reunião com o Conselho de Desenvolvimento Rural. Ele lembra que, em 2005, a prefeitura fez um grande investimento na recuperação do setor. Segundo ele, foram investidos mais de R$ 100.000,00 na abertura e limpeza de açudes, e que tem dados resultados ainda neste ano.
(Jornal O Ibiá, 08/05/06)

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