Agricultores estudam o cultivo de mamona
2006-05-09
Primeiro veio a pecuária. Depois, o arroz. O fumo também ganhou força.
Anuncia-se agora o desembarque maciço do florestamento. A Metade Sul sempre foi
assim, com tendência para a monocultura.
Mas com o anúncio da instalação da empresa Brasil Ecodiesel no município de
Rosário do Sul, os agricultores - principalmente os pequenos, ganham uma
alternativa para diversificar a lavoura. Reuniões foram agendadas com
trabalhadores rurais da região para incentivar o cultivo da mamona,
matéria-prima que será utilizada pela fábrica. A planta foi escolhida após três
anos de pesquisas da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas.
A deputada estadual Miriam Marroni (PT) organiza os encontros, um total de 42
em quase 30 municípios, como articuladora do Programa Federal de Biodiesel na
Metade Sul. E Canguçu, reconhecida como a capital nacional da agricultura
familiar, tem grande potencial para difundir a nova atividade.
- Depois de muitos meses de conversas, temos uma definição - garante a deputada.
Alguns participantes saíram convencidos do encontro realizado na comunidade do
Passo do Saraiva, interior de Canguçu. Entre eles Odair Rogério dos Santos
Borges, 26 anos, que pretende implantar uma alternativa ao fumo na propriedade
de 10 hectares, onde também cultiva milho e feijão. Opinião corroborada pelo
amigo Aldo Elert.
- É uma chance de mudar de cultura. Há 15 anos planto fumo, quase trabalho de
graça, sempre com a preocupação de fazer contas, sem dormir - justifica Elert.
O Programa Federal de Biodiesel, instituído pelo governo federal, tem dois
pilares de convencimento fortes nas comunidades do interior: plantio em pequenas
quantidades e compra garantida da produção. Uma maneira de evitar o surgimento
de uma nova monocultura.
Limite será de dois hectares por produtor
A meta da Brasil Ecodiesel, que deve inaugurar a fábrica de Rosário do Sul em
dezembro deste ano, é cultivar mamona em 70 mil hectares gaúchos. Com o limite
de dois hectares estabelecido pelo governo federal por produtor, o programa vai
abranger, no Estado, 35 mil pequenos agricultores. O investimento da empresa
deve beirar os R$ 20 milhões, com produção anual estimada em 100 milhões de
litros de biodiesel.
Observada em profusão nos terrenos baldios, a mamona é uma planta resistente e
de cultivo fácil. Além disso, os termos do programa federal agradam aos
produtores - as empresas que adquirirem de pequenos agricultores pelo menos 30%
do total da produção receberão incentivos fiscais do governo, com a compra
garantida no contrato de adesão.
- Defendemos alternativas renováveis e sustentáveis para o ambiente - explica
Cléu de Aquino Ferreira, presidente da União das Associações Comunitárias do
Interior de Canguçu (Unaic), responsável pela mobilização dos agricultores nas
palestras.
(ZH, 09/05/06)