Antes de comer a Amazônia, reflitamos: há razões plausíveis – Artigo
2006-05-08
Por Luciana Di Ciero *
A polêmica em torno do avanço do cultivo da soja na floresta amazônica e no cerrado brasileiro é motivo de discussão e pesquisa de cientistas, de ONGs, de empresas e do próprio governo. O assunto ocupa um espaço importante na agenda positiva dos temas sociais brasileiros.
Por essa razão, é bom esclarecer a população. Iludi-la com manchetes enganosas ou até mesmo culpar o cidadão comum pela devastação da Amazônia não constrói, não ajuda a formar cidadãos. Um exemplo claro dessa situação é o relatório "Comendo a Amazônia", divulgado pelo Greenpeace, que responsabiliza empresas e o cidadão que gosta de comer nuggets de frango pela devastação da região.
O documento traz denúncias, mas não informa, não apresenta dados que auxiliem o leitor a chegar a uma conclusão sobre o assunto. O desmatamento está aumentando na região amazônica em razão do plantio da soja? Em que localidades? Por quais razões? O relatório não consegue responder.
Em dezembro de 2005, o Ministério do Meio Ambiente anunciou que o desmatamento na Amazônia regrediu. O índice para o período 2004-2005 teve uma queda de 31%. A área desmatada foi reduzida de 27.200 km² para 18.900 km². Os dados do ministério, que têm como base levantamentos de satélite feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontam que houve uma queda acentuada em todos os estados da região amazônica, com redução expressiva do desmatamento nas áreas próximas à rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163).
No início de 2005, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou o estudo "Crescimento Agrícola no Período 1999-2004 – Explosão da Área Plantada com Soja e Meio Ambiente no Brasil", que revela que a expansão nos últimos três anos das áreas cultivadas com soja, que cresce a média anual de 13,8%, não provocou o aumento do desmatamento da floresta amazônica nem do cerrado.
O receio de que a expansão agrícola da soja possa ameaçar a floresta amazônica é infundado e gera resistência à melhoria da infra-estrutura de acesso às áreas envolvendo a floresta, como o asfaltamento da BR-163, que, além de viabilizar a cultura da soja, colaborará para que a política de preservação ambiental proposta pelo governo se torne mais eficiente, pois indiretamente contribuirá para a eliminação dos fatores que realmente provocam o desmatamento da região: a agricultura itinerante, de baixo nível tecnológico, que emprega o fogo para abertura de áreas; a extração irracional de madeira; e a atividade pecuária de baixo nível técnico e destruidora dos recursos naturais. * Luciana Di Ciero é agrônoma e vice-presidente da Pró-Terra – Associação Brasileira de Tecnologia, Meio Ambiente e Agronegócios.
(GM, 08/05/06)